No rumo do remanso na beira da Serra das Almas, passei por Martins para dois dedos de prosa com Seu Antônio de Luzia, que Deus o mantenha tal qual está.
Perguntei-lhe como iam as coisas, e ele, naquela sua voz arrastada e grave, me disse que “do mesmo jeito, só que mais velhas”.
Era um final de tarde meio quente, no SÃtio Canto. Só vez por outra alguém passava e arriscava um dedo de prosa.
E nós dois, como d’outras vezes, café tomado, calados, cabeça pousada por inteiro no espaldar das cadeiras de balanço, nos entregávamos à quietude e ao canto dos passarinhos.
Lá para as tantas uma vizinha distante encostou e se danou a falar, contando o caso de uma sobrinha solteira que embuchara pelas bandas dos Cariris Velhos.
Falou, falou, falou tanto que espantou os sabiás que cantavam nos cajueiros do terreno em frente.
Quando se foi seu Antônio, sem olhar para mim, sentenciou: “essa mulher se ofende com o silêncio”.
E mais não disse até a hora da coalhada, à boca da noite.
Honório de Medeiros é professor, escritor e ex-secretário da Prefeitura do Natal e Governo do RN
O silêncio é precioso. Muitas vezes necessário, assim como as lágrimas…há momentos em que precisamos vertê-las.
Beleza de crônica, meu dileto Honório. Ah, como vale ouro
o silêncio.
Fraternal abraço.