Por Ney Lopes
Mohammed bin Salman, príncipe herdeiro da Arábia Saudita, prova, que na política e no esporte o dinheiro lava tudo. Os direitos humanos e a vida são sempre colocados num patamar inferior, se do outro lado da balança pesam fortes interesses econômicos.
O termo “sportswashing” (lavagem esportiva) significa a prática de investir bilhões para transformar a percepção do mundo acerca da má imagem do reino saudita.
Regimes totalitários sempre usaram esportes para exibir seus modelos políticos. Mussolini fez com a Copa do Mundo em 1934 e Hitler com as Olimpíadas de 1936. A Alemanha Oriental e a União Soviética tinham programas de doping patrocinados pelo estado nas décadas de 1970 e 1980.
A China foi acusada de “sportswashing”, ao sediar as Olimpíadas de Inverno no ano passado, assim como a Rússia quando sediou a Copa do Mundo de futebol, em 2018.
A Arábia Saudita está comprando o futebol para dominar o mundo e a Copa 2030. Os salários dos novos atletas contratados ultrapassam 1,5 bilhão de euros (R$ 10 bilhões de reais). Também despejam milhões em eventos, como o Grande Prêmio de Fórmula 1 e Fórmula E, boxe, luta livre, circuito de golfe, ATP Tour de tênis e e-Sports.
O objetivo é receber 100 milhões de visitantes por ano, até 2030.
Neymar transferiu-se para a Arábia Saudita, após fazer exigências absurdas e todas elas aceitas. Irá receber € 160 milhões (R$ 860 milhões) nas duas temporadas. Segundo o jornal Le Parisien, o atacante brasileiro é dono do terceiro maior salário do planeta.
O jogador terá ainda avião à disposição, oito veículos, sendo três para uso próprio, um motorista disponível 24 horas por dia e uma mansão com, no mínimo, 25 cômodos
Todo esse esbanjamento de dinheiro ocorre num país, que nega liberdades democráticas; suprime direitos das mulheres; decapita os homossexuais; destrói o Iêmen; assassinou o jornalista Jamal Khashoggi no consulado saudita em Istambul em 2018; aplica a pena de morte, sem direito de defesa; bane as organizações de defesa dos direitos humanos; condena migrantes, mulheres e crianças, a tortura e condições degradantes, apenas por se encontrarem no território em situação irregular.
Enquanto acontecem essas cenas degradantes, Biden cumprimenta o rei Mohammed bin Salman, com enorme familiaridade, e Rishi Sunak, primeiro ministro inglês, convida-o para uma visita oficial ao Reino Unido.
Até o presidente Lula convidou Mohammed bin Salman para visitar o Brasil, o que está previsto para 2024. Infelizmente, como se vê, no desporto e na política, o dinheiro lava tudo.
Ney Lopes é jornalista, advogado e ex-deputado federal
O dr Ney lembrou de todos, mas esquece o grande aliado dos saudistas, o nazista Bolsonaro. Será que o dr esqueceu o Rolex?