Por Bruno Ernesto
Sou mossoroense de coração, criação e, recentemente, cidadão por titulação da Câmara Municipal, o que muito me orgulha.
Independentemente disso, sou apaixonado pela sua história. Aliás, quem não o é?
Há diversas obras que falam sobre Mossoró, sua gente, seus personagens, seu nascimento, desenvolvimento e seu futuro.
Entretanto, quero falar do seu passado. Um passado que já dista mais de duzentos anos, cujo personagem principal é quase que desconhecido pelos próprios mossoroenses de nascença: Henry Koster.
Tal figura, um inglês, ao que se consta, foi o primeiro a colocar Mossoró no mapa da historiografia, quando ainda era chamado de arraial de “Santa-Luzia”, ao passar por Mossoró em 07 de setembro de 1811.
Podemos citar diversos viajantes estrangeiros no período colonial brasileiro que descreveram suas aventuras, passagens e andanças nas terras do Novo Mundo, relatando sua fauna, flora e o povo – já dito brasileiro-, como diria Darcy Ribeiro. Dentre eles, podemos citar Arséne de Paris, André Thevet, George Marfraff, Cuthbert Pudsey, Hans Staden, Pierre Moreau e muitos outros.
Porém, Koster difere dos demais por ter descrito com maior fidelidade o então arraial, que contava à época com pouco mais de trezentos habitantes e era formado basicamente por choupanas; formação típica do interior do Nordeste brasileiro naquele período.
Partiu do Recife/PE em 11 de outubro de 1810 a cavalo, tendo como destino a cidade Fortaleza/CE. Atravessou os Estados do Pernambuco e Paraíba antes de chegar a Mossoró.
Ao chegar, causou um certo alvoroço, tendo, inclusive, sido abordado por uma dita autoridade policial local que, desconfiada de que era Koster um mensageiro de Napoleão Bonaparte, forçou sua partida na mesma manhã.
Apesar do pouco tempo de sua estada em Mossoró, foi o suficiente para descrever o arraial como sendo um quadrângulo de casas pequenas e baixas, indicando, inclusive, a igreja recém-construída.
E onde entra o café nessa viagem? Deve você, leitor, estar se perguntando.
Bem, os dois volumes da obra Viagens ao Nordeste do Brasil, de Henry Koster, traduzida brilhantemente pelo mestre Luís da Câmara Cascudo, e cuja primeira edição foi impressa em 1816 em Londres, já é uma raridade.
Há alguns anos, saí cedinho para ir para universidade de Buenos Aires e, como de costume, me apressei para tomar um bom café espresso antes da aula.
Dessa vez, não lembro por qual motivo, tomei outro caminho do habitual e me deparei com um sebo. Minúsculo, quase imperceptível, cuja especialidade eram primeiras edições de livros dos mais variados assuntos e autores: Kardec, Marcel Proust, Borges e Koster. Para minha surpresa!
Fiquei fascinado, claro. Pedi à atendente para folhear a primeira edição do original de Koster. Após uns instantes, achei o que procurava. Estava escrito: “A 7 de setembro, às dez horas da manhã, chegamos ao arraial de santa-luzia, situada na margem setentrional do rio sem água, num terreno arenoso.”
Só fui tomar o café após o almoço!
Bruno Ernesto é advogado, professor e escritor
Também adoro Mossoró, principalmente quando está nevando.
Parabéns pela brilhante apresentação do dinâmico e profícuo trabalho histórico do grande Henry Koster. Coincidentemente é o Patrono da rua onde residia o saudoso historiador Raimundo Soares de Brito, no Conjunto Walfredo Gurgel. O magnífico artigo requer continuidade. Abraçaço.
Boa tarde. Nobre professor. Excelente registro côntigo-histórico. Sua leveza em descrever o cenário de nossa Mossoró de Santa Luzia…é romântica e culturalmente plena. Parabéns. Como bem disse o Dr. Marcos Pinto…pede continuidade…deixa ir fluindo…amigo.