“Governo é governo, oposição é oposição,” separava Délio à época apenas de MDB e Arena.
Passadas quase três décadas desde então, os ares da chamada redemocratização estão criando um modelo político sem divisórias. Está difícil saber quem é quem. Em Apodi, símbolo de liderança e coerência partidária, o médico e prefeito José Pinheiro talvez seja quem melhor encarne o desapego à visão do falecido ministro.
Pinheiro está se despedindo lentamente do PMDB, sem olhar para trás, ao mesmo tempo em que vê diante de si, uma oposição miscigenada, sem cara definida. Os dois lados, se é que existem, vão promovendo o fim de símbolos do enfrentamento político de décadas.
De um lado os “Bicudos” e do outro os “Bacuraus”. Verde e encarnado. Apague tudo. Está em formação uma nova ordem, em que o vale-tudo pelo poder ganha voz, sob o discurso de “fim do radicalismo”. Ou seja, o feio é perder, mesmo que movido por profunda incoerência.
Faltando pouco mais de um ano para as eleições municipais que vão definir o sucessor de Pinheiro, até o mais atento cidadão apodiense não sabe definir a formação de cada sistema. Quem seria bicudo? E os bacuraus?
WILMA
Ninguém culpe diretamente os líderes locais por esse redemoinho, que emborcou as peças do tabuleiro. O jogo está assim, embaralhado, porque as maiores referências estaduais de oposição e situação começaram a quebrar barreiras morais, sob a justificativa de compromissos com o povo e em nome da modernidade política. Balela.
Maias e Alves amontoaram-se num mesmo palanque, depois de muitas disputas, desaforos, acusações mútuas, vencidos e vencedores, em nome do objetivo comum de aniquilar Wilma de Faria (PSB) da política. A adversária de ambos sobreviveu outra vez, mas essa comunhão entre antigos adversários até hoje causa mal-estar.
O que líderes como José Agripino (DEM), Henrique Alves e Wilma de Faria promovem em busca da ampliação de espaços, não encontra precedentes na política potiguar. O exemplo em nível de governo federal também reforça a tese de que estamos nos separando do passado feito em cores, bichos, músicas e palavras de ordem.
Vale tudo mesmo. O companheiro Lula que o diga, olhando para sua base congressual feita com velhos simpatizantes e inimigos que antes o insultavam. O lado positivo dessa mudança, é que efetivamente o radicalismo possa ir se desmanchando com o passar dos anos. A política não pode ficar presa a alegorias como bicudos e bacuraus, como se alguém pudesse ser melhor ou pior em face da cor de sua preferência.
Agora, a manobra que transforma inimigo de ontem, em colega hoje, apenas para se alcançar o poder, é um atraso ainda maior. O povo, esclarecido, é quem vai separar o joio do trigo.
Por enquanto, ninguém está em condições de escolher seu “time”. Está tudo muito confuso.
* Esta matéria faz parte da mais nova edição do Jornal O Vale do Apodi, que produzi a convite do seu dietor, jornalista Márcio Morais.
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