Durante vários anos o senador Garibaldi Alves se destacou como um notável parlamentar. No exercício de mandatos de deputado estadual, consolidou-se como um corajoso defensor dos interesses populares. Professores e funcionários públicos sabiam que podiam contar com ele e, enquanto seus representantes no Parlamento, nunca os decepcionou.
Governador, foi uma outra história… Porém, eis que na atual legislatura, quando menos se esperava, seus pares o escolhem para cumprir o mandato-tampão de presidente do Senado, após a renúncia do famigerado alagoano Renan Calheiros. Escolhido por maquinação do ex-presidente José Sarney, senador pelo Amapá, poucos botaram fé no futuro de Garibaldi.
– Seria apenas um teleguiado da cúpula do PMDB nacional, sem vontade própria, como tantas vezes deixou evidente quando na condição de prefeito de Natal e governador do Rio Grande do Norte. Diziam-no sem apetite para o mando e indiferente ao que acontecia à sua volta.
Não fazia, mas deixava que outros fizessem.
Contudo, parece claro que a inapetência de Garibaldi Alves para o exercício do poder acabou. Em apenas algumas semanas no cargo de presidente do Senado, ele já nos deu provas de autosuficiência, embora – sem perder a perspectiva da realidade – reconheça que começa a clamar no deserto.
Seu discurso não tem encontrado eco, a não ser entre as pessoas bem intencionadas. Afinal, muitos dos seus pares estão mais interessados em se dar bem do que em agir de acordo com as expectativas dos cidadãos em relação aos seus representantes legais escolhidos pelo voto direto e soberano.
Seu discurso de posse foi um sinal de alerta para aqueles que pensavam que Garibaldi seria um pau-mandado do presidente Lula, curvando a cerviz à sua vontade e à do senador Sarney, dinossauro da política de compadrio, que está encerrando sua vida pública de maneira vergonhosa, porém sempre fiel ao seu insaciável apetite como um dos mais conspícuos representantes do clientelismo característico dos políticos que fizeram de seus mandatos profissão.
Experiente tribuno, mostra-se Garibaldi um político cheio de manhas, mineiríssimo até, como somente os mais calejados mineiros conseguem ser, como o legendário Benedito Valladares, que surpreendia a todos com suas boutades, como aliás está fazendo agora Garibaldi, ao botar no bolso os jornalistas com as suas tiradas de homem simples e sem desafetada.
Não admira que tenha caído no gosto da mídia mais sofisticada. Realmente o novo presidente do Senado é uma novidade digna de atenção.
Uma jornalista séria e respeitada, como Dora Kramer, já cedeu ao seu carisma, como fica evidente em um artigo recente, ao debuxar um Garibaldi Alves igual a qualquer um dos brasileiros, porém com um olho clínico para a realidade que afeta a todos, menos àqueles políticos que só sabem pensar nos próprios negócios. Um Garibaldi de pés no chão, no pleno exercício de sua vocação de parlamentar autêntico, resgatando o melhor da sua história pessoal sob governos ditatoriais.
É o parlamentar Garibaldi Alves, sem perder a perspectiva do presente, voltando aos velhos tempos em que falava com desassombro em nome do povo. Sem ódio e sem medo. Salvo seja.
Franklin Jorge é jornalista e escritor – franklinjorge@yahoo.com.br
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