Vivem quase que exclusivamente às custas dos serviços públicos oferecidos pela Prefeitura ou pelo Estado. Círculos viciosos de favores e mercês que não fazem mais do que alimentar precisões imediatas e com um valor que se extingue na satisfação da necessidade.
O que poderia se limitar a uma espécie de refrigério dos pobres, esses adjutórios se estendem também aos mais abastados, que não perdem uma oportunidade de conseguir uma passagem de ônibus do interior para a capital. Mesmo quem não precisa, também se aproveita e marreta o erário público. Comportamento não nosso desconhecido, pois, remete às nossas parasitárias elites e classe média, formadoras das arquitraves que nos constituem como país.
Ocorre que essa dependência cria um círculo vicioso de preguiça, ausência de responsabilidade e negligência para com um projeto de vida que dignifique as pessoas e as famílias do lugar. Vive-se por que existe. Nada justifica o fato de se encontrar no mundo.
É bastante significativo o fato de uma grande parte da população dormir ou se embriagar muito: não há nada para se fazer. Sei que o calor favorece a sonolência, porém, não a justifica de todo. De outra parte, não é simples coincidência o fato da maioria viver envolvida com tratamentos médicos, cuja semiótica referente a algumas espécies de doenças é de há muito tida como de origem somática, ou seja, a cabeça criando chagas para que haja uma espécie de justificativa perante a tediosa e arrastada passagem do tempo.
Não é difícil constatar esse fenômeno, basta observar como muitas pessoas sentem um enorme prazer de falar sobre infindáveis doenças crônicas que as acometem. É como se a doença e seus sofrimentos fossem elevados a uma espécie de esquisito valor.
Uma segunda fonte de renda, dinamizadora da economia – pelo menos uma vez por mês – é o chamado “aposento dos velhos”, minguado salário mínimo sustentador de toda uma legião de parasitas: filhos, sobrinhos, netos e agregados, eternamente esperando o pagamento mensal.
O que podemos aguardar dessas comunidades na qual tudo o que se refere à vida espiritual encontra-se mirrado?
A Igreja Católica, de certa maneira, preenchia essa necessidade de arte, quero dizer, de música, canto, teatro, enfim, de uma ópera entorpecedora dos sentidos, para que estes vibrassem e impusessem um distanciamento da consciência trágica da vida, representada pelos problemas cotidianos. Porém, tudo mudou. Além da crise generalizada da fé e do pouco interesse dos praticantes em ser também igreja (microcosmo da instituição), os rituais foram sendo simplificados, gerando pouco ou nenhum interesse.
As antigas gerações se recusam a aceitar o exagero dos novos ritos, acostumadas que estavam com a associação entre o sagrado e o Belo. Quem sabe se possa dizer que essas pequenas cidades paguem o preço mais alto pelo mal-estar generalizado do nosso tempo, já que as metrópoles detêm toda uma paisagem que, infestada por imagens, signos e sons logram um êxito de enganar os sentidos e, por tabela, a cabeça, derrotando ilusoriamente o tempo que sorri indiferente.
Márcio de Lima Dantas é professor universitário e tradutor – mdantas7@bol.com.br
Muito bom o comentário.Só que a questão climática no texto, é quase uma defesa do determinísmo geográfico de Ratzel,que desencadiou processos de xenofobia e dominio por parte de países rícos sobre os pobres.No restante,é realmente um retrato fiel do interior.À falta do que fazer,o clientelísmo,paternalísmo e demais “ismos” afloram como ervas daninhas em um campo que por “descuido”,não foi cuidado.Moro no interior,e tenho certeza, que além de uma praça em frente à matriz,outras “coincidências” nos aproximam.E tome exôdo.lamentável!