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domingo - 21/12/2014 - 05:26h

De usinas do mal e Lampedusa

Por Honório de Medeiros

O ministro Barroso, do STF, deu uma entrevista na qual afirmou que “o sistema político brasileiro é uma usina do mal”. O ministro parece não saber o que é “sistema”, tampouco “política”.

Ou está fazendo jogo-de-cena.

Ministro, um sistema político está para o Poder assim como a espuma está para as ondas do mar. Simples assim.

Tal é o animismo moderno, que evoluiu da concepção de que as coisas têm vida, para a concepção de que as abstrações têm vida. Algo muito primitivo, sem dúvida, mas que presta um enorme serviço a quem detém o Poder.

Sua expressão máxima é o funcionalismo americano. É algo mais ou menos como imaginar que a culpa dos pneus estarem descalibrados é inerente a eles mesmos, e, não, às estradas ruins.

Troca-se o pneu e está tudo bem.

Dessa visão do mundo nasce a nossa medicina, na qual os seres humanos precisam apenas melhorar as peças de reposição, que tudo fica otimizado.

Uma variante humorística – e crítica – de uma percepção funcionalista da realidade está na estória do homem que flagra a esposa em adultério. Revoltado, desfaz-se da cama onde ocorreu a traição.

Assim está fazendo o ministro: não podendo se desfazer dos corruptos, quer modificar o sistema político.

Como se em cada sistema político não existissem corruptos. L

eia Lampedusa, ministro, leia Giuseppe Tomasi di Lampedusa.

É dele, em “Il Gattopardo“, essa frase célebre:

– Tudo deve mudar para que tudo fique como está…

Honório de Medeiros é professor, escritor e ex-secretário da Prefeitura do Natal e do Estado do RN

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Categoria(s): Artigo

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