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domingo - 11/05/2014 - 08:29h

Café, o presidente vice

Por François Silvestre

João café Filho foi um grande parlamentar. Fez-se conhecido nacionalmente ao tempo em que forjou uma liderança pessoal no Rio Grande do Norte, sem vínculo com os poderosos da política local nem com as oligarquias típicas da nossa vida provinciana.

Após o mandato de Eurico Dutra, a UDN viu a chance de abocanhar a Presidência. E tudo levava a crer nessa possibilidade. Contavam os udenistas com a repetição do nome do Brigadeiro Eduardo Gomes e com a candidatura divisionista de Adhemar de Barros, em São Paulo. O que certamente dividiria o trabalhismo e o populismo, encarnados por Vargas e Barros.

Com essa divisão e com a candidatura de Cristiano Machado, pelo PSD, partido criado por Vargas, os votos udenistas do Brigadeiro seriam suficientes para vencer.

Mas Getúlio mobilizou-se com vistas a conquistar o apoio adhemarista em São Paulo. Adhemar fora interventor do Estado, nomeado por Getúlio, de 1938 a 1941.

Adhemar cedeu e resolveu apoiar Getúlio. Mas fez uma exigência. Que o PSP indicasse o candidato a Vice. Na época, o presidente e o Vice eram votados separadamente. Adhemar de Barros indicou o potiguar Café Filho, pessoa que não gozava do afeto de Getúlio há muito tempo, mas foi engolido para não perder o apoio de São Paulo.

Eleitos, Getúlio Vargas e Café Filho continuaram distantes. O Vice-presidente, pela Constituição de 46, era automaticamente o Presidente do Senado. E nessa função, Café não perdia chance de futucar Getúlio.

Na crise que desaguou no suicídio de Vargas, Café propôs a renúncia de ambos. Getúlio recebeu a proposta como prova de traição.

Ao assumir a Presidência, Café não impôs autoridade aos getulistas, pelos motivos citados; nem aos udenistas, pois Lacerda queria que Café Filho adotasse medidas “excepcionais”, fora da Constituição, com o fim de evitar a candidatura e depois a posse de JK, com a derrota de Juarez Távora. Continuou Vice.

Ainda tentou convencer JK a não ser candidato. Após a eleição do pessedista, a UDN cobrou de Café uma ação contra a posse. Aí, ocorre um fato que determinou o fim do mandato de Café Filho.

No sepultamento do Gen. Canronbert Pereira da Costa, líder da Direita no Exército, Outubro de 1955, o coronel Bizarria Mamede faz um discurso exigindo que o governo não acatasse o resultado das eleições. O Gen. Henrique Lott, Ministro da Guerra, ouviu constrangido. Não deu voz de prisão ao coronel por respeito ao momento. Mas exigiu que ele fosse punido.

Impasse. Café Filho ficou na berlinda. Para agradar os udenistas teria de desmoralizar o Ministro. “Adoeceu” e afastou-se. Assumiu Carlos Luz, que não puniu Mamede e demitiu Lott.

O Ministro da Guerra pôs os tanques na rua. Depôs Carlos Luz, pôs Nereu Ramos na Presidência, impediu a volta de Café e garantiu a posse de JK. Isso é um resumo do retalho.

Té mais.

François Silvestre é cronista

* Texto originalmente publicado no Novo Jornal.

 

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Categoria(s): Crônica

Comentários

  1. NÓBREGA diz:

    Conta-se que Pedro Aleixo deixar a presidência da República teria dito a seguinte frase: “Nada fiz nada deixo, assinado Pedro Aleixo”, claro que se trata de uma ironia.
    Mas, levando em conta a descrição esboçada por François sobre o nosso conterrâneo Café Filho, sempre contemporizando e evitando o conflito bem que ele poderia ter dito encerrado seu curto mandato com a seguinte frase: “Nada fiz e nem criei empecilho, assinado Café Filho”.

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