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domingo - 09/08/2015 - 11:26h

Cangaço na região Oeste do RN

Por Marcos Pinto

Em  15 de  Abril de  1925, com  o  seu  eleitorado  sofrendo  contínuas  ameaças  veladas,  chibateamentos  e  tropelias  praticadas  pelos  jagunços  de  Décio  Holanda  e seu  sogro  Tilon  Gurgel,  deliberou  o  Coronel  João Jázimo Pinto  ir  até Natal  para, em  audiência  com  o  governador  Dr.  José  Augusto  Bezerra  de  Medeiros, narrar-lhe  a  triste  situação de  apreensão   pela  qual  estava  padecendo a  grei  Apodiense, com  as  frequentes  incursões  da  jagunçada  comandada   pela  satânica  dupla,  na  cidade,  e  nos  sítios  pertencentes  aos  eleitores  da  sua  facção  política  pacifista.

Após  minuciosa  exposição  feita  pelo  Cel. Jázimo,  o governador  prontamente  enviou   para  a  cidade  de  Apodi  um  contingente  policial  formado  por  40  praças, comandada  pelo  respeitado  e  temido  Capitão  Jacinto Tavares  Ferreira, onde  ficou  aquartelada.

Casa de Quincas Saldanha (Foto: reprodução)

No dia  imediato  à  sua   chegada, o  Capitão  Jacinto  fez  uma  varredura  no prédio/sobrado  pertencente  ao Sr.  Martiniano  de  Queiroz  Porto (Natural do Ceará), truculento  capitalista  que  compunha  a  virulenta  facção política   oposicionista  comandada  por  Tilon  Gurgel, Sebastião  Paulo  Ferreira  Pinto, João  de  Deus  F. Pinto, Juvêncio  Barrêto,  e  os  irmãos  Benedito  Saldanha  e  Quincas  Saldanha.

Na  incursão  feita  à  residência  do  Martiniano, foram  encontradas  farta  munição e  30  fuzis, razão  pela  qual  despertara a  atenção  do  Capitão  Jacinto  para  a  possibilidade  de que  o  mesmo  estava  intentando  formar  milícia particular.  Martiniano  tinha  um jagunço  que  residiu  muitos  anos  com  ele  e  que atendia  pelo  nome  de  Júlio  Porto, que  em 1927  já  integrava o  bando  de  Lampião, quando  este  acoitou-se  na  fazenda  Bálsamo, no  Pereiro-CE, preparando-se  para  os   ataques  à  Apodi  e  Mossoró.

Há  quem  afirme  que  a  fazenda  “Bálsamo”  tinha  uma  parte  que  pertencia  a José  Cardoso.

Com  a  atuação  de  eficaz  comando  e  vigilância  do  Capitão  Jacinto, que  os  celerados  Benedito  e  Quinca  Saldanha  referiam-no   como sendo  “O Jacintão”,(Pela  estatura elevada) os  sicários  Juvêncio  Barrêto  e  Martiniano  Porto  mudaram-se  do  Apodi,(Final de Maio  de 1925). O  primeiro  voltou  para  Martins, de onde  era  natural,  e  o segundo fixou  residência  em  Pau  dos  Ferros-RN, onde  o  seu  genro  Dr. José  Vieira  era  o  Juiz  de  Direito  da  comarca.

Sentindo-se  coibidos  na  prática  contumaz  da  intimação, a  horda  virulenta  comissionou  a  Tilon  Gurgel  e  a Benedito  Saldanha  para  parlamentarem  com  o  governador, sob  a  falsa  alegativa  de  que  a  força  policial  estava  a  causar transtornos  na  região  do  Apodi, cuja  arguição  visava  retirar  a  força  policial  sediada  em  Apodi.

Quando  encontravam-se  em  audiência  com  o  governador, recebem  telegramas  informando-os  da  ocorrência  do  “Fogo de Pedra de Abelhas”. Na  manhã  do  dia  12  de  Maio  de  1925  a  tropa  policial  dirigiu-se  até  a  povoação  de “Pedra  de  Abelhas”, objetivando  efetuar  as  prisões  de  Décio, Tilon  Gurgel  e  toda  a  jagunçada.

Antes  da  força  policial  chegar  ao  seu  destino, já  Décio  e  Tilon  eram  sabedores  de  que  o  contingente  estava  vindo  aos  seus  encontros,  por  mensageiro  enviado  por  Martiniano  Porto  e  Sebastião  Paulo.

Massilon: com Lampião (Foto: reprodução)

Quando  Décio  Holanda preparava-se  para  debandar  com  seus ” cabras”, empreendendo  fuga rumo  ao Ceará, eis  que  surge  a  tropa  policial, travando-se  cerrado  tiroteio, no  lugar  “Barrocas  do  Boqueirão”, culminando  com  a   desesperada  fuga  da  jagunçada no  rumo  do  rio  Apodi,  situado  nas  imediações.

Na  ocasião  do  embate, morreu,  afogado, um  “cabra”  de  Tilon  Gurgel, de  nome  Mamédio  Belarmino  dos  Santos, da família  dos  “Caboclos”,  do  sítio  “Brejo  do  Apodi”. Após  este  entrevero bélico,  a  tropa  policial  retornou  ao  Apodi,  com  a  missão  de  retornar  no dia  seguinte, o que  não  se  efetivou  pela  informação  concreta  de  que  o  grupo  armado  do  Décio  se  homiziara  no Ceará.

Depois  desta  ocorrência coibitiva, a  paz  voltou  a  reinar  naqueles  rincões, mas, por  pouco  tempo, pois  em  10  de  Maio  de  1927  o  Tilon  Gurgel  arquitetou, via  Décio  Holanda,  o  ataque  de parte  do  grupo  de  Lampião ao  Apodi, comandado  por  Massilon, cujas  minudências  serão objeto  de  outro  artigo.

Marcos Pinto é advogado e escritor

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Categoria(s): Artigo

Comentários

  1. NILSON EURGEL fERNANDES diz:

    Caro Carlos;
    O comportamento de Tilon narrado pelo amigo Marcos Pinto, eu no momento, não teria como contestar, até porque está inserido dentro dos padrões culturais da época, uns cem anos atrás. Mas para ilustrar parte da história incluiria junto com Tilos o Desembargadores Felipe Guerra seu cunhado e Horácio Barreto sobrinho afim do governador da época Ferreira Chaves que se instalaram no Brejo do Apodi, fazenda de Tilon, hoje a Cidade de Felipe Guerra, Com o fito de fazer oposição política ao Cel. João Jázimo Pinto líder absoluto do Apodi. Alem deles os irmãos Benedito e Quincas Saldanha, além do Juiz José Fernandes Vieira e outros. Era uma Guerra política e econômica também. Tilom empresário controlava comercio de cera de carnaúba e fruta de oiticica de enorme valor econômico na época. Seu irmão, o Cel Antonio Gurgel do Amaral, sequestrado por Lampião, foi durante muito tempo, junto con seus sócios alemães, o maior exportador de algodão do estado, tendo inclusive, assumido a prefeitura do Natal, Só para ilustrar um pouco mais a história e importância da família. Tilon era tio do Governador Walfredo Gurgel e Primo legitimo do presidente Humberto de Alencar Castelo Branco que era filho de Antonieta Gurgel de Alencar que era filha de Augusto Gurgel do Amaral que é filho de Antonio Gurgel do Amaral, irmão de Tibúrcio Valeriano Gurgel do Amaral pai de Tilon e meu bisavó. Já estou muito cansado, deixo para depois outros fatos. O julgamento de uma pessoa tem que levar em conta um todo e ajustata-la a cultura da época dos acontecimentos.

  2. NILSON GURGEL FERNANDES diz:

    SOMENTE CORRIGIR MEU NOME

  3. ALDENOR FERNANDES DE SOUSA diz:

    São estas histórias que enriquecem nossa cultura. Parabéns Doutor.

  4. Marcos Pinto. diz:

    Obrigado distinto e nobre amigo Nilson de Sêo Alcides Belo e dona Célida. O seu importante e contextual relato traz em seu bojo um conteúdo histórico imensurável, amalgamando fatos e nomes para os anais que enriquem as páginas dos memoráveis livros. Conforme conversamos certo dia, o relato não tem o cunho de reacender uma intriga político-familiar como alguns incautos insinuam, nem ferir sensibilidades. Já existem inúmeros entrelaçamentos entre essas duas importantes e tradicionais famílias da região Oeste potiguar. Cito como exemplo o consórcio do meu parente Carlos Henrique, filho do empresário Hugo Pinto/Terezinha com Graciete Gurgel Nobre, filha de Paulo Nobre e esposa, que é filha de Tilon Gurgel, cujo nome me falha a memória, neste momento. Grande abraço Amigo Nilson.

  5. Luiz Anselmo Amirim diz:

    Isto prezado amigo Nilson Gurgel é história pura e muito bem conceituada a sua colocação quanto à época. Meu avô seu avô usava palmatória para ensinar a antiga tabuada lembra? Hoje falar em palmatória dar processo! Um forte abraço amigo e rápida recuperação!

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