Assisti ao filme NIMITZ e me deixei influenciar.
O filme mostra um porta-aviões nuclear de volta ao dia do ataque japonês a Pearl Harbor.
Filme que nos leva a reflexões profundas e mexe demais com a sensibilidade das pessoas que conseguem ver no filme mais que combates aéreos. Filme terminado e mal me estiro na cama já me vejo entre escravos numa grande senzala.
Um feitor, com um enorme chicote a gritar que, ruim não era a vida na senzala, onde existia comida, que ruim era a vida fora da senzala onde só havia fome, miséria e perseguição.
Olho os outros escravos e todos com os olhos fixos no chão, mostrando seus espíritos caídos, abatidos, vencidos.
Vejo o retrato em preto e branco do total desânimo.
Desânimo causado por nada conhecerem além da vida na senzala.
Tento falar da existência de um mundo diferente, um mundo onde nenhum homem é propriedade de outro. Um mundo de liberdade.
O feitor me bate com o chicote.
Observo que os escravos me olham como se eu fosse um louco.
Mais tarde, com quase todos já dormindo, digo para um escravo próximo, ainda acordado, que eu conhecia este mundo de liberdade.
Ele apenas virou-se para o outro lado, convencido de que, realmente, eu era um louco.
Nem lhe dizer que em breve a escravidão seria abolida, consegui.
Terminei dormindo e acordado fui pelo apito do carro elétrico a me avisar que a bateria estava com a carga completada.
Levantei-me e fiquei a matutar acerca do sonho que tivera.
Lembrei-me dos que continuam trabalhando em troca de um salário que não dá sequer para cobrir as necessidades básicas. Salário que chegava a sofrer atraso de pagamento de até oito meses e quem reclamasse era sumariamente demitido.
Recordei-me do feitor a me bater e fico a me perguntar se eu não estava enchendo a cabeça dos escravos de fantasias.
Na senzala os escravos tinham comida.
E LIBERDADE?
Tinham os escravos liberdade?
E hoje?
Hoje os trabalhadores têm liberdade?
Que liberdade têm hoje os trabalhadores?
Liberdade de escolher seus governantes?
Ou não vivem submetidos a um falso dilema, onde são condicionados, por uma propaganda massificante, a escolher entre o ruim ou o pior?
Têm os trabalhadores liberdade de expressar suas preferências sem sofrer retaliações do grupo vencedor, grupo que passa a ter a chibata na mão?
Que liberdade é esta que os trabalhadores hoje têm?
O que mudou da época do feitor para agora?
Lei do Ventre Livre?
Com o ensino público que temos de cada mil crianças apenas uma escapa da senzala.
Aparências, apenas aparências.
Olho para o carro elétrico na garagem e imagino quantos mecânicos começam a ficar desempregados. Quantos que faziam troca de óleo, correias, velas, filtros de ar e de óleo e agora não mais têm o que fazer…
Lembro dos operários das fábricas de velas, juntas, correias; cujos empregos foram extintos.
Sei que a adaptação acontece de forma lenta.
Lenta e dolorosa.
Foi assim com a modernização da produção agrícola, quando o desemprego gerado no campo por máquinas que passaram a fazer, com o uso de um só homem o trabalho de centenas de lavradores, tangendo para a periferia das cidades levas e mais levas de despreparados para a vida longe da enxada.
O preço cobrado pelo progresso
Busco consolo no brutal aumento da produção agrícola.
Não desconheço que isto levou ao inchamento das cidades, surgimento de favelas e geração de mais miséria e atraso, com consequente aumento da violência.
Mas como imaginar com produção de alimentos no cabo da enxada ser possível alimentar os já oito bilhões de bocas?
Assusto-me ao perceber que o aumento da produção só fez agigantar a desigualdade social e gerar mais famintos nos campos e nas cidades.
O problema não é a maior ou a menor produção.
O problema e sempre TER mais e mais.
O problema é a falta de amor.
Resolvo não mais pensar.
O tempo já nos mostrou que trocamos senzala por gueto.
Em mim a dúvida se ontem era pior do que hoje…
Volto a me lembrar do filme Nimitz.
Inácio Augusto de Almeida é jornalista e escritor
Caro Inácio Augusto,
Boa tarde…
Excelente crônica. Aliás, uma mescla de crônica e conto. Seja qual for o gênero, entretanto, você retrata uma realidade crua, pungente e perturbadora. Já tomei nota de Nimitz. Quero assistir a esse filme. Parabéns por “De volta ao inferno” e até domingo.
Cordialmente,
Marcos Ferreira.
O filme é um clássico.
Imperdível.
Até domingo.
Mandei o filme Nimitz para Odemirton.
Mande um ok para 991 39 71 39 e eu lhe encaminho o filme dublado.
Um abraço
“O problema é a falta de amor.” Caro Inácio, que bela crônica! Você expôs muito os problemas oriundos da escravidão, fez interrogações e consegui resumir tudo na frase que mostra a ausência do mais nobre sentimento do homem, que é o amor.
Parabéns pelo belo texto.
Obrigado pela leitura.
Fico feliz por ter a mensagem entendida.
Até domingo