Pra se fazer um comício
Em tempo de eleição
Não carece de arrodei
Nem dinheiro muito não
Basta um F-4000
Ou qualquer mei caminhão
Entalado em beco estreito
E um bandeirado má feito
Cruzando em dez posição.
Um locutor tabacudo
De converseiro comprido
Uns alto-falante rouco
Que espalhe o alarido
Microfone com flanela
Ou vermelha ou amarela
Conforme a cor do partido.
Uma gambiarra véa
Banguela no acender
Quatro faixa de bramante
Escrito qualquer dizer
Dois pistom e um taró
Pode até ficar melhor
Uma torcida pra torcer
Aí é subir pra riba
Meia dúzia de corruto
Quatro babão, cinco puta
Uns oito capanga bruto
E acunhar na promessa
E a pisadinha é essa:
Três promessa por minuto.
Anunciar a chegança
Do corruto ganhador
Pedir o "V" da vitória
Dos dedo dos eleitor
E mandar que os vira-lata
Do bojo da passeata
Traga o home no andor.
Protegendo o monossílabo
De dedada e beliscão
A cavalo na cacunda
Chega o dono da eleição
Faz boca de fechecler
E nesse qué-ré-qué-qué
Vez por outra um foguetão.
Com voz de vento encanado
Com os viva dos babão
É só dizer que é mentira
Sua fama de ladrão
Falar dos roubo dos home
E tá ganha a eleição.
E terminada a campanha
Faturada a votação
Foda-se povo, pistom
Foda-se caminhão
Promessa, meta e programa…
É só mergulhar na Brahma
E curtir a posição.
Sendo um cabra despachudo
De politiquice quente
Batedorzão de carteira
Vigaristão competente
É só mandar pros otário
A foto num calendário
Bem família, bem decente:
Ele, um diabo sério, honrado
Ela, uma diaba influente
Bem vestido e bem posado
Até parecendo gente
Carregando a tiracolo
Sem pose, sem protocolo
Um diabozinho inocente.
Jessier Quirino
UM VERDADEIRO DESABAFO . MUITO LEGAL
Ma-ra-vi-lha!!! Não sei quanto tempo faz que Jessier Quirino escreveu esses versos, mas que são bem atuais, não tenho a mínima dúvida. Obrigado por brindar-mos com esta pérola.
Carlos, conheci um pouco da obra de Jessier Quirino há mais ou menos dois anos. São poemas matutos lindíssimos, de muita poesia e que muito retratam a realidade do povo sertanejo, seja na política, seja na religião, seja no dia-a-dia da família nordestina. Realmente Jessier é um poeta dos mais talentosos. Recomendo que veja também outros poemas do mesmo autos, como “Parafuso em cabo de serrote”, por exemplo. Vale a pena. Ah, e obrigado, como leitor, por nos trazer trabalhos artísticos dessa magnitude. A cultura popular nordestina precisa de canais de divulgação como o seu para não ficar soterrada pela mídia enlouquecida que prefere dar espaços para “Egüinha Pocotó”, “Créu” e outras besteiras absurdas. Forte abraço, Alcimar.
Arretado e verdadeiro!
Tive recentemente o prazer de assistir o show de Jessiê Quirino aqui em Fortaleza onde ele declamou/cantou este e outros poemas tão bons quanto !!
SHOW DE BOLA