Por Honório de Medeiros
Não é fácil compreender que o capitalismo é um subsistema (um fato), e o socialismo uma ideologia. A outra face ideológica do socialismo é o liberalismo, mas ambos são produto do subsistema que é o capitalismo.
O capitalismo, que é um fato, como dito acima, engendra soluções adaptativas para se manter e/ou ampliar seu espaço. Uma delas é a criação de instrumentos ideológicos, como o Estado, por intermédio dos quais os homens são manipulados em suas circunstâncias de vida especÃficas.
Tampouco é fácil compreender a ontologia de um sistema.
Desde a “Teoria Geral dos Sistemas”, de Ludwig von Bertanlaffy, que “a besta”, como ele a denomina, preenche o tempo dos estudiosos de todos os campos do conhecimento, desde a virologia à linguagem de programação dos computadores quânticos, passando pelas ciências ditas sociais. Embora compreender o que é um sistema não seja fácil, não é tão difÃcil perceber que tudo quanto nos cerca é uma realidade em processo, um sistema dinâmico.
Basta ler, por exemplo, “Emergence (The Connected Lives of Ants, Brains, Cities and Software)” de Steven Johnson, que a tradutora optou por traduzir como “Emergência (A dinâmica de rede em formigas, cérebros, cidades e softwares).
Do quê trata Johnson em seu livro?
Em sÃntese: do surgimento de complexos sistemas adaptativos, tais como formigueiros, cérebros, cidades, softwares, e assim por diante.
“O que une esses diferentes fenômenos é uma forma e um padrão recorrentes: uma rede de auto-organização, de agentes dessemelhantes que inadvertidamente criam uma ordem de nÃvel mais alto”, diz ele. Leia De formigas, cérebros, cidades e softwares, no qual faço um resumo da obra de Johnson.
Ele chama esse tipo de “surgimento”, no qual um organismo complexo pode se aparecer sem que haja um lÃder para planejar e dar ordens, sem hierarquia e comando, via a “mão invisÃvel e fantasmagórica da auto-organização”, de “comportamento emergente”.
As raÃzes dessa densa teoria repousa no solo fértil do pensamento de Adam Smith, Charles Darwin, Alan Turing e, embora não citado pelo autor, Ilya Prigogine e sua teoria do caos e do atractor. E, claro, Richard Dawkins e seu antológico último capÃtulo de “O Gene EgoÃsta”, no qual propõe a teoria do “meme” que, por si só, é um “meme”, esse inesperado momento zero do surgimento de um novo subsistema cultural dentro de outro maior.
Pois bem, enquanto tais discussões ocupam o tempo e o pensamento da vanguarda da ciência, os homens ainda se ocupam em tentar firmar um debate de natureza ideológica entre socialismo e capitalismo. Nada mais arcaico.
Aliás, nada tão arcaico quanto a produção intelectual na área de ciências sociais. Ou ciências humanas.
Mal sabem eles que a apropriação da mais-valia produzida pelo homem, esse fato inerente ao subsistema capitalista, existe sob qualquer ideologia, sob qualquer bandeira, sob qualquer credo.
O que difere, de um para o outro, é o conto-da-carochinha com o homem que será enganado por aqueles que pensam controlar as circunstâncias, a realidade, quando na verdade por elas são controlados.
Honório de Medeiros é professor, escritor e ex-secretário da Prefeitura do Natal e do Governo do RN
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