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segunda-feira - 30/01/2017 - 23:46h
Renascimento II

Do caos à vida, a nova realidade do Hospital Almeida Castro

Instituição sob intervenção em Mossoró é resgatada com números e outra realidade que impressionam

“Ah, isso aqui é minha vida!” A exclamação é feita ao Blog pela enfermeira Raíssa Lorena Gê Mitre, à porta de um dos apartamentos da Unidade de Cuidados Intermediários Neonatal Canguru, no Hospital Maternidade Almeida Castro (HMAC). Ela espelha na frase e no rosto de sorriso incontido, o sentimento de quem trabalha diariamente com vida. Com mães e bebês que precisam de cuidados especiais.

Durante quase três horas percorremos corredores, UTI´s, salas, apartamentos, enfermarias e outros compartimentos do HMAC. Conhecemos seu funcionamento, levantamos informações com componentes de sua Junta Interventora, ex-funcionários, pacientes, funcionários etc. Fuçamos documentos no âmbito da Justiça, suplementando dados.

Raíssa: "Ah, isso aqui é minha vida!" (Foto: Blog Carlos Santos)

Existem dois HMAC. Um, antes da interventoria determinadas pelas justiças do Trabalho, Federal e Estadual, provocada pelo Ministério Público do Trabalho, Federal e do Estado do RN. Outro, depois da instalação dessa condição excepcional em setembro de 2014, que visa restabelecer a ordem no hospital, que vinha sendo gerido desde 1949 pela Associação de Proteção e Assistência à Maternidade e à Infância de Mossoró (APAMIM).

Os números e os resultados do novo HMAC impressionam. Qualquer dúvida, é só confrontá-los com o caos de antes, que levou o Judiciário a impor o afastamento de seus ex-dirigentes, desencadeando paralelamente uma série de demandas judiciais para saneamento de débitos nos campos fiscal, trabalhista, de custeio e cível.

“A cada dez dias apresentamos relatório de nossas atividades à Justiça e mensalmente temos reuniões para discussões dos mais variados pontos. A intervenção é acompanhada passo a passo pelos promotores e juízes”, relata a coordenadora da Junta Interventora, Larizza de Sousa Queiroz Lopes.

UTI Neonatal

Uma das alas mais cativantes e importantes no sistema de saúde dirigido em especial a parturientes e recém-nascidos, advindos de cerca de 68 municípios (incluindo alguns do Ceará), é a UTI Neonatal. Só em 2016, ela recebeu 207 bebês que nasceram com baixo peso e/ou alguma patologia.

A expectativa para 2017 é a internação chegue a 350. Há poucos dias aumentou seu total de leitos, possibilitando receber até 20 bebês simultaneamente. Sem esses equipamentos, todas essas crianças estariam praticamente condenadas à morte, como acontecia no passado e muitos pais acreditavam ser “o destino”, a “vontade de Deus”.

UTI Neonatal é um diferencial definitivo entre a vida e a morte de incontáveis bebês (Foto: cedida)

Na Unidade de UTI Intermediária Neonatal Convencional, em 2016 foram 352 bebês que passaram por ela, com possibilidade de ultrapassar a casa dos 450 este ano. Eram seis leitos e há pouco tempo saltou para 12.

Neonatal Canguru

Em relação à Unidade de Cuidados Intermediários Neonatal Canguru, com 18 leitos, foram 495 bebês recebidos em 2016. É um setor em que as crianças chegam com baixo peso ou alguma patologia, porém, não têm necessidade de algo mais delicado como a UTI Neonatal. Nela, a mãe fica com o filho entre os seios, numa relação próxima, carnal, que ajuda em sua recuperação.

Há poucos dias houve inauguração de um compartimento denominado de “Casa da Mãe Coruja Edilene Torquato”, com 20 leitos.  Nesse espaço confortável, mães oriundas de outros municípios e que não têm ponto de apoio, em Mossoró, podem ter estadia diária enquanto acompanha o filho na UTI. “Mães com gravidez de risco também podem estar nessa ala, com acompanhamento médico regular”, relata Larizza Queiroz.

Larizza: investimentos importantes (Foto: Blog Carlos Santos)

Dos 911 bebês que nasceram prematuros e com baixo peso em 2016, algo em torno de 35% (cerca de 390 bebês), só tiveram chances de viver graças às instalações de UTI Neonatal, Berçário e Canguru que hoje o HMAC disponibiliza.

‘Mossoroenses’ de outros municípios

A Maternidade Almeida Castro realizou 4.491 partos em 2016. Desse total, 45% foram de Mossoró e o restante de outras localidades do Rio Grande do Norte e do Ceará. São ‘mossoroenses’ de dezenas de outros municípios.

O HMAC faz média de 420 partos/mês. Partos de baixo, médio e alto risco compõem seu trabalho diário. Em 2016 realizou 3.098 partos cesáreos e 1.348 normais.

Pelo menos 18 bebês nasceram com microcefalia.

Chama a atenção, ainda, que ano passado nasceram  2.215 bebês de mães residentes em Mossoró. Mas 2.231 tinham origem em outros municípios do Rio Grande do Norte e Ceará.

Dessas 4.491 crianças, 501 nasceram prematuras e precisaram dos serviços neonatal. Outros 410 bebês tinham baixo peso, exigindo também cuidados especiais menos delicados.

UTI Adulto

A UTI Adulto do HMAC está com oito leitos. Desses, dois são reservados para a maternidade e 6 são destinados ao atendimento de pacientes através do Sistema Único de Saúde advindos do Hospital Regional Tarcísio Maia (HRTM), a partir de uma triagem prévia. Em 2016, chegou a receber 379 pacientes.

UTI Adulto também serve ao HRTM (Foto: Cedida)

A interventoria tem o papel de gerir a ‘herança maldita’ não apenas para cobrir passivos, mas também para fazer o HMAC funcionar plenamente, sem se descuidar de restaurações e ampliações físico-materiais, reparos e aquisição de novos equipamentos.

Os interventores Bendito Viana de Lira, Maria Ivanise Feitosa de Vasconcelos e Larizza de Sousa Queiroz Lopes comandam reforma e ampliação do Centro Obstétrico. Paralelamente, o mesmo é feito em relação aos setores que são conhecidos como “Partos PPP” (Pré-parto, Parto e Pós-parto), recomendado pelo Ministério da Saúde (MS).

Veja AQUI a primeira reportagem dessa série especial: Força-tarefa avança na salvação do Hospital Almeida Castro.

Veja AQUI a crônica Por Valentina, Arthur, Maria Eduarda e Ana Lívia

* Veja a terceira parte dessa reportagem especial amanhã (terça-feira, 31).

Acompanhe o Blog Carlos Santos pelo Twitter clicando AQUI.

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Categoria(s): Justiça/Direito/Ministério Público / Política / Saúde

Comentários

  1. FRANSUÊLDO VIEIRA DE ARAÚJO diz:

    Caro jornalista Carlos Santos, parabéns pela bela “radiografia” jornalistica relizada acerca das condições em que se encontrava o HMAC, antes e depois da oportuna, necessária e indispensável intervenção do MP e do Estado-Juiz.

    O fato nos dá a verdadeira dimensão dos vícios de toda ordem implantados décadas e décadas a fio no seio da administração do HMAC quando imperava as determinações de um grupo político, desejoso, não do pleno atendimento dos brasileirinhos e brasileirinhas ávidos em nascer e gritar pela vida, mas sim, mancomunados em conluios oligárquicos e familiares, cujos interesses, verdadeiramente sempre ouvidaram e passaram ao largo da sociedade mossoroense e região do rn e de outros estados que atualmente, de fato e de direito são atendidos sem delongas e intermediários de quaisquer cores político partidárias.

    A saúde como bem maior de todos, devia, não apenas ser motivadora de discursos, geralmente vazios e demagógicos de políticos em busca de benesses, privilégios e eternização no poder. Mas sim, e, sobretudo, uma ação e atitude diária de todo cidadão, independente da sua classe social, exatamente para que, ainda em pleno século XXI, a nação brasileira não espelhasse uma realidade triste, nua e crua, como infelizmente ainda se faz, posta que, negada à grande parcela da sociedade brasileira.

    Desde o período moderno, a cartilha do utilitarista John Stuart Mill –filósofo inglês do século XIX- de como proporcionar felicidade para o maior número de pessoas, ainda apresenta forte participação na sociedade atual. O ideário do “bem maior” reina, e consequentemente, certa parcela sempre se esteve excluída.
    Vale resgatar o sociólogo francês, Émile Durkheim que, via a sociedade como algo já estabelecido, sem espaços para diferenças. Caso o contrário, a sociedade lhe responderia com a coerção, por ir contra seu mecanismo natural. No Brasil, notamos que certas minorias ainda sofrem com tais coerções, e, por estarem em menor número, são ignoradas.

    Nosso país possui Libras como um dos idiomas oficiais, mas não aprendemos a linguagem dos sinais porque o número de pessoas deficientes é pouco em relação a maioria; vai contra o “bem maior” de John Mill. Entretanto, cabe, sobretudo ao cidadão médio, dia-adia, cobrar do poder público, em assegurar que, de fato, as condições básicas de vida –educação, saúde e cultura- sejam acessíveis a todos indivíduos.

    A fim de minimizar a problemática [da exclusão], entrou em vigor no país, a Lei da Inclusão da Pessoa com Deficiência que, em tese, garante acesso à saúde e educação a essa parcela da população. Vítimas de abusos corriqueiros, sejam eles os mais sutis, os deficientes lutam para conseguir um emprego; seus acessos para com a educação eram, até então, muito restritos. Entretanto, agora, a legislação garante inclusão social e cidadania às pessoas com deficiência, através de mudanças nas estruturas de base, contanto com punições para atitudes discriminatórias contra essa parcela.

    Resta-nos, assim, discussões sociais e uma mudança na nossa postura diária, para que, caminhemos todos em prol para a plena acessibilidade [dos direitos] dos deficientes, das parturientes e dos demais acometidos por quaisquer tipo ou forma de enfermidades, a fim de alcançar uma realidade mais justa e igual.

    Um baraço

    FRANSUÊLDO VIEIRA DE ARAÚJO.
    OAB/RN. 7318.

  2. Francisco das Chagas Veras Leite diz:

    Graças a Deus o Hospital e Maternidade Almeida Castro estão nas mãos corretas e honestas!

  3. João Claudio diz:

    A foto e o fato.

    Percebe-se que todos os profissionais trabalham, inclusive o medico que não tira os olhos do ”monitor” que monitora os ”pacientes” internados na UTI.

  4. Vanesca gessica diz:

    Eu presenciei o antes e o depois como funcionária e com muito orgulho que digo sou parte dessa família o meu muito obrigado a toda junta interventora e toda equipe do judiciário obrigada pois hoje tenho um emprego e quando mim perguntam onde vc trabalha digo feliz e satisfeita HAMAC A TODOS QUE FAZEM A JUNTA INTERVENTORA PARABÉNS

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