Por Bruno Ernesto
Visitar cemitérios vai muito além de prestar homenagem aos entes queridos, seja ele um familiar, um amigo, um ídolo ou um anônimo.
Nos últimos anos, uma pesquisa que venho gestando com muito cuidado, me leva constantemente aos cemitérios por onde ando, e procuro registrar o máximo possível em cada oportunidade.
Inegavelmente já vi cenas muito tristes, lamentáveis, serenas, curiosas, mas também engraçadas. Assim dando continuidade à pesquisa, no último Dia de Finados, fui ao cemitério São Sebastião, o cemitério velho de Mossoró, para fazer mais alguns registros.
Percorri diversos corredores e ruas, cada vez mais difíceis de andar diante do amontoado de túmulos, e ali pude observar atentamente os visitantes e os túmulos. Alguns deles continuam sem qualquer visita. Muitos já abandonados, sequer caiados.
Encontrei várias pessoas conhecidas que agora lá repousam. Vi alguns de meus ex-professores do Colégio Diocesano. Vários amigos, personalidades e conhecidos de vista. Cada um deles evocou uma lembrança.
Quando já me preparava para ir embora, enquanto me posicionava para fotografar uma belíssima estátua, ao longe, avistei uma pessoa gesticulando incisivamente para duas senhoras que estavam sentadas aproveitando a sombra de uma árvore ao pé de um túmulo.
Como já beirava o meio-dia, tive dificuldade de achar um bom ângulo para fotografá-la, de modo que tive que me aproximar cada vez mais daquelas senhoras. Foi então que percebi que a pessoa que gesticulava elevava o tom da voz cada vez mais, num ataque de fúria e disparou:
– Era cabra ruim! Pior que fel!
– Não é porque tá morto e enterrado aí, que vou passar a mão na cabeça!
– Deu um trabalho da peste para a família! Foi é um alívio!
– Quem descansou fomos nós!
Não sei quem eram – Nem os vivos nem o morto -, nem interrompi aquela conversa. Apenas escutei, tirei a foto da escultura e fui embora.
“Está morto, podemos elogiá-lo à vontade”, a ironia do Bruxo do Cosme Velho, não veio a calhar.
Que descansem em paz.
Bruno Ernesto é advogado, professor e escritor
























Faça um Comentário