Por Marcos Pinto
Em 15 de Abril de 1925, com o seu eleitorado sofrendo contínuas ameaças veladas, chibateamentos e tropelias praticadas pelos jagunços de Décio Holanda e seu sogro Tilon Gurgel, deliberou o Coronel João Jázimo Pinto ir até Natal para, em audiência com o governador Dr. José Augusto Bezerra de Medeiros, narrar-lhe a triste situação de apreensão pela qual estava padecendo a grei Apodiense, com as frequentes incursões da jagunçada comandada pela satânica dupla, na cidade, e nos sítios pertencentes aos eleitores da sua facção política pacifista.
Após minuciosa exposição feita pelo Cel. Jázimo, o governador prontamente enviou para a cidade de Apodi um contingente policial formado por 40 praças, comandada pelo respeitado e temido Capitão Jacinto Tavares Ferreira, onde ficou aquartelada.
No dia imediato à sua chegada, o Capitão Jacinto fez uma varredura no prédio/sobrado pertencente ao Sr. Martiniano de Queiroz Porto (Natural do Ceará), truculento capitalista que compunha a virulenta facção política oposicionista comandada por Tilon Gurgel, Sebastião Paulo Ferreira Pinto, João de Deus F. Pinto, Juvêncio Barrêto, e os irmãos Benedito Saldanha e Quincas Saldanha.
Na incursão feita à residência do Martiniano, foram encontradas farta munição e 30 fuzis, razão pela qual despertara a atenção do Capitão Jacinto para a possibilidade de que o mesmo estava intentando formar milícia particular. Martiniano tinha um jagunço que residiu muitos anos com ele e que atendia pelo nome de Júlio Porto, que em 1927 já integrava o bando de Lampião, quando este acoitou-se na fazenda Bálsamo, no Pereiro-CE, preparando-se para os ataques à Apodi e Mossoró.
Há quem afirme que a fazenda “Bálsamo” tinha uma parte que pertencia a José Cardoso.
Com a atuação de eficaz comando e vigilância do Capitão Jacinto, que os celerados Benedito e Quinca Saldanha referiam-no como sendo “O Jacintão”,(Pela estatura elevada) os sicários Juvêncio Barrêto e Martiniano Porto mudaram-se do Apodi,(Final de Maio de 1925). O primeiro voltou para Martins, de onde era natural, e o segundo fixou residência em Pau dos Ferros-RN, onde o seu genro Dr. José Vieira era o Juiz de Direito da comarca.
Sentindo-se coibidos na prática contumaz da intimação, a horda virulenta comissionou a Tilon Gurgel e a Benedito Saldanha para parlamentarem com o governador, sob a falsa alegativa de que a força policial estava a causar transtornos na região do Apodi, cuja arguição visava retirar a força policial sediada em Apodi.
Quando encontravam-se em audiência com o governador, recebem telegramas informando-os da ocorrência do “Fogo de Pedra de Abelhas”. Na manhã do dia 12 de Maio de 1925 a tropa policial dirigiu-se até a povoação de “Pedra de Abelhas”, objetivando efetuar as prisões de Décio, Tilon Gurgel e toda a jagunçada.
Antes da força policial chegar ao seu destino, já Décio e Tilon eram sabedores de que o contingente estava vindo aos seus encontros, por mensageiro enviado por Martiniano Porto e Sebastião Paulo.
Quando Décio Holanda preparava-se para debandar com seus ” cabras”, empreendendo fuga rumo ao Ceará, eis que surge a tropa policial, travando-se cerrado tiroteio, no lugar “Barrocas do Boqueirão”, culminando com a desesperada fuga da jagunçada no rumo do rio Apodi, situado nas imediações.
Na ocasião do embate, morreu, afogado, um “cabra” de Tilon Gurgel, de nome Mamédio Belarmino dos Santos, da família dos “Caboclos”, do sítio “Brejo do Apodi”. Após este entrevero bélico, a tropa policial retornou ao Apodi, com a missão de retornar no dia seguinte, o que não se efetivou pela informação concreta de que o grupo armado do Décio se homiziara no Ceará.
Depois desta ocorrência coibitiva, a paz voltou a reinar naqueles rincões, mas, por pouco tempo, pois em 10 de Maio de 1927 o Tilon Gurgel arquitetou, via Décio Holanda, o ataque de parte do grupo de Lampião ao Apodi, comandado por Massilon, cujas minudências serão objeto de outro artigo.
Marcos Pinto é advogado e escritor
Caro Carlos;
O comportamento de Tilon narrado pelo amigo Marcos Pinto, eu no momento, não teria como contestar, até porque está inserido dentro dos padrões culturais da época, uns cem anos atrás. Mas para ilustrar parte da história incluiria junto com Tilos o Desembargadores Felipe Guerra seu cunhado e Horácio Barreto sobrinho afim do governador da época Ferreira Chaves que se instalaram no Brejo do Apodi, fazenda de Tilon, hoje a Cidade de Felipe Guerra, Com o fito de fazer oposição política ao Cel. João Jázimo Pinto líder absoluto do Apodi. Alem deles os irmãos Benedito e Quincas Saldanha, além do Juiz José Fernandes Vieira e outros. Era uma Guerra política e econômica também. Tilom empresário controlava comercio de cera de carnaúba e fruta de oiticica de enorme valor econômico na época. Seu irmão, o Cel Antonio Gurgel do Amaral, sequestrado por Lampião, foi durante muito tempo, junto con seus sócios alemães, o maior exportador de algodão do estado, tendo inclusive, assumido a prefeitura do Natal, Só para ilustrar um pouco mais a história e importância da família. Tilon era tio do Governador Walfredo Gurgel e Primo legitimo do presidente Humberto de Alencar Castelo Branco que era filho de Antonieta Gurgel de Alencar que era filha de Augusto Gurgel do Amaral que é filho de Antonio Gurgel do Amaral, irmão de Tibúrcio Valeriano Gurgel do Amaral pai de Tilon e meu bisavó. Já estou muito cansado, deixo para depois outros fatos. O julgamento de uma pessoa tem que levar em conta um todo e ajustata-la a cultura da época dos acontecimentos.
SOMENTE CORRIGIR MEU NOME
São estas histórias que enriquecem nossa cultura. Parabéns Doutor.
Obrigado distinto e nobre amigo Nilson de Sêo Alcides Belo e dona Célida. O seu importante e contextual relato traz em seu bojo um conteúdo histórico imensurável, amalgamando fatos e nomes para os anais que enriquem as páginas dos memoráveis livros. Conforme conversamos certo dia, o relato não tem o cunho de reacender uma intriga político-familiar como alguns incautos insinuam, nem ferir sensibilidades. Já existem inúmeros entrelaçamentos entre essas duas importantes e tradicionais famílias da região Oeste potiguar. Cito como exemplo o consórcio do meu parente Carlos Henrique, filho do empresário Hugo Pinto/Terezinha com Graciete Gurgel Nobre, filha de Paulo Nobre e esposa, que é filha de Tilon Gurgel, cujo nome me falha a memória, neste momento. Grande abraço Amigo Nilson.
Isto prezado amigo Nilson Gurgel é história pura e muito bem conceituada a sua colocação quanto à época. Meu avô seu avô usava palmatória para ensinar a antiga tabuada lembra? Hoje falar em palmatória dar processo! Um forte abraço amigo e rápida recuperação!