Por Odemirton Filho
O amor não se mensura. Não há balança para pesá-lo; não há régua para medi-lo. Apenas sente-se, vive-se, ama-se. Sentimos amor pelos nossos pais, e lembramos de tempos idos, de momentos à mesa, nos quais compartilhávamos sorrisos, tristezas, alegrias, aventuras e desventuras.
Da nossa infância, amamos alguém de nossa convivência diária, como os amigos, uma professora dos tempos do colégio, um animal de estimação.
Na juventude, o amor do primeiro namoro, misturado ao fogo incontrolável da paixão; são os arroubos da adolescência de mãos dadas com a inexperiência da vida.
Depois, na vida adulta, encontramos alguém para preencher os nossos dias e almejamos construir uma vida a dois. Nem sempre dá certo, é claro. Entretanto, tenta-se, recomeça-se, insiste-se.
Às vezes, curte-se a própria companhia, cultivando-se o amor-próprio, o qual pode ser definido como “o amor a si mesmo ou o respeito pela própria felicidade ou vantagem”.
Todavia, de repente, chegam os filhos. Passamos a conhecer um amor sem medida, puro, despretensioso. E os dias são preenchidos pelo que há de mais belo, apesar das responsabilidades em educá-los para o mundo; mundo tão cheio de violência e dificuldades.
Quando chegam os netos começamos a sentir um amor em dobro. Quando somos avós, já estamos maduros, pois vivemos muita coisa. Aprendemos a driblar os problemas com a sabedoria que o tempo nos ensinou.
Queremos curtir os netos, pois doravante a responsabilidade primeira será dos pais. Aos avós caberá, respeitando-se a autoridades dos genitores, ninar os netos com profundo amor, fazendo-os parte do seu dia a dia com marcas indeléveis de carinho, misturado ao aconchego do lar, sentindo o cheiro de lavanda inglesa.
Levamos os nossos netos ao parque de diversão e ao circo. Compartilhamos sonhos, contamos histórias, tomamos sorvete até ficarmos lambuzados, comemos cachorro-quente. E também sorrimos, choramos. Muitas vezes compactuamos com suas traquinagens. Por quê? Porque a vida, depois de um certo tempo, deve ser vivida de forma leve.
Decerto, a maioria de nós traz no peito boas lembranças dos avós. Nessa toada, veio à memória um poema composto por Cazuza para sua avó paterna, lindamente cantado por Ney Matogrosso, que toca a nossa alma.
Eis um fragmento: “Hoje eu acordei com medo, mas não chorei, nem reclamei abrigo. Do escuro, eu via o infinito, sem presente, sem passado ou futuro. Senti um abraço forte, já não era medo. Era uma coisa sua que ficou em mim. E que não tem fim”.
Desejo ao meu neto quando vasculhar as suas lembranças, que encontre no coração o amor avoengo, com o sabor de uma torta de chocolate serenata de amor. E que esse amor não tenha, não tenha fim.
Odemirton Filho é colaborador do Blog Carlos Santos
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