Por François Silvestre
Há dez anos, o Rio Grande do Norte perdeu Cortez Pereira. Porém, bem antes disso ele perdera o sossego e se viu mergulhado num cipoal de traições e desilusões.
Era um grande homem.
Professor inesquecÃvel.
Tive com ele uma relação de amizade, que nem o episódio da minha prisão, durante seu governo, foi capaz de macular.
Muita gente tentou vincular minha prisão ao seu governo, pois eu fora preso no dia seguinte de uma vista que fez D. AÃda Cortez à Casa do Estudante. Durante a solenidade, eu pedi a palavra e fiz um discurso violento contra o governo Médici e denunciei o governo Cortez de ser biônico, sem votos e aliado servil da Ditadura. E que Médici era resultado atávico do nazi-fascismo.
D. AÃda estava grávida. Desligaram o som, mas eu continuei falando.
No dia seguinte, fui preso. Primeiro no 16/RI, depois na Colônia Penal.
Por esse motivo fui condenado a dois anos de reclusão, pela Auditoria Militar do Exército, em Recife. Mas eu nunca responsabilizei Cortez pela minha prisão.
Declarei publicamente que Cortez não tinha força para prender nem prestÃgio para soltar ninguém. Quem mandava era uma força de cima, fora do controle dele.
Ele mesmo usou essa minha citação para defender-se quando foi questionado sobre esse episódio numa entrevista na televisão.
Cortez foi traÃdo por seus correligionários, daqui mesmo, a serviço da Ditadura, quando ele não era mais útil ao poder ditatorial.
No próximo post vou contar, citando nomes, uma dessas traições.
François Silvestre é escritor
* Texto originalmente publicado no Portalnoar (21-02-14).
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