• Cachaça San Valle - Topo - Nilton Baresi
domingo - 21/11/2010 - 11:42h

Considerações sobre o sono


A pessoa que dorme está inteiramente só.

Quando o homem dorme, o seu rosto se desmarca de todas as tramas e de todos os desgostos.

Nada enternece mais uma mulher que o rosto do amante, dormindo.

Ela se debruça sobre a face do amado e descobre que eram simples palavras todas as valentias que ele lhe vinha dizendo ou dando a entender. É quando a gente se parece menos com os mortos… é quando se está dormindo.

Quanto mais pobre mais comovente o ser humano que dorme. 

No sono, a imobilidade das pessoas boas e confiantes é sempre desarrumada.

Gente má dorme em posição de sentido.

Cada travesseiro tem um lugar e uma importância definidos na vigência do sono.

Não há nenhum abandono casual, nas pernas, nos braços ou na cabeça de quem dorme, porque o corpo realiza, desde que haja espaço, sua única posição realmente confortável.

Experimente descobrir na mulher que dorme a seu lado, um ser infinitamente decente, muito além de sua capacidade de fazer-lhe uma razoável justiça. 

Quanta luz nos corpos despidos das mulheres claras! Seria uma demasia de requinte ou de louvação, fazê-las dormir sobre lençóis negros?  

A mais leve carícia de sua mão sobre o corpo da amada que dorme poderá quebrar a solidão do sono e a tranqüilidade da carne já não seria completa (contente-se em enternecer-se, sem tocá-la).

Se for preciso despertá-la, que seja com ruídos aparentemente casuais.

Ah, que intensos ciúmes, no passado e no futuro, sobre a nudez da amada que dorme! Só você a viu, só você a verá assim tão bela!

Nas mulheres que dormem vestidas há sempre, por menor que seja, um sentimento de desconfiança.

A amada tem sob os cílios a sombra suave das nuvens.  Seu sossego é o de quem vai ser flor, após o último vício e a última esperança.

Um homem e uma mulher jamais deveriam dormir ao mesmo tempo, embora invariavelmente juntos, para que não perdessem, um no outro, o primeiro carinho de que desperta.

Mas, já que é isso impossível, que ao menos chova, a noite inteira, sobre os telhados dos amantes.

Antônio Maria (1921-1964) – Jornalista, compositor, produtor de jingles, diretor de rádio, produtor cultural, cronista, esse pernambucano brilhou na imprensa carioca entre o final dos anos 40 e início dos anos 60.

* Crônica publicada originalmente no dia 17 de janeiro de 1956.

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Categoria(s): Blog

Comentários

  1. itamar de sousa diz:

    “a mulher é a poesia de DEUS,o ho,em a simples prosa'”
    NAPOLEAO BONAPARTE = B DOMINGOP TDS[AS]

  2. Salete Ribeiro diz:

    A MULHER É A MUSA INSPIRADORA, O HOMEM ÀS VEZES, É UM POETA QUE NÃO SABE DECLAMAR… POR ISSO, TANTOS DESENCANTOS PARA UMA VIDA TÃO BREVE! FAÇAMOS HOJE; PORQUE AMANHÃ, PODERÁ SER TARDE!

  3. WILLIAM PEREIRA diz:

    A mulher é um animal de mais de dez buracos, tem uns bons e outros ruins, devemos aprender a controlar uns e usar outros com carinho e cuidado, assim seremos felizes. Os mais perigosos são os olhos, ouvidos e boca, principalmente os ouvidos. Os de baixo já criaram até guerra mundial. Então ame sua mulher e muita, muita atenção o que vc faz com os buracos delas. Lembre-se que de um buraco nascemos, num gozamos e para um buraco mortos iremos. Viva a vida Viva a mulher. Você viveria com uma mulher sem buraco?

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