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domingo - 31/03/2019 - 07:24h

Anatália, presente! Ditadura, nunca mais!

Por Esdras Marchezan

Há 55 anos, em 1° de abril de 1964, os brasileiros acordavam ao som do pisar dos coturnos e do roncar dos tanques nas ruas de algumas das principais cidades do País. Deposto o presidente da República João Goulart, os militares, com apoio das alas conservadoras e reacionárias do Congresso, impunham ao País um regime autoritário, perverso e cruel. Um pesadelo que duraria 21 anos, marcado por perseguições, torturas e muita morte.

A liberdade agonizaria em praça pública em breve.

Incomodados com as propostas sociais do governo João Goulart, como a abertura à reforma agrária e uma política de governo justa com os mais pobres, os militares, com apoio de setores civis conservadores, tramaram a derrubada do presidente sob a cortina de fumaça do “Combate à ameaça comunista”. Fumaça que, ridiculamente, paira nas mentes dos que hoje governam o País, mais de cinco décadas depois.

Anatália de Souza Alves de Melo: morte cruel (Foto: reprodução)

Ainda contamos os nossos mortos e procuramos os nossos desaparecidos. Na conta dos militares, uma lista de jovens e adultos assassinados sob a acusação de se rebelarem contra o sistema vigente. Na ânsia de matar, o regime não poupava ninguém. Todos eram suspeitos. A morte batia à porta. Até de quem nem estava envolvido na luta armada.

Com apenas 28 anos, a potiguar Anatália de Melo Alves foi uma destas vítimas. Presa em dezembro de 1972, em Gravatá/PE, ao lado do marido Luiz Alves, foi submetida a dias de tortura e violência sexual. Em 22 de janeiro de 1973, foi encontrada morta, na delegacia do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), em Recife, onde estava presa com o companheiro.

Apontada como suicida pelos militares, Anatália foi morta por estrangulamento, após diversas sessões de tortura e abusos sexuais. Um laudo feito em 2014 pela Comissão da Verdade Dom Helder Câmara corrigiu o erro histórico, atestando como homicídio a causa da morte e não suicídio por enforcamento, como teriam simulado os seus assassinos.

Casada com o bancário Luiz Alves, integrante do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), Anatália nunca se envolveu na luta armada.

Pelo casamento, colocou em risco a sua vida acompanhando o marido na fuga de Mossoró, após o aumento das perseguições contra os movimentos de esquerda no Brasil, a partir de 13 de dezembro de 1968, com o Ato Institucional N° 5, o temido AI 5. Clandestinos, se instalaram em cidades do interior pernambucano, prestando apoio às ligas camponesas organizadas, que se configuravam numa forte ameaça ao regime pela capacidade de articulação política no campo e pressão social.

Enquanto Luiz Alves atuava na articulação da luta armada junto aos seus companheiros, Anatália prestava apoio no processo de alfabetização dos agricultores e seus filhos. Quando necessário, ajudava no tratamento e cuidado dos feridos na luta.

As prisões e mortes de líderes  importantes do PCBR mostravam a Anatália e Luiz – ou Marina e Maia, nomes adotados pelo casal por questões de segurança – que o cerco se fechava.

Em dezembro de 1972, o que eles temiam aconteceu. Descoberto pela polícia, Luiz Alves foi preso junto com um companheiro e horas depois veria a esposa chegar algemada à viatura policial em que ele estava.

As torturas em ambos começaram no Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI), em Recife, para onde foram levados imediatamente. De choques e pau de arara, tudo foi usado por seus algozes para que o casal entregasse informações sobre aqueles que estavam em liberdade. Vinte e seis dias depois foram levados para o Departamento de Ordem e Política Social (DOPS), na capital pernambucana.

Mesmo sem a experiência da luta armada, Anatália mantinha-se firme no silêncio sob o sofrimento cruel da tortura. Colocada ao lado do marido numa sala, na frente de um policial, depois de mais uma sessão de violência, pediu autorização para dar um beijo no companheiro. Com a permissão, aproximou-se do ouvido de Luiz e se limitou a dizer: “Não entreguei ninguém”.

Dias depois, teria a vida encerrada pela força autoritária, violenta e desumana do regime iniciado naquele 1º de abril de 1964. Em mais uma atitude covarde, seus algozes simularam um enforcamento, colocando o corpo de Anatália pendurado pelo pescoço, com a tira de couro de sua bolsa, no banheiro. Entre suas pernas, queimaduras já levantavam a suspeita de uma forma de encobrir a violência sexual a que era submetida.

Em 2014, a justiça autorizou a confecção do novo atestado de óbito de Anatália, a pedido da família, reconhecendo sua morte como mais um homicídio praticado pelo estado durante a ditadura militar. Falta identificar os executores.

No dia de hoje, faz-se importante lembrar a história de todos aqueles que tiveram a vida tomada por defender a sobrevivência da democracia no País. Lembrar de todas as pessoas que sofreram para que hoje pudéssemos viver sem a imposição de um regime de exceção.

Mais que isso, é necessário ter consciência do que este período sombrio da história representou. E saber que os que insistem em ver motivos para comemorar o golpe civil-militar de 64 são descendentes da onda fascista que ainda permanece entre nós.

Todos eles têm as mãos sujas de sangue. E não serão perdoados pela história.

Esdras Marchezan é jornalista e professor da Uern

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Categoria(s): Artigo

Comentários

  1. Antonio Agnaldo De Freitas diz:

    É triste ver histórias como essa contadas e sabermos que o “nosso presidente” defende tudo tudo isso e foi colocado pelo voto popular. Não foi preciso golpe dessa vez.

  2. Naide Maria Rosado de Souza diz:

    Sim, a História não perdoa. Salve, Anatália!

  3. François Silvestre diz:

    Belo e veraz texto! É preciso lembrar para que nunca mais se repita!

  4. FRANSUELDO VIEIRA DE ARAÚJO diz:

    BELO E IRREPREENSÍVEL TEXTO, QUE NOS COLOCA DENTRE OUTRAS QUESTÕES, DO PORQUÊ DO APOIO DE GRANDE PARTE DOS BRASILEIROS AO NAZI-FASCISMO ATUALMENTE ESPRAIADO AOS QUATRO CANTOS DO NOSSO PAÍS, NA ESTÚPIDA E E DOENTIA FIGURA DE JAIR MESSIAS BOLSONAURO E SUA FAMÍLIA DE IGNAROS DÉBEIS MENTAIS…!!!

    ENTENDO QUE, SOBRETUDO É PRECISO LEMBRAR, UMA DAS RAZÕES PELAS QUAIS, MUITOS BRASILEIROS NÃO SÓ VOTARAM COMO APOIARAM A FAMÍLIA MILICIANA/BURRO NARIANA, FUNDAMENTALMENTE, DIZ RESPEITO AO NOSSO HISTÓRICO DE AVERSÃO À LEITURA E, POR CONSEGUINTE O DESCONHECIMENTO E A FALTA DE COMPREENSÃO MÍNIMA DO PROCESSO HISTÓRICO.

    NUM PAÍS DE IMPRENSA MONOPOLIZADA E MAIS QUE TENDENCIOSA, ATUANDO SEMPRE À DIREITA DO ESPECTRO POLÍTICO, MAL VERSANDO, SE OMITINDO E MANIPULANDO FATOS DE GRANDE INTERESSE POLÍTICO SOCIAL. ASSIM., INFELIZMENTE, GRANDE PARTE DA CIDADANIA BRASILEIRA É FERIDA DE MORTE, HAJA VISTA O ALTO GRAU DE ANALFABETISMO NUMA SOCIEDADE DE AGRAFOS.

    QUEM NÃO CONHECE SUA PRÓPRIA HISTÓRIA, DEFINITIVAMENTE ESTÁ FADADO REPETI-LA NO QUE DE MAIS ESTRANHO E MEDONHO AO SEU CORPO SOCIAL, E, QUEM NÃO CONHECE SEU PASSADO NÃO MAIS TEM CONDIÇÕES DE MINIMAMENTE PLANEJAR E VISLUMBRAR SEU FUTURO…!!!

    OBS. DESCULPE-ME AS LETRAS GARRAFAIS, PORÉM, ENTENDO DA NECESSIDADE DE GRITAR EM MOMENTO TÃO DELICADO, ATERRORIZANTE, PERIGOSO E TRISTE DA NOSSO HISTÓRIA….!!!

    Um baraço

    FRANSUÊLDO VIEIRA DE ARAÚJO.
    OAB/RN. 7318.

  5. João Claudio - 'O Indivíduo.' diz:

    Os dois já consagrados juízes vão entrar para a história como os únicos que mandaram pra cadeia dois grandes chefes de quadrilha, até então intocáveis, sendo que um deles se considera o único Deus vivo da Terra. Há quem acredite nele. E como há.

    Isso é o que diz o povo da rua. O povo honesto, claro. Os coniventes com os dois bandidos IDEIAM os juízes. Fato, fato e fato.

    Eu queria ver os PTralhas se manifestarem contra a ‘juizada’, se a ‘juizada’ tivesse prendido Aécio Neves, José Sarney, Fernando Collor…FHC? kkkkkkkkk nem se fala.

    Tradução:

    Pimenta só arde no ( * ) dos outros.

  6. FRANSUELDO VIEIRA DE ARAÚJO diz:

    Oh senhor que possui amigos no espectro da extrema direita – desde a infância -, absolutamente corruptos, os quais, claro, ainda não foram investigados, portanto com suposta aura de honestos…!!!

    Oh senhor que adora quando a corrupção dos outros é investigada, desde que, obviamente os seus diletos amigos da extrema direita fiquem absolutamente impunes e imunes à quaisquer investigações…!!!

    Oh o senhor adorador do Burro Naro (ÀQUELE MAIS QUE CORRUPTO, DESDE O EXÉRCITO, DE ONDE FOI EXPULSO…LEMBRA….!!!???) juntamente com sua família escatológica família de corruptos, laranjas e milicianos profissionais!!!

    Oh, é, este o senhor que afirma aos quatro cantos do universo, não possuir corruptos de situação…!!!

    Imagina , se os tivesse…!!!???

    Pois é, os juízes à quem Vossa Insolência se refere, estão na fila da Consagração, isso sim, para entrarem, definitivamente, entrarem, claro, sem direto à saída, NA LATA DO LIXO DA HISTÓRIA….!!!

    Dê tempo ao tempo ….Ôooo apoplético apologista da tortura e da corrupção, desde, claro,que favoreça aos Seus pares (ÀQUELES QUE O SENHOR OS CONHECE DESDE TENRA INFÂNCIA, TENDO, INCLUSIVE IDO AOS BAILES E TERTÚLIAS COM ELES …LEMBRA…!!!???) da extrema direita…!!!

    Precisamos, isso,sim, investigar, também, se Vossa Insolência, não foi amigo de infância de GEDELZINHO, HENRIQUINHO ALVES, MOREIRINHA FRANCO (GATO ANGORÁ) JOSÉ SERRA, ALUÍZIO 500 MIL, JOÃO DÓRIA JUNIOR, QUEIROZ, BURRO NARO E SUA FAMÍLIA…!!!

    Até onde vai vosso cinismo crepuscular….!!!???

    Um baraço

    FRANSUELDO VIEIRA DE ARAÚJO.
    OAB/RN. 7318.

  7. FRANSUELDO VIEIRA DE ARAÚJO diz:

    Errata, quando escrevi situação, QUIZ DIGITAR, EXATAMENTE, ESTIMAÇÃO….!!!

    PS. afinal, Sr. João Cláudio , Vosso sabujo adepto da tortura e da corrupção e COM TANTOS AMIGOS NA MANJADA E CONHECIDA EXTREMA DIREITA CORRUPTA E PODRE DO NOSSO BRASIL VARONIL, Vossa insolência é apenas influenciador, cúmplice e (ou) até mesmo professor de corrupção…!!!???

    Um baraço

    FRANSUÊLDO VIEIRA DE ARAÚJO.
    OAB/RN. 7318.

  8. Carlos André diz:

    Como diz o dito popular; “pimenta no .. dos outros é refresco”!!!!!

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