Do The News (especial para o BCS)
Imagine o quarto de alguém na casa dos vinte e poucos anos… A decoração, os objetos, os desenhos espalhados pelo espaço. Agora repare em um detalhe que parece fora de lugar: um ursinho de pelúcia. Pode soar estranho, mas não é incomum.
Nos últimos meses, imagens de jovens adultos exibindo pelúcias, bonecos Labubu e personagens “fofos” tomaram o TikTok e o Instagram. O que poderia ser visto apenas como trends com data de validade revela algo maior.
Um relatório recente da Circana mostra que 43% dos adultos no Reino Unido compraram brinquedos para si mesmos ou para outros adultos neste ano. Entre consumidores de 18 a 34 anos, esse número salta para 76%.
Na prática, adultos passaram a sustentar uma fatia relevante da indústria dos brinquedos, enquanto crianças trocam bonecas e carrinhos por telas e tablets.
Nostalgia como resposta ao caos
Segundo dados do GWI,15% dos jovens preferem pensar no passado em vez do futuro, e quase metade demonstra apego emocional a referências culturais que antecedem o próprio nascimento. Os números ajudam a dimensionar esse movimento:
As vendas de discos de vinil cresceram, em média, 18% ao ano nos últimos cinco anos, e cerca de 60% dos jovens afirmam comprar discos, segundo o relatório Audio Tech Lifestyles, da Futuresource Consulting. Em 2024, os vinis superaram os CD’s. Passaram a representar 76,4% das vendas de mídias físicas, consolidando o formato como um “novo velho hábito” entre consumidores jovens.
O mesmo acontece com tecnologias consideradas ultrapassadas: as buscas por câmeras digitais cresceram até 563% em 2024, com a Geração Z liderando esse resgate.
O que realmente é interessante: Mais do que consumo ou estética, tudo isso funciona como âncora emocional. Em contraste com uma vida hiperconectada e performática, o analógico passou a cumprir um novo papel: o de regulação emocional coletiva. O foco é desacelerar e criar algum pertencimento.
Rir para não surtar
A Geração Z já ganhou o rótulo de the unserious generation (A geração duvidosa). Mas o tom leve engana. Na prática, o humor vira um mecanismo de sobrevivência ou de fuga dos desafios da realidade — a velha lógica de rir para não surtar.
Vídeos dançando na chuva durante furacões, piadas sobre uma possível Terceira Guerra Mundial, prepare-se comigo para o apocalipse, são bons exemplos.
O que diz a ciência
Outro estudo recente da Universidade de Cambridge apontou que o cérebro humano permanece em “fase adolescente” até os 32 anos. É o período de maior eficiência neural, mas também de maior sensibilidade emocional. Ou seja, do ponto de vista biológico, muitos jovens adultos ainda estão consolidando identidade, vínculos e sensação de segurança, justamente em um mundo que oferece cada vez menos estabilidade.
Amor, trabalho e o medo de se comprometer
Esse atraso simbólico da vida adulta aparece também nos afetos. Noutra pesquisa, 75% dos jovens estavam solteiros e não se relacionavam durante a pandemia — um dado que ajuda a entender a ruptura afetiva que se consolidou nos anos seguintes.
Desde então, o termo burnout amoroso ganhou força, representando uma aversão aos aplicativos de namoro, medo de se apegar e uma vigilância constante sobre “red flags” e “icks”.
Relacionar-se virou um campo minado: muita expectativa, pouca entrega e alto custo emocional.
No trabalho e no dinheiro a lógica é parecida. Dados recentes mostram isso:
27% da Geração Z têm mais dívidas do que economias, reflexo de um consumo mais imediato e da descrença no longo prazo;
58% dos jovens aceitam um emprego sem intenção de permanência;
46% dos jovens concorda com a afirmação: “Não importa o quanto eu trabalhe, nunca serei capaz de comprar uma casa que eu realmente ame”.
Infantilização ou adaptação
A geração claramente demonstra dificuldades de lidar com frustrações inevitáveis da vida adulta. Como consequência, surge esse “escapismo” da realidade, que se materializa através do consumo e dos comportamentos. O ursinho de pelúcia aos 20 e tantos anos é só a ponta do iceberg…
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