Por Ney Lopes
Terça próxima, em clima de tensão política, a independência do Brasil estará sendo comemorada.
O historiador Laurentino Gomes escreveu o livro “1822”, em que aborda o 7 de setembro histórico.
Neste livro há fatos pitorescos sobre o grito do Ypiranga. A seguir algumas transcrições de relatos ligados à nossa Independência.“O destino cruzou o caminho de D. Pedro em situação de desconforto e nenhuma elegância.
Ao se aproximar do riacho do Ipiranga, às 16h30 de Sete de setembro de 1822, o príncipe regente, futuro imperador do Brasil e rei de Portugal, estava com dor de barriga.
Testemunha da ocorrência, o coronel Manuel Marcondes de Oliveira Melo, subcomandante da guarda de honra e futuro Barão de Pindamonhangaba.
“A montaria usada por D. Pedro nem de longe lembrava o fogoso alazão que, meio século mais tarde, o pintor Pedro Américo colocaria no quadro “Independência ou Morte”.
O coronel Marcondes se refere ao animal como uma “baia gateada”.
Acompanhavam D. Pedro o coronel Marcondes; o padre Belchior; o secretário itinerante Luís Saldanha da Gama, futuro Marquês de Taubaté; o ajudante Francisco Gomes da Silva e os criados particulares João Carlota e João Carvalho. (Todos eles se tornaram testemunhas da Independência).
“Só ao cair da tarde daquele Sete de setembro, a comitiva chegou à colina do Ipiranga. D. Pedro ainda estava no alto da colina quando chegou a galope, vindo de São Paulo, o alferes Francisco de Castro Melo e Canto.
Ao se encontrar com a comitiva real, Melo e Canto trazia notícias inquietantes.
A notícia dizia que informações vindas de Lisboa davam conta do embarque de 7 100 soldados que, somados aos 600 que já tinham chegado à Bahia, tentariam atacar o Rio de Janeiro e esmagar os partidários da Independência.
“Quatro anos mais tarde, em depoimento por escrito, o padre Belchior registrou o que havia testemunhado a seguir:
“D. Pedro, tremendo de raiva, arrancou de minhas mãos os papéis e, amarrotando-os, pisou-os e deixou-os na relva. Depois, virou-se para mim e disse: – “E agora, padre Belchior?”
Eu respondi prontamente: “Se Vossa Alteza não se faz rei do Brasil será prisioneiro das Cortes e, talvez, deserdado por elas. Não há outro caminho senão a independência e a separação.
“D. Pedro caminhou alguns passos, silenciosamente, acompanhado por mim, Cordeiro, Bregaro e Carlota.
De repente, estacou já no meio da estrada, dizendo-me:
“Padre Belchior, eles o querem, eles terão a sua conta. As cortes me perseguem, chamam-me com desprezo de rapazinho e de brasileiro. Pois verão agora quanto vale o rapazinho. De hoje em diante estão quebradas as nossas relações. Nada mais quero com o governo português e proclamo o Brasil, para sempre, separado de Portugal”.
Respondemos imediatamente, com entusiasmo: – Viva a Liberdade! Viva o Brasil separado! Viva D. Pedro!
“Pela descrição do padre Belchior não houve sobre a colina do Ipiranga o brado “Independência ou Morte”.
- Pedro arrancando do chapéu que ali trazia a fita azul e branca, a arrojou no chão, sendo nisto acompanhado por toda a guarda que, tirando dos braços o mesmo distintivo, lhe deu igual destino.
– “E viva o Brasil livre e independente! ”, gritou D. Pedro.
“Acompanhado pela guarda de honra, desde aquele momento rebatizada com o pomposo nome de “Dragões da Independência”, D. Pedro chicoteou a sua “baia gateada” para vencer os últimos cinco quilômetros do total de setenta que percorria naquele dia.
Faltava uma hora para o pôr do sol, quando entrou em São Paulo saudado pelos sinos das igrejas e pelos escassos moradores que se aglomeravam nas ruas de terra batida”.
Ney Lopes é jornalista, ex-deputado federal e advogado
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