Por Odemirton Filho
Lembranças vêm à memória.
Ao lado de amigos eu brincava na calçada do Cine Caiçara, uma vez que a lateral do antigo cinema ficava na rua Tiradentes, pertinho da minha casa. Víamos os cartazes anunciando os filmes para maiores de dezoito anos; e sonhávamos em “ficar de maior”.
A Rádio Difusora ficava ao lado do Caiçara, entrando-se por um “bequinho”; já o prédio da Rádio Libertadora ficava vizinho ao casarão de seu Dix-Neuf e dona Odete Rosado, um endereço histórico conhecido como o “Catetinho”, por ter recebido o então presidente Getúlio Vargas.
O mundo da minha infância e juventude foi vivido naqueles arredores; a praça do Codó, o Caiçara, o Cine Pax, a padaria de meu pai, a Igreja de São Vicente. Isso, lá pelo início dos anos oitenta.
Não, não se trata de querer viver de saudosismo, pois cada época de nossa vida tem momentos felizes e tristes. É piegas escrever sobre? Pode ser. Mas é a história da minha vida; minha, tão minha.
Sem esquecer que o domingo é um dia para as pessoas lerem artigos e crônicas leves, suavizando o fardo do dia a dia, como diz o meu nobre editor.
Pois bem, jogávamos bola na rua Francisco Ramalho, passeávamos de bicicleta no patamar da Igreja de São Vicente e na praça do Codó. Assistíamos a filmes no Caiçara, no Pax e no Cine Cid; os famosos vesperais. Na calçada lateral do Cine Pax, ficavam uns carrinhos, onde comprávamos revistas novas e usadas.
Nem imaginávamos que, um dia, teríamos internet, redes sociais, celulares, tablets e computadores. Ter um telefone fixo já era um luxo. E caro.
O mês de dezembro me faz lembrar de quando ouvíamos os sinos da Catedral anunciando à Festa da nossa padroeira. Após as novenas, uma ruma de gente ficava andando pra lá e pra cá, pois havia várias barracas.
Íamos também para a casa de algum conhecido para as famosas “festas americanas”, ao som das deliciosas músicas dos anos oitenta, tocadas numa radiola com discos de vinil.
Aqui, permitam-me citar o cronista Braz Chediak num de seus belos textos: “pertenço a um tempo que enriqueceu a música brasileira, por isso, quero, um dia, sentar com o meu neto e dizer-lhe o tema de cada música que ouvimos juntos, de cada amigo, de cada viagem, física ou não. Assim, em alguma noite, ele ouça uma música vinda de uma vizinha qualquer, e se lembre deste seu avô, contando-lhe de suas aventuras e de tudo o que lhe ofereceu a vida”.
Os mais jovens devem perguntar: como vocês se divertiam naquele tempo sem o mundo virtual?
Respondo: quem viveu o ontem, decerto traz da sua infância e juventude algumas lembranças. Quem vive o hoje, no futuro lembrará de doces momentos. Porém, creio que não existe um tempo melhor ou pior. Existe o tempo de cada pessoa, com seus sonhos e decepções.
Sim, eu sei que alguns fatos aqui descritos já narrei em crônicas pretéritas. Mas, vez ou outra, lembranças vêm à minha memória.
Lembranças da primavera dos meus dias.
Odemirton Filho é bacharel em Direito e oficial de Justiça
Essa volta no tempo é típica de pessoas que atingem maturidade; nessa época consegue-se visualizar o passado e referir-se ao presente. É uma especie de nostalgia. Houve um tempo em que vivíamos mais despreocupadamente. Agora que tenho netos com idades de 9, 6, 4 e 2 anos, às vezes me pego pensando se estarei na formatura deles; no casamento e como estarei em termos de condições físicas. É uma saudade do passado com a consciência de que vivi muita coisa boa e gostaria de estar presente no futuro dos netos. E olhe que eu nem tinha sonho de casar; depois as filhas vieram logo e quando me vi com elas adultas e assumindo o controle de suas vidas, passei a sentir e sofrer com o tempo. Procuro aproveitar todos os momentos que posso, com eles, sem descuidar da minha mãe que depois da morte do meu pai, tenta viver feliz! Viver não é fácil!