Por Odemirton Filho
Na travessia da balsa, vindo das bandas da cidade de Grossos, vislumbram-se montanhas de sal. Nas margens do rio que desagua na imensidão do mar, aves e alguns barcos pesqueiros ornam a paisagem. Ao aportar no cais, deparamo-nos com a Igreja matriz de Nossa Senhora da Conceição, em Areia Branca.
Eis alguns versos do Hino da cidade salineira:
“Areia Branca, terra amada,
Terra do sol, terra do sal,
És a sereia majestosa,
Rindo esmeralda ao litoral.”
O Hino foi composto por José Nicodemos de Souza, falecido no último dia dezoito, demonstrando todo o amor e carinho por sua cidade. Conheci Nicodemos, escritor, cronista e revisor dos jornais de Mossoró, por meio de suas crônicas diárias. Na época dos jornais impressos, era a minha primeira leitura. Deleitava-me com sua inteligência privilegiada, com os seus textos escorreitos.
Tempos depois, salvo engano ali pela lanchonete Oitão, em frente à banca de Jornal de Zé Maria, tive a satisfação de conhecê-lo. Sempre o encontrava pelo centro da cidade e, por várias vezes, trocamos um dedo de prosa. Falava-me sobre Areia Branca, sobre alguns causos que aconteceram há muitos anos na cidade; causos impublicáveis, diga-se, que jurei segredo. Era um homem de vasta cultura, dominava a língua portuguesa como poucos.
Houve um tempo em que eu recortava as suas crônicas dos jornais, guardava para ficar lendo, relendo, apreciando, aprendendo, pois ele redigia com a alma. Vez em quando, escrevia sobre sua terra querida, denotando sentimentos de alegria, tristeza, decepções. Outras vezes, entretanto, era um crítico da classe política, sobretudo, da corrupção que grassa no meio.
José Nicodemos de Souza foi umas das pessoas mais cultas que conheci, agradeço por ter tido a oportunidade de privar um pouco de sua amizade e consideração. Para um admirador do gênero literário crônica, como eu, ele sempre será uma referência. Os meios literários de Areia Branca e Mossoró, quiçá do Estado do RN, devem a Nicodemos uma justa e merecida homenagem.
Na semana passada, reli o livro A Velhinha de preto, uma coletânea de crônicas de sua autoria; livro que adquiri há vinte anos. Para o nosso regozijo, transcrevo um fragmento da crônica, De repente, Agosto, na qual ele derrama-se em lirismo e saudades:
“E porque é agosto, há festa de luz e cores no ar. Na minha terra das areias brancas. O mar copia a leveza diáfana do azul dos horizontes acesos por um sol de ouro novo, no verde profundo das suas águas em festa a Nossa Senhora dos Navegantes. Os coqueiros de suas praias, como transformados em visões lendárias, tocam na brisa do mar uma canção diferente. E eu cá, a distância, sinto-me convidado a lembranças e recordações. Das festas de agosto de antigamente”.
Ficarão eternizadas em minhas lembranças as suas belas crônicas e as nossas agradáveis conversas.
Odemirton Filho é colaborador do Blog Carlos Santos
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