São dois absurdos que contribuem para a não-renovação de quadros, a manutenção de relações promíscuas no poder e representam uma traição direta à vontade do eleitor, expressa nas urnas.
O candidato vai às ruas, participa de programas em rádio e TV, pedindo votos para ser eleito deputado. Depois vira secretário, como é o caso de Betinho Rosado (DEM), titular da Agricultura no Rio Grande do Norte.
Como lembra o professor Leonardo Barreto, da Universidade de Brasília (UnB), nos Estados Unidos os parlamentares que queiram assumir cargos no Executivo são obrigados a renunciar ao mandato para mudar de poder.
Para Barreto, é um “estelionato” com o voto do eleitor. Além da distorção na escolha inicial do eleitor, a mistura traz outros problemas. Uma das funções dos deputados federais é fiscalizar o Poder Executivo. Diante da possibilidade de vir a integrar o governo, essa função acaba atenuada.
“Como você vai vigiar, fiscalizar o Executivo, uma das atribuições do Legislativo, se você faz parte dele?”, questiona o professor.
No caso do suplente transformado em senador, é outra agressão ao voto. Alguém que nunca foi votado vira senador, ocupando um posto estratégico dentro do sistema democrático e numa República.
No Brasil, muitas vezes, o mandato sai de pai para filho, como já aconteceu com Antônio Carlos Magalhães (DEM), na Bahia, que fez de um filho o seu suplente e, em seguida, senador titular.
No Rio Grande do Norte, a senadora Rosalba Ciarlini (DEM) foi eleita ao Governo do Estado, mas deixa no Senado Garibaldi Alves (PMDB), pai do senador e agora ministro da Previdência, Garibaldi Filho (PMDB).
Garibaldi pai nunca foi votado ao Senado, mas agora é senador.
Como estimular os jovens, pessoas com alguma vocação à política, nomes interessados em melhorar o meio, se existe uma teia de regras e procedimentos que apenas preservam espaços de grupos e interesses de minorias espertas?
Pobre Brasil.
Tenho comigo a idéia fixa e imutável que sem massa-gente com boa formação educacional, jamais teremos eleitores conscientes e a mudança dessas mentes, principalmente os jovens, ainda alienadas e embriagadas tão somente pelas farras alimentadas pelos portentosos paredões de som e suas músicas e bandas de gostos e qualidades lamentáveis, passa por altos investimentos na estrutura básica da educação, qual seja: educação de qualidade e valorização profissional do magistério, pois com professores desmotivados, despreparados, desprestigiados e com salários ridículos como temos hoje, jamais poderemos esperar por mudanças significativas em relação ao cenário exposto. Uma profunda conscientização desses jovens, fazendo-os perceber o quanto serão decisivos e importantes para seus próprios futuros, talvez nos dê esperanças de vermos políticos sérios e comprometidos com o bem estar de sua gente, o que inevitavelmente passaria pela mudança de comportamento e uma maior politização, principalmente de nossa juventude.
Há necessidade urgente de implementar tais mudanças, e é preciso pressa, pois o mundo moderno não nos permite mais conviver com gente desprovida do mínimo de educação, esse “privilégio” pode custar muito caro para uma nação que pretende ser potência econômica do século 21. Uma economia próspera e estável terá que passar, primeiro pela conscientização da massa-gente, depois pelo expurgo dessa classe de políticos com os quais convivemos desde os primórdios da República. Ou mudamos agora ou continuaremos a ter Deputado que vira Secretário, sem combinar com seus eleitores e suplentes que viram Senadores sem nunca terem recebido um voto sequer. E aí, qual político terá coragem de dar o “pontapé” inicial para por em prática essas mudanças tão necessárias à democracia brasileira?
Não adianta, sem a reforma política, tuda nesse pais anda a passos de tartaruga, a reforma política (caso aconteça,) será a mãe de todas as outras, se não sai, contua: coronéis, senhores de engenhos, sinhazinhas e capitães do mato todos em Brasília eternamente.
Maurílio Santos
Cantor / Compositor