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domingo - 10/10/2021 - 04:30h

Apontamentos para a genealogia nordestina

Por Marcos Pinto

A  Genealogia  tem  se  constituído  em  um  dos  pilares  mais  relevantes  a  sustentar  o  arcabouço  dos umbrais  da  história.  Quer  seja  nos  preceitos  bíblicos,  ao  elencar  a  descendência  das  doze  tribos  de  Judá, quer  seja  nas  expressivas  obras  que  descrevem  ás  heroicas  e  primitivas  famílias, desbravadoras  dos  mais  recônditos  rincões  do  Brasil. Predominam  as  forças  naturais  e   hereditárias  referenciando  normas  e   ditames   com  elos  ancestrais  seculares.

É  certo que,  nestes  últimos  anos, tem surgido  elementos  inescrupulosos  posando  de  genealogistas, pseudos  pesquisadores  que  só  almejam  angariar   exorbitantes  remunerações  para  efetuar  pesquisas, na  maioria  das  vezes  forjando  nomes  e  cronologias, ao  ponto  de  citar  inventários  setecentistas (Séc. XVIII) e   Oitocentistas (Séc. XIX) existentes  em  antigos  Cartórios   da  região  nordestina,  geralmente  dos  estados  do  Ceará, Paraíba  e  Rio  Grande  do  Norte.  Não raro,  estes Personas   cometem  quando  da  aplicação  das  nominatas  no  esboço  genealógico, observando-se  grosseiros  erros  cronológicos, configurando, assim,  um  cometimento  de  estupro  da  verdade  histórico-cultural da  nossa  terra.genealogia - árvore genealógica

Não  há história  sem  DNA  genealógico.  Não  há   genealogia  sem  a  moldura  exata  da  história,  descrita  sem  as  matizes  do  memorialismo  oficial  deturpador.  Representam  as  linhas  mestras, confluentes, que  entreteceram  as  nossas  individualidades  ancestrais.   Revelam  heranças  mentais, evidenciando  atavismos  acumulados  das  taras, dos  legados  mórbidos, num  deslumbramento  a  romper  a  bruteza  pré-histórica  das  nossas  assombrosas  e  misteriosas   ascendências.  Nada  mais  que  componentes  insustentáveis  da  alma  bravia e  desordenada. Se  nos  apresenta  como  duas  figuras  dignas  de  serem  agudamente  observadas.

Os  referenciais  genealógicos   amplamente  contidos  em  famigeradas  obras  da  Genealogia  dos  colonizadores enfatiza  um  manancial  de  conclusões  convincentes,  amalgamando   nominatas   de  bravos  homens  e  mulheres. É  memória   demonstrada  de maneira  irrefutável.   Formam  uma  corrente  etnográfica  sedutora  e  inexpugnável.

E  foi  assim,   com  altanaria  indômita, baseada  no  enriquecimento  oriundo  da  exploração  das  nossas  riquezas  naturais, que  o  elemento  europeu, geralmente  o  português, enfrentou  toda  sorte  de  perigos  e   anseios  na  longa  e  penosa  travessia  do  Atlântico, transcorrendo  o  cansativo  tempo  de  três  meses  para  aportar  na  famosa  “Terra   Brasilis.

É  certa,  a  afirmativa  deveras  incontestável,  de  que  as  Capitanias  do  Rio  Grande  do  Norte,  Ceará  e  Paraíba   começaram  a  ser  povoadas e  a  nascer  para  a   civilização  já  sob  o  inteiro  domínio  da  Capitania  de  Pernambuco. Cresceram  sob   a  concentração  de  povoadores  do  Rio  São  Francisco  e  com  vínculos  bem  profundos  com  os  sertões  pernambucanos.

Naqueles  tempos (Sécs. XVII  e  XVIII)  quase  tão  próximas  de  Olinda, via  Itabaiana-PB, dado  o  grande  intercâmbio  comercial  decorrente  da  compra  de  rebanhos  de  gado  em  Pernambuco. Posteriormente, no Séc. XIX,  este  movimento  comercial   passou  a  ser  efetuado   em  Oeiras-PI.   Este  desiderato  levou  o pernambucano  Capitão  Francisco  Pinto  da  Cruz  a  requerer  Data  de  Sesmaria  no  Ceará,  explorando  pessoalmente  a  região  de  Milagres.  Neste  mesmo  contexto,  vieram  da  região  dos  açores (Portugal)  para  o  Rio  Grande  do  Norte  as  famosas  e  tradicionais  famílias  RAPOSO  DA   CÂMARA   e   MEDEIROS (Vide  Livro “Um  Ramo  Judaico dos  Medeiros  no  Seridó” –  Luiz  Fernando  Pereira  de  Melo)  para  fixarem-se  nas   Ribeiras  do  Apodi  e  do  Seridó.

Depois  de  Natal  foi  a  região  do  Assu  que,  ainda  no final  do  séc. XVI, passou  a  ser   polo  irradiador  da  colonização  da  região  Oeste  potiguar.  A  fixação  do  famoso  “Terço dos  Paulistas” no  Assu   constituiu  meio  atrativo  para  assentamento  de  Praças  e  Soldados, onde  alguns casaram  e  deixaram  vasta  descendência.  De   Portugal  para  o  Assu-RN  vieram:  O  Coronel  Carlos  de  Azevedo  do  Vale;  o  Licenciado  Manoel  Lopes  de  Macedo, nascido  a  24.09.1670, filho  de  outro  de  igual nome  e  de  Adelaide  Cabral  de  Macedo (Origem da  família  Cabral no  RN), tendo  embarcado  para  o  Brasil na  cidade  do  Porto  a  12.10.1706  com seus  oito  filhos.  Era  casado  com  D. bárbara  Freire  de  Amorim, filha  de  Antonio  Freire  de  Amorim  e  Bárbara  Freire  de  Amorim.

Outro português  a radicar-se  no  Assu  foi  o  Capitão  João  de  Souza  Pimentel, que  casou  com Josefa  Lins  de  Mendonça, bisneta  de  Gaspar  Wanderley. Vindos  de  Pernambuco, chegaram  à  terra  assuense  em meados  do  Séc. XVIII.  Tereza   era  filha  de  Tereza   Wanderley, pernambucana, e  de   Silvestre  de  Mendonça, residentes  nas  Alagoas.

Já  a  tradicional família  Cavalcanti,  do  Assu,  veio  da  Paraíba  através  de  José  Joaquim  Bezerra  Cavalcanti e  Domingos  Alves  Ferreira  Cavalcanti, que  casou  com D. Maria  Joana  do  Espírito  Santo, irmã  de  José  Joaquim, e  foram  residir  no  lugar  “Brejo  do  Apodi”, onde deixaram  numerosa  descendência, espraiada  no  Icó-CE (Vide  Nobiliarquia  Pernambucana, Vol. IV, pág.474 – Coleção  Mossoroense – Série  C – Volume  823 –  Ano  1993.

Residindo  em  terras  à  margem do  rio  São  Francisco, Manuel  Filgueira  de  Carvalho   veio  para  o  Assu   com  muito  gado, procurando  viver  em paz  com  os  indígenas que  eram  sempre  entrave  no  povoamento  das  terras  assuenses.

Para  o  sertão  do  Apodi  vieram  os  portugueses Alexandre  Pinto Machado, natural  de  São  Miguel  de  Caldas  de  Vizela, do Bispado  de  Lamego, filho  de João  Machado  e  Maria  Pinto,  que  casou  na  Matriz  de  Apodi  a  22.11.1768   com  Francisca  Barbosa  de  Amorim, natural  do  Icó-CE, filha  do  Capitão-Mor  o  português  João  Barbosa  Corrêia, natural  de  Ponte  do  Lima,  e  de  Rosa  Maria  de  Jesus, natural  da  Freguesia  da  Várzea, em  Pernambuco.(Origem da  família  PINTO,  do  Oeste  potiguar).

O  português  Antonio  da  Mota  Ribeiro  nasceu  a  13.06.1710  na  Freguesia  de  São  Clemente, Arcebispado  de  Braga e  falecido  em  Apodi  a  19.08.1796.Era  casado  com Josepha  Ferreira  de  Araújo,  filha  do  porruguês Carlos  Vidal  Borromeu  e  da  índia  Isabel  Araújo (Vide  livro “Velhos  Inventários  do  Oeste  Potiguar – Marcos  Antonio  Filgueira –  Coleção  Mossoroense  –  Série  C – Vol. 740, ano  1992.

Temos , ainda, o  entrelaçamento  da  família do português  MOTA   com  os  portugueses:  Antonio  da  Rosa Machado,  natural  da  Freguesia  de  Santa  Bárbara,  casou  com  Cosma  Ferreira  da  Mota (Nasceu  a  19.12.1757); José  Luiz  Vieira  de  Veras, natural  da  Vila  de  Setúbal, filho de  Luiz José  Vieira  e  Josefa  Maria  de  Jesus (de  Setúbal);  Já  o  Capitão  José  Ferreira  da  Mota (Nasceu  em  1768) casou  em  06.05.1791  com  Florência  Maria  de  Jesus, filha  do  português  José  de  Paiva  Chaves  e  Ignácia  Maria  do  Rosário.

Florência  nasceu na fazenda  Patu de  Fora  a  01.02.1770  e  faleceu  na  fazenda  Santa  Cruz (Apodi)  em  1823.  José  de  Paiva  Chaves  era  natural  de  Vizeu, e sua  espoa  Ignácia  era  natural  do  Piancó,e  moradora  no  Patu  de  Fora. Florência  era  neta  materna de  Antonio  Pimentel  de  Araújo, natural  do  Assu, e  de  Isabel  Soares da  Silva, natural da  Freguesia  de  Nossa  Senhora  do  Desterro  de  Itambé-PE.

Inté!

Marcos Pinto é advogado e escritor

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Categoria(s): Crônica

Comentários

  1. Bosquinho diz:

    Marcos Pintou voltou! faço votos que publique com mais frequência em nosso Blog(Copyright Sra. Naide Rosado), sobre o domínio político da família Cavalcanti de Albuquerque(PE) no Brasil império – Barão de Muribeca, Visconde de Albuquerque, Visconde de Camaragibe, Visconde de Suassuna, da família sairiam também: deputados gerais e provinciais, senadores, ministros, presidentes de província – surgiu a seguinte quadra:
    “Quem viver em Pernambuco,
    Deve estar desenganado;
    Ou há de ser Cavalcanti,
    Ou há de ser cavalgado.”(Jerônimo Vilela Tavares, jurista e professor da nascente Faculdade de Direito de Olinda)

  2. Amorim diz:

    Meu caro Marcos Pinto, comecei mesmo minha vida profissional em Apodi, com certeza devo ter entradomem contato com voce, a familia Pinto muito conceituada naquela urbe; lembrei-me de um episóido, embora triste, em que fui chamado por Vossa Senhoria para constatarbum óbido de um ente querido.
    Pois bem sobreba familia Amorim, creio eu ser da ” gema” . Filho de Osvaldo Oliveira Amorim e neto de Mário Augusto Caldas de Amorim, sobrinho de Chisquito Amorim, escritor e poeta e de Ulisses Caldas de Amorim.
    Reza a lenda que um funcionário de um usineiro da familia Amorim lá das plagas do pernambuco, de tão grato a este Senhor, adotou o sobre nome Amorim. Dai as duas vertentes; se é verdade não sei, mas reza a lenda! Tio Ulisses ficava espumando de raiva, quando eu jovem, citava tal passagem.
    Saudades do Apodi, de Mundica e Dede com as prosas com cadeiras na calçada.
    Tá bom.
    Um abraçaço.
    Ps. Senti falta das palavras do nosso vernáculo que me obrigou a ir ao dicionário! Rsrsr

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