Os criadores, por exigências de mercado e não por pura vaidade, sabem que é preciso cuidar de cada animal como a um filho. O resultado é o cadastramento da rês, onde aparece uma identidade em que é repassada sua carga genética, desde o útero materno. É o que se denomina de "boi rastreado".
Um exemplar tem a garantia de certificado de qualidade.
Já na Índia, os hindus têm o mesmo bicho para louvação. É sagrado. Matar um é sacrilégio punido com severidade. Convivem com os bípedes humanos em igualdade. Na verdade, até com mais privilégios do que muitos indivíduos das castas inferiores da sociedade milenar indiana.
Repassando essas situações, que unem a modernidade industrial para o gado de corte e o primitivismo religioso, vejo que motivos distintos nos fazem tratar bem ou não o outrem. Zelar ou não um bem animal, por exemplo, tem um porquê. Nesse aspecto, começa a embaralhar minha cabeça, pois não consigo aceitar que gente não seja pelo menos respeitada como bicho.
O princípio da razoabilidade, tão comum nos labirintos do Direito, faz referência ao que seja "sensato" para poder embasar uma decisão. Na política, não tem sido razoável ou sensato, tratar bem a massa ou o "gado humano". Só em períodos eleitorais o "cidadão" ganha pelo menos número, fixado num título eleitoral. Depois volta pro "pasto."
Triste povo que continua mendigando à porta de hospitais sucateados ou fundações de araque, tentando se manter pelo menos de pé. Chega ao clímax da ignorância e dependência, quando aplaude e briga por seus algozes, como se fossem a panacéia, verdadeiros salvadores da pátria.
Parece impossível à maioria de nós, amar a outrem como a si. Difícil acatar que a outra face à bofetada, seja uma resposta melhor do que a reação bárbara à ofensa. Tudo bem. Não exijamos tanto. Esse estágio é divinal mesmo.
A vida de gado dada ao homem comum neste país, é até um paradoxo quando confrontada com os registros que fiz. Os dois casos possuem justificativas distintas, mas revelam como o interesse "move montanhas".
Na pecuária de corte o tratamento cinco estrelas é uma necessidade capitalista; na sociedade hindu é uma benção espiritual.
Napoleão dizia que só duas coisas moviam o homem: "Necessidade e medo".
O grande pecuarista tem a necessidade do zelo extremado, para se habilitar a maiores ganhos financeiros. O povo simples e "zen" da Índia tem medo de pecar na ofensa ao quadrúpede, que deve morrer de velho e sob carinho familiar.
Nas duas culturas, mesmo que implicitamente, há o respeito – cada um sob argumentos próprios.
Na sociologia política ainda muito atrasada que lidamos e observamos, é diferente. Parece que há métodos e uma ética incomum. Mesmo sendo importante e fundamental, o povo nem é boi rastreado nem gado indiano. Continua sendo tangido sazonalmente do pasto seco para o curral e de lá para a urna. Em sua inocência, pensa que lhe dão valor.
Pobre gente.
Esta terra ainda vai cumprir seu ideal… É possível até que esse povo vire boi rastreado ou gado indiano.
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