Por François Silvestre
Dentre todas as causas, remotas ou imediatas, que influíram na queda do Império, duas merecem destaque especial: O rompimento da Igreja Católica com a Maçonaria, resultando na prisão de bispos, e o projeto de Lei que pretende criar o montepio dos militares, que resulta na crise do “soldado-cidadão”.
A Maçonaria esteve presente desde os primeiros anseios de independência, não nos movimentos nativos, mas nas aspirações do próprio poder local. Basta acentuar a condição maçônica de José Bonifácio e do Príncipe D. Pedro. Após a partida de D. João e o fim da proibição de sociedades secretas.
Com raízes na Cavalaria dos Templários, a Maçonaria ao longo da História foi deixando sua fisionomia misteriosa e mística para assumir uma feição sócio-corporativa. Mas continuou, como grupo de pressão, influente nas decisões políticas. E seu “mistério” ficou mantido através da lenda do seu “segredo”. Nuvem secreta inexistente, pois nenhum segredo sobrevive a mais de duas pessoas. E a Maçonaria é uma multidão.
Até o início da década de Setenta, do Século Dezenove, o Império conviveu em paz com a Igreja e a Maçonaria. Muitos clérigos eram maçons declarados. Até que um episódio, aparentemente pouco importante, pôs fim a essa harmonia.
É de bom alvitre informar que o Estado imperial não era laico. O catolicismo era oficial, disposição da Constituição do Império, de 1824. Em 1827, o Vaticano reconhece essa condição e por meio de uma Bula Papal (decreto do Pontífice) dá ao Imperador poderes de beneplácito. Isto é, pode o Imperador conceder nobiliarquias religiosas e referendar ou não as bulas papais, para que tenham vigência no Brasil.
O episódio referido se deu numa homenagem prestada ao Visconde do Rio Branco, chefe do conselho de Ministros, em Março de 1872, pelas Lojas Maçônicas do Rio de Janeiro, com a saudação ao maçom ilustre feita pelo padre Almeida Martins, como orador oficial do Grande Oriente do Lavradio. O pretexto da homenagem era a promulgação da Lei do Ventre Livre, de Setembro do ano anterior, que excluía da escravidão os negros nascidos após aquela data.
O padre fez o discurso a caráter, com vestes talares. O que provocou repulsa de clérigos antimaçônicos. Não satisfeito, o padre orador deu divulgação ampla da sua “oração” em jornais leigos e religiosos.
O bispo do Rio de Janeiro, D. Pedro Maria, repreende o sacerdote e exige retratação. O padre ignorou a reprimenda e foi suspenso.
No mês seguinte, na abertura da Assembleia Geral dos Povos Maçônicos, o Grão Mestre Joaquim Saldanha Marinho ataca violentamente a Igreja Católica. Numa preleção ríspida não poupa pessoas nem liturgia. Acusa o catolicismo de falsa cristandade; vendedores de indulgências, negadores da pobreza do Cristo. Atacou padres e bispos. “Bando de hipócritas” foi das expressões mais suaves.
Continua Domingo.
Té mais.
François Silvestre é escritor e cronista
* Texto originalmente publicado no Novo Jornal
François
A repetição de fatos da história brasileira somente se justificaria se você tivesse algum fato novo a acrescentar, quando muito fazer uma ligação com a situação vigente atualmente.
Você sabidamente, tem uma boa cultura, que tal versar sobre temas da atualidade mesmo fazendo conexão com fatos históricos?
Abraços
Lourinaldo Nóbrega
Sr. François.
Mesmo que conheça algo do assunto, é muito bom vê-lo sob a ótica dos mais entendidos. Ainda mais explicada, assim, de forma clara e interessante : ” nenhum segredo sobrevive a mais de duas pessoas.”
Aguardo o domingo.