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domingo - 28/04/2024 - 07:42h

Anagramas, pronomes e adjetivações

Por Bruno Ernesto

Ilustração da página Filosofia Incerta

Ilustração da página Filosofia Incerta

Quem tem mais de quarenta anos de idade, certamente se recorda dos apelidos que inundavam as rodas de conversas com os amigos.

O politicamente correto não tinha o relevo social, cultural e, em especial, o legal, que hoje todos podemos constatar.

É algo bastante sério, sob todos os aspectos, e pode implicar em sérias consequências para todos os envolvidos.

Havia todo tipo de classificação. De anagramas e pronomes a adjetivações. Jocosas, sarcásticas e, claro, as que hoje seriam politicamente incorretas. Se não, criminosas.

O certo é que o velho ditado de que quanto mais se chateia, mais incendeia, ainda está em pleno vigor.

Em que pesem as implicações legais hoje, a turma não perdoa. A diferença é que o fazem de maneira mais elaborada e mais eloquente, de modo que o sarcasmo e a ironia são essenciais para a sobrevivência dessa, digamos assim, “arte”.

Decerto que há os que ainda gostam da forma tradicional, ou raiz. Tudo é questão de “estilo” e disposição.

Se antigamente ainda podíamos, de uma certa forma, criar anagramas, utilizar pronomes e destacar adjetivações numa roda de conversa, uma rápida pesquisa na internet desencoraja até os mais habilidosos articuladores.

As próprias “regras e diretrizes” de algumas redes sociais são aplicadas de forma automática mediante utilização de algoritmos próprios que cuidam de punir prontamente quem não conseguir burlá-las.

Por incrível que pareça, podemos lançar mão de um simples subterfúgio, como substituir uma letra A por um número 4, para burlá-las; e abstraindo o que a inteligência artificial pode fazer atualmente, essa simples substituição de caractere, aparentemente, consegue burlar o algoritmo.

Não obstante os aspectos negativos e as consequências, ainda podemos nos divertir e criticar de forma incisiva certos acontecimentos, cujo alcance por outro meio talvez não despertasse a atenção e o interesse das pessoas.

As tirinhas e as charges têm papel relevante nesse aspecto. Talvez tenham em sua essência essa liberdade.

Política, relações familiares, amizade, religião, educação, trabalho, economia, história e uma infinidade de temas, dão vida a elas. E, de mão dadas, o sarcasmo e a ironia, elevam o tom; como naquela citação de alguém, de que não me recordo a autoria, que diz que é ateu, graças a Deus.

Disso, é um perigo lançar mão desses recursos literários e exercitar a crítica, uma vez que, tal qual a assertiva de Jaques Lacan – de que você pode saber o que disse, mas nunca o que o outro escutou ou entendeu -, em certos momentos, lhe deixará uma dúvida terrível, pois a limitação do outro, lhe retira a satisfação de se fazer criticar.

Bruno Ernesto é professor, advogado e escritor

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Categoria(s): Crônica

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