Um retrato do atraso em que o sistema pluripartidário nacional mergulhou pode ser medido pela relação existente entre político e partido. Os papeis estão invertidos. Para pior.
Há algumas décadas ouvíamos a citação: “Aluízio Alves do MDB”, “Tarcísio Maia da Arena”. Hoje, é “o PMDB de Henrique Alves”; “o DEM de José Agripino” e até “o PT de Lula”.
Os partidos deixaram de ter filiados, simpatizantes e candidatos para serem lembrados pelo nome de seus proprietários, donos, gente que andaria com a chave da porta do diretório no cós da calça. Só entra e sai quem ele quer. As siglas parecem funcionar numa pasta 007 ou bisaco; são itinerantes.
Em vez de partidos fortes, existe alguém com força para ter partido, dando-lhe o jeito e personalidade com sua cara e digital.
Com 30 partidos regularizados, o Brasil ainda engatinha na democracia porque insiste em não fortalecer as instituições, como o próprio partido. O problema não é a quantidade, mas a fragilidade do sistema, sempre ajustado para facilitar o contorcionismo político, o atalho e a gambiarra.
Na prática, paradoxalmente, a desvalorização partidária nos remete à época da República Velha (1889-1030), em que tínhamos o instituto da “candidatura avulsa” e o indivíduo podia ser candidato sem qualquer inscrição partidária.
Mais estranho ainda é identificarmos que no período de regime militar, com o modelo bipartidário MDB-Arena, os partidos eram muito mais consistentes, ideologizados e estranhamente mais democráticos.
Esse fenômeno de partido sob a propriedade particular é uma inversão de valores injustificável e inaceitável. Só se explicaria sob o princípio da razoabilidade, se certos chefes tivessem maior dimensão do que o próprio partido. Exemplo que podemos extrair do futebol. “O Santos de Pelé”. O jogador estelar virou instituição pessoal a ponto de ser a referência do time e de uma época. Ficou maior do que o clube.
Na política contemporânea, poucos são os políticos que atingem esse feito. Lula, certamente, inflou mais do que o PT. Mas, vaidoso, passou a comprometer sua própria cria, com a ideia de que é um deus do Olimpo brasileiro e pode tudo. Pode porque é dono.
E por aqui, Zé Gago,era do PDT,que passou a ser,o PDT de Anchieta,mas,Góis,era do PMDB,que hoje,ninguém sabe de quem
Caro Carlos Santos, sugiro uma análise semelhante para os caciques donos de mais de um partido. Isto também está se tornando comum no país.
Josivan Barbosa: ufersa@ufersa.edu.br