Por Honório de Medeiros
Os três bem juntinhos, enrodilhados uns nos outros. O vigia observando.
Minha sombra se projeta por sobre a trilha, enquanto na margem esquerda, da mata que margeia o lago, escuto o deslocamento do gato Rei, que nunca aparece.
Já contei, lá, certa vez, treze. Dizem que vai a vinte ou mais.
Seu T me disse que tanto gato assim, liderados pelo gato Rei, sempre entre a água, de um lado, e o bosque de pedras do outro, com a estradinha no meio, tem a ver com a história dos três rapazes.
Eu vinha de um samba, contou ele, lá pelas três da manhã e, no mesmo canto vi, em sentido contrário, três rapazes vindo.
Não falavam nada, não vi seus rostos, só andavam. Roupa comum. Passei por eles, dei com a mão, olhei pelo retrovisor, olhei pelo outro, pelo vidro traseiro, e nada.
Tinham sumido. Parei o carro, desci, botei os olhos para tudo quanto era canto, e nada. Me arrepiei todo, me benzi, entrei no carro, o coração saindo pela goela, e disparei.
Você já tinha ouvido essa história, perguntei. Já, mas não me lembrei, na hora. E o que mais me impressionou, depois, foi que eu não me lembrava do rosto deles.
Era como se eu não tivesse visto. E não vi. Seu T não é homem de mentiras. Não que eu saiba.
Cerro Corá, Estrada dos Flamboyants, 1 de maio de 2024.
Honório de Medeiros é professor, escritor e ex-secretário da Prefeitura de Natal e do Governo do RN
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