domingo - 03/05/2020 - 06:50h

Dilema à brasileira

Por Roncalli Guimarães

Em algum momento da filosofia foi criado dilemas como forma de experimentos da ética e um dos mais famosos foi o “dilema do bonde”.

Tal experimento mostrava que um bonde descontrolado descia sob os trilhos e havia quatro trabalhadores fazendo reparos. Um expectador percebe que há uma alavanca que pode desviar o bonde, porém para esse outro caminho havia apenas um trabalhador.

O que o expectador faria?

Qual decisão mais correta?Essa pergunta ética colocou pensamentos em discussão e os coloca até hoje, usar a lógica utilitarista e escolher a morte de um trabalhador e poupar a vida dos demais ou usar a ética kantiana na qual a máxima ação humana é usada como o fim e nunca como o meio?

Em tempos de pandemia vivemos um dilema semelhante: fazer isolamento social para salvar pessoas de risco para a doença ou não fazê-lo para salvar economia que poderia causar problemas maiores futuros?

Na filosofia nenhum conceito serve para resolução do dilema, porém no Brasil existe uma lei universal , pétrea e que não precisa estar escrita  na Constituição para ser aplicada. Na verdade ela cabe em qualquer situação e mostra como os políticos brasileiros tradicionais resolvem os problemas éticos.

Ela se chama a “Lei de Gerson” ou a lei da vantagem. Essa lei é o mantra da nossa classe politica adotada em todos os poderes e está sendo amplamente utilizada nos dias atuais e prova que o Brasil é um país único.

Enquanto outros países buscam meios de conter a doença, diminuir sofrimento do povo e repensar a recuperação econômica, muitos dos nossos políticos utilizam o momento para tirar vantagens.

De um lado procuram ir contra todas as recomendações cientificas e aplicadas no mundo inteiro. Justificam não fazer isolamento social, mas ao mesmo tempo liberam bilhões para o outro lado que tem o isolamento social como meio de diminuir as mortes.

E enquanto durar o isolamento, entra mais verba para ser usada de forma “emergencial”, temos perdão de dívidas públicas e dispensa de licitações. Tudo para, ao final, percebermos que os lados criam conflitos para manter seus seguidores em estado de inação.

Contudo, ao mesmo tempo, de uma forma mágica, todos estão do mesmo lado.

No final de tudo, milhares de pessoas vão morrer, milhares de pequenos empresários ficarão falidos, milhões de trabalhadores desempregados e dezenas de figuras públicas com maior patrimônio pessoal e eleitas. Sim, no meio de uma pandemia, da maior crise mundial do nosso século, temos eleições.

E daí?

Roncalli Guimarães é psiquiatra

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Categoria(s): Artigo

Comentários

  1. Inácio Augusto de Almeida diz:

    Escrevi alguns comentários neste blog alertando para a criação do COVIDÃO.

  2. João Claudio - O filózufu comentarólogo'. diz:

    E eu escrevi que calamidade pública é sinônimo de ‘abrir o cofre, meter a mão e levar a bufunfa pra casa, sem medo de ser pego e sem vergonha de ser feli$’

    O que vai aparecer de marmota, não está escrito nas estrelas e nem nas bordas do buraco negro do universo.

    Anotem.

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