“Primeiro moldamos as cidades, então, elas nos moldam”, (GEHL, 2013)
Por Zildenice Guedes
Segundo a ONU (2017), a expectativa é que até 2050 mais de 75% da população mundial estará nas cidades ocupando o espaço urbano. Essa projeção tem por base os dados das últimas décadas em que o processo de urbanização tem se intensificado, e em consequência disso, há um aumento direto por mais utilização de recursos naturais.
Aqui no Brasil, os dados (Embrapa, 2017), apontam que mais de 80% da população tem migrado para as cidades nas últimas décadas. E como em outras cidades do mundo, o fenômeno da urbanização está associado ao aumento da densidade demográfica em que se percebe um inchaço nas cidades, maior demanda por energia, utilização de recursos de uma forma geral (água, empregos, espaços públicos, transporte, educação, saúde, etc.).
E percebemos ainda que, a migração para a cidade, está na maioria das vezes, associada a busca por melhores oportunidades, realização dos sonhos, acesso a melhores serviços públicos e privados, e para além dessas questões.
No Brasil, são 5.572 munícipios, ou seja, cidades em que percebe-se uma complexa diferenciação nos processos e dinâmicas da conformação desses espaços urbanos. E nesse sentido, estudos, reflexões e proposições vem sendo delineadas para pensar em formas mais sustentáveis de pensar as cidades. De modo que esses espaços pensem e definam seus processos considerando as demandas humanas em sintonia com o meio ambiente no qual estão inseridas.
E é olhando para a cidade que temos e pensando na cidade que queremos, que se propõe reconhecer o papel de áreas verdes como elementos fundamentais e que prestam serviços ecossistêmicos essenciais para a pessoa humana e outras espécies, em uma perspectiva sistêmica. Segundo Mauricio Lamano Ferreira, Alessandro Zabotto e Fernando Periotto (2021, p. 16), as áreas verdes precisam ser consideradas nas cidades, pois:
Além de promoverem a manutenção da biodiversidade, estes espaços auxiliam na regulação do ciclo hidrológico e da temperatura do ar, além de atenuar a poluição atmosférica e sonora, trazendo benefícios para a saúde física e mental dos habitantes da região. Circundando as cidades, as áreas periurbanas formam, muitas vezes, cinturões verdes que ajudam a garantir a segurança hídrica e alimentar da população.
E pensar as cidades nessa perspectiva é importante? E sendo, com base em que fundamentamos essa argumentação? A questão embora complexa, pode ser colocada de forma clara também. Se pensarmos nos problemas que temos hoje nas cidades (poluição atmosférica, contaminação dos recursos hídricos e sua escassez, crise sanitária, desigualdade social, etc.), identificamos nas cidades brasileiras, assim como em outros países, que esses desafios são agravados exatamente por não termos enquanto sociedade, considerado a sustentabilidade do meio como um elemento norteador para as políticas públicas e para o processo de urbanização como um todo.
Não é a por acaso que esse artigo tem como título essa afirmativa de Gehl (2013). Se queremos a garantia de permanência humana no espaço urbano, esse precisa ser pensado de forma conectada com a natureza e o meio que o circunda. A arborização é fundamental, pois, garantirá para as presentes e futuras gerações um equilíbrio ambiental de interação com o meio. Quando se promove políticas públicas repensando os modelos de ocupação urbana, os espaços urbanos se tornam inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis.
Implica assim em reconhecer que a nossa qualidade de vida está totalmente relacionada a saúde dos ecossistemas urbanos. E Gehl (2013) tem razão. No Brasil, assim como em outros países em desenvolvimento, é para ontem repensar os modelos de ocupação urbana, bem como entender que um futuro sustentável está relacionado diretamente com o desenvolvimento verde das cidades.
Já parou para pensar o quanto vale respirar ar puro, usufruir gratuitamente da sombra de uma árvore, caminhar em áreas verdes? Esse artigo tem essa finalidade, nos inquietar para a reflexão de o quanto as nossas demandas humanas podem e precisam estar conectadas com o meio ao qual estamos inseridos.
Trata-se de não colocar a pessoa humana no centro das tomadas de decisões, mas colocá-la ao lado de questões que são muito relevantes para que todos possamos usufruir de uma cidade sustentável em que os recursos naturais são tão importantes quanto os recursos econômicos. Impossível? De modo algum! Muitas cidades estão considerando que o futuro é sustentável e chegou. Embora seja um desafio, ai também reside grandes oportunidades ambientais, sociais e econômicas.
Zildenice Guedes é professora-doutora em Ciências Sociais e gerente executiva de Educação Ambiental na Prefeitura de Mossoró
Beleza de artigo. Esclarecedor. Parabéns pelo texto.
O que impede a prefeitura de Mossoro estimular o plantio de árvores frutíferas com a distribuição de mudas de abacateiros, mangueiras, goiabeiras etc.
Teríamos o verde tão necessário e ainda alimentos para os mais pobres.
Belém do Pará é conhecida como a cidade das mangueiras. E as mangueiras nasceram fruto de um trabalho muito inteligente de administradores que estavam preocupados com o clima e com a produção de frutas para as futuras gerações.
Fica a sugestão e meus parabéns pelo artigo.
Arborize a cidade. Saia do artigo e coloque a mão na massa. Plante uma árvore. Que acha da ideia? Não vejo programa de plantio de árvores. No discurso, tudo é fácil. Fui ao horto local e me informaram que não tinham mudas. E aí vejo e leio esse artigo. Aí dá vontade de rir. Sei lá, de chorar?
É só sair da internet e ir ver tudo que já foi feito, buscar pesquisar e se basear em fatos reais já que já teve vários plantios desde o começo do programa, que inclusive são plantios abertos ao público, e diante dos plantios também se tem doações de mudas e palestras, visando a educação ambiental.. e a divulgação é realizada por meio vários canais, creio que você não tenha participado de nenhum já que está tão desinformado!
Meio ambiente, fome, pandemia, e o dinheiro do capitalismo sendo voltado para metaverso e mandar o homem para o espaço! Parece que preferem morar em outro mundo, físico ou virtual do que suprimir os problemas do nosso!