Este domingo é chamado assim, porque o povo cortou folhas de palmeiras para cobrir o chão por onde passaria Jesus montado num jumentinho. Com os ramos nas mãos, o povo o aclamava Rei dos Judeus, Hosana ao Filho de Davi.
Com a cerimônia dos Ramos iniciamos a Semana Santa. Proclamamos a realeza de Cristo e nossa fé em Jesus, o Messias e Filho de Deus. No sinédrio, quando o sumo sacerdote lhe perguntou: "És tu o Messias, o Filho de Deus bendito?" (Mc 14, 61) Cristo confessa: "Eu sou. E vereis o Filho do Homem sentado à direita do Todo-Poderoso e vindo sobre as nuvens do céu" (Mc 14, 62).
Por sinal, é a única vez no evangelho de Marcos que Jesus afirma ser o Messias, o escolhido de Deus para levar adiante seu projeto de vida e liberdade. O que soou como blasfêmia para a sociedade que mata e exclui, é profissão de fé para quem Nele crê.
Na verdade, Ele é o Messias, o ungido de Deus. E dando prova disso, uma mulher lhe derramará óleo sobre a cabeça, reconhecendo, desta forma, que Ele é o Messias e Filho de Deus. Enquanto o sinédrio e os judeus negam Cristo como o Enviado do Pai, um pagão, oficial romano, reconhece Nele o Filho de Deus.
Tem razão o apóstolo João, quando proclama no prólogo do seu evangelho: Ele veio para os seus, mas estes não O acolheram (Jo 1, 11).Sim, Cristo é Rei; mas sua realeza se distancia dos padrões de poder e autoridade do seu tempo e do mundo de hoje.
É Rei, porque se despoja desse tipo de poder e se afasta do círculo dos poderosos, dando a vida pelos seus. No patíbulo da cruz, revela que o seu Reino consiste em estar a serviço dos condenados pela sociedade e daqueles que ela considera os fora-da-lei. Crucificado entre dois ladrões, Ele mostra a sua solidariedade aos excluídos e marginalizados e restitui a quem Nele acredita a dignidade humana (na figura do chamado Bom Ladrão).
No alto da cruz, Cristo reprova a atitude daqueles que oprimem os irmãos e semelhantes, isto é, reis, sumos sacerdotes, doutores da Lei etc. Eles costumavam fazer suas aparições solenes ladeados de seus sequazes e assessores, corruptos e opressores.
O Domingo de Ramos e toda a Semana Santa mostram-nos que Cristo não se apegou a sua condição divina e igualdade com Deus.
Tornou-se servo, semelhante aos homens, humilhou-se, fez-se obediente até a morte da cruz. Jesus despoja-se de tudo.
Seu lugar passa a ser junto dos esquecidos, daqueles que não têm privilégios, marginalizados e condenados. Para Ele, a forma de revelar e manifestar Deus é esvaziar-se de privilégios, daqueles que mais nos apegam e diante dos quais temos mais dificuldades de nos libertar: posição social, poder, dinheiro, fama etc.
Cristo mostra-nos que o bem mais precioso é a vida. E esta Ele tem para dar em abundância. E quem tem a vida plena, sabe amar. E o amor é saber doar-se, pois é dando que se recebe.
Cristo doou tudo para ensinar ao homem a consagrar sua vida a Deus, que nada poupou para nos ver felizes. A liturgia do Domingo de Ramos convida-nos a celebrar os acontecimentos da vida de Jesus, que se entregou ao Pai como vítima perfeita e sem mancha para nos salvar da escravidão do pecado e da morte.
Crer na Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo, é acreditar no mistério central de nossa fé, isto é, na vida que vence a morte e no bem que vence o mal.
João Medeiros Filho, padre
Faça um Comentário