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domingo - 26/12/2021 - 07:50h

Detetive de infância

Por Marcelo Alves

Devo à criatividade de Arthur Ignatius Conan Doyle (1859-1930) um dos prazeres da minha vida: a conhecença e, depois, a amizade com o Consulting Detective Sherlock Holmes. E essa conhecença, mas nem sempre amizade, expandiu-se para o inseparável Dr. John H. Watson, para o Inspetor Lestrade, para a furtiva Irene Alder, para o terrivelmente engenhoso Professor Moriarty, para o irmão mais velho Mycroft Holmes e por aí vai.

Eu até já frequentei a residência do amigo detetive, no número 221B da Baker Street, Londres, Reino Unido. Afinal, amizade, acredito, se cria e se cativa.

Imagem da Pixabay

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Essa conhecença/amizade, claro, se deu, em enorme medida, por intermédio da leitura do Cânone Sherlockiano. Seus quatro romances: “A Study in Scarlet” (1887), “The Sign of the Four” (1890), “The Hound of the Baskervilles” (1902) e “The Valley of Fear” (1915). E seus cinquenta e seis contos originalmente publicados na Strand Magazine, sendo o primeiro deles, “A Scandal in Bohemia”, de 1891.

Mas nunca fui um puritano. Considero o pastiche “The Seven-Per-Cent Solution: Being a Reprint from the Reminiscences of John H. Watson, M.D.”, por Nicholas Meyer (1945-), de 1974, uma pequena obra-prima. E também adoro as adaptações em filmes e séries para a TV. Desde os clássicos, estrelando ícones como Peter Cushing e Jeremy Brett, até criações recentes, com gente de hoje, tipo Robert Downey Jr. e Benedict Cumberbatch.

De toda sorte, a ficção (literatura, teatro, cinema, TV, videogames etc.) sherlockiana é quase infinita. Não estou exagerando. E, por óbvio, conheço só uma ínfima parte disso tudo. A gente conhece tão pouco de si mesmo, quanto mais dos amigos.

Aliás, dia desses, no site literário Book Riot, topei com o interessante texto “The Many Origins of Sherlock Holmes”, de Eileen Gonzalez. A propósito de um novo videogame, o “Sherlock Holmes Chapter One”, em que Holmes viaja pelo Mediterrâneo em busca de respostas sobre a morte da mãe, a autora discorre sobre o mistério das origens – nascimento, infância, juventude – do detetive. E, realmente, como nos diz o próprio Dr. Watson nas estórias originais, “Holmes raramente falava sobre seu passado. Muitas adaptações, mesmo as mais famosas, ficam satisfeitas em deixar esse livro fechado. E as adaptações que tentam descortinar os dias pré-detetive de Holmes tendem a dar as mais diversas versões”.

Não sou muito de videogames, reconheço. Mas fiquei curioso sobre o “passado” do meu amigo. E já tenho dois caminhos com pistas para seguir.

Primeiramente, vou reler cuidadosamente “The Seven-Per-Cent Solution”, numa edição da W.W. Norton & Company, de 1993, que tenho em mãos. Afinal, nele, dependente de cocaína, Holmes vai se tratar com Sigmund Freud (1856-1939). Se in vino veritas, imaginem com cocaína e perante o pai da psicanálise.

Mas, sobretudo, vou rever o filme “Young Sherlock Holmes” (entre nós “O Enigma da Pirâmide”), direção de Barry Levinson (1942-), de 1985. Tem Nicholas Rowe, Alan Cox, Anthony Higgins, Sophie Ward, Nigel Stock, entre outros craques do cinema britânico. Foi um dos meus filmes amados da “Sessão da Tarde”. Assisti não sei quantas vezes. Aqueles da minha idade vão se lembrar da película.

Basicamente, em 1870, na Londres vitoriana, numa escola/internato inglesa, Sherlock Holmes e John Watson se encontram pela primeira vez. E é quando Holmes soluciona o seu primeiro caso. Na trama, várias pessoas são atingidas por um dardo/zarabatana, passam por alucinações e morrem. Há um misterioso culto egípcio. Há um mentor e uma namoradinha para Holmes. Já aparecem o Inspetor Lestrade e o Professor Moriarty. E tudo é narrado por um Dr. Watson já maduro e saudoso.

Fazendo isso, vou também em busca do meu passado. Das tardes felizes de então. Vou dialogar com Holmes. Amigos de infância contam outras verdades. E solvem muitos mistérios. No caso, os dele e também os meus.

Marcelo Alves Dias de Souza procurador Regional da República e doutor em Direito (PhD in Law) pelo King’s College London – KCL

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Categoria(s): Crônica

Comentários

  1. Naide Maria Rosado de Souza diz:

    Sensacional, meu caro Watson!

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