domingo - 15/12/2013 - 09:51h

Cagados e cuspidos

Por François Silvestre

Os partidos políticos são todos muito parecidos, cuja diferença marcante só existe antes da ascensão ao poder.

Nos Estados Unidos, os dois principais partidos nem disfarçam sua identidade ideológica. Tanto que nenhum deles nega o liberalismo econômico ou a defesa da hegemonia americana no mundo. Suas “diferenças” são da parte posterior da casca, longe do miolo.

Os chamados partidos comunistas, longe da União Soviética, caso do Brasil, negavam o próprio sistema partidário da corte. Eram incontáveis, diante da agremiação única e ditatorial da sede central. A única coisa que eles tinham em comum, do ponto de vista programático, era uma excrescência chamada “centralismo democrático”.

Conservadores e trabalhistas, na Inglaterra, não diferem nem nas mesuras ao soberano. São tradicionalmente semelhantes. Assim como se vê entre a socialdemocracia e o socialismo no restante da Europa.

No Brasil não é diferente.

Os conservadores e liberais, do Império, só diferiam na formalidade. Os Saquarema e os Luzia. Uma frase de Holanda Cavalcanti, o Visconde de Albuquerque, dizia: “Nada se parece mais com um Saquarema do que um Luzia no poder”.

Vale notar que a maioria dos avanços sociais e humanos, no Império, deu-se sob gabinetes conservadores. Inclusive as legislações abolicionistas.

Quando nasce a República, já havia um Partido Republicano, fruto de dissidências numa ala liberal. Era muito mais um clube de propaganda. Tanto que nem teve relevância política no novo regime.

Quem assumiu o poder foi a aristocracia remanescente do Império, agora sob a égide do poder econômico, dominante nas duas províncias mais ricas. O Partido Republicano paulista e seu congênere mineiro. As tentativas de um Partido Republicano nacional só alcançaram resultados formais. Após o movimento de 1930, esses partidos murcharam.

Com o advento da Ditadura Vargas, no Estado Novo, não só morreram os partidos. O federalismo foi arquivado. Hinos e bandeiras das províncias foram extintos.

A redemocratização, consolidada pela ordem constitucional de 1946, trouxe na sua botija a formação de novos partidos. Dois deles criados à imagem e semelhança do ditador destronado. Um sustentado na base das forças getulistas rurais, o PSD. E o outro com a fisionomia urbana do getulismo, o PTB.

A oposição a Vargas aglutina-se numa agremiação típica do moralismo burguês, a UDN. Dividida entre puristas e oportunistas. Eram a Banda de Música e os Chapas Brancas. Fora deles, os personalistas, que usavam o Partido para ambições pessoais. Onde se enquadram Lacerda e Jânio Quadros.

Dentre os secundários, o PCB de Prestes e o PSP de Adhemar de Barros. Tudo assemelhado.

Vivemos a repetição. Só.

Nada se parece mais com um tucano do que um petista no poder.

Té mais.

François Silvestre é escritor

* Texto originalmente publicado no Novo Jornal.

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Categoria(s): Artigo / Política

Comentários

  1. danylima diz:

    Direta, clara e insofismavel.

  2. fernando ff diz:

    No Rn, a cara do PT tá igual ao DEM.

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