Por Marcos Ferreira
Sempre alerta, disposta a dar a vida por mim, Preciosa cuida da minha segurança vinte e quatro horas por dia. Exceto quando não estou em casa. Isso significa um problema, pois ela detesta ficar só. No resto do tempo não sai do meu pé. Se vou tomar banho ou fazer outra coisa, a porta tem que ficar aberta. Antes eu buscava esse momento de privacidade, mas Preciosa se queixava muito miando, arranhando a madeira, até que eu liberei a entrada de vez.
Deita-se no chão, gosta do friozinho da cerâmica, e monta guarda, como se temesse acontecer algo de mau comigo.
Aqui não preciso de muros altos, cerca elétrica, câmeras de vigilância. Nada. Nenhuma intrusa ou intruso penetra o sofisticado esquema proteção desta casa sem ser detectado. Quem entra é porque recebeu convite e passou no detector de quizila, quebranto, olho-grande, pé-frio. O indivíduo precisa emanar boas vibrações para ser bem-vindo. Preciosa é assim, capta logo se a pessoa tem o espírito carregado ou alma sebosa. Não apenas isso. Os gatos nos proporcionam um bom estado emocional, são seres mágicos, mediúnicos. Os cães também oferecem esse conforto, transmitem bastante carinho, lealdade. Porém os bichanos têm uma graça, um charme a mais.
Preciosa havia sido abandonada. Era uma filhotinha com menos de dois meses. Natália foi quem a encontrou. Não pude deixá-la no abandono. Meu coração, mais uma vez, assumiu o caso. Indefesa, rifada num mundo comumente insensível e cruel, possuía mínimas chances de sobrevivência sem o amparo de um lar. Estava doente. Mal conseguia se locomover. Nem mesmo aceitava a comida. Durante algum tempo ficou aqui desse jeito, quietinha, fraca. Fomos ao veterinário. Ministrei a medicação prescrita na dose e horários indicados. Ela reagiu, recuperou a saúde.
Daí a pouco tornou-se elétrica, forte, brincalhona, correndo a casa e o quintal, comendo a ração direitinho. Agora, enquanto escrevo, ela sobe na mesa, fica por trás do notebook. Aproveita para tirar um cochilo. Mas é bem leve. Levíssimo. Tem os sentidos aguçados. Mexe as orelhas e entreabre os olhos ao menor ruído. À noite, entretanto, depois do meu banho sob a vigilância dela, chega o ponto alto do dia: assistir a Terra e Paixão e algum filme da Netflix.
Na sala, com a rede armada, à meia-luz e no aconchego dos cobertores, começa a ronronar, volta a conferir meu cheiro, pressiona meu peito com as patinhas, como se revivesse a distante e curta época da amamentação. Sim. Isso é uma afetividade que eles carregam pelo resto da vida.
Nessas horas os papéis se invertem. De protetora ela passa a protegida. Então adormece profundamente, emite uns murmurinhos, mergulha no seu universo de inocência e leveza. E aí eu me sinto privilegiado, feliz por receber, por contar com esse tipo de amor tão sincero, tão benévolo e imensurável. Ao resgatarmos um bichinho desses que sofrem nas ruas, passando fome e sede, também somos resgatados de algum modo. Porque o bem que eles nos devolvem é ainda maior.
Marcos Ferreira é escritor
Caro Marcos Ferreira, sua simples e cativante crônica nos enleva nesse domingo de temperatura amena e perspectiva de serena e renovadora chuva, ao mesmo tempo que nos faz refletir sobre os mistérios da vida em nossa frágil e insignificante existencialidade.
Suas críveis, ternas e emolduradas palavras acerca do seu dia a dia com a Gata Preciosa, me fazem crer e apostar em outras apostas no campo da literatura, claro, a partir da sua fértil pena. Tanto que com seu inegável talento de escritor crítico/humanista, ponto futuro, poderias, inclusive, pensar em um conto ou mesmo romance narrando momentos dessa terna e intrigante troca de carinho, afeto e existencialidade.
Nesse contexto, a importância dos animais em nosso dia a dia, se faz e se presta renascedor/renascentista, sobretudo em nossas vidas cada vez mais cercadas de artificialismos, futilidades, imediatismos, consumismos e atomização do humano a par de interesses inconfessáveis que o grande capital tenta camuflar.
A propósito, nesse caminhar e cenário mais que obscurantista, binário e artificial, no qual os humanos esquecem cada vez mais da sua porção humanidade, até quando existirão ecossistemas e as consequentes trocas de humanidade entre os animais ditos racionais e irracionais….!?!
Meu caro Fransueldo Vieira,
Boa tarde.
É sempre bom contar com sua leitura e opinião a respeito de minha escrita. Aliás, você é um necessário e atuante comentarista aqui no Blog do Carlos Santos. Pois é. Sua participação enriquece este espaço. Quanto a você sugerir que eu produza trabalhos literários além da crônica, também agradeço por isso. Mas eu já possuo obras em outros gêneros: três romances, três livros de poesia, um de contos e as próprias crônicas, que podem ser selecionadas e renderem mais uns dois ou três livros. Desejo uma ótima semana para você. Saúde e paz.
Abraço.
Meu dileto Marcos Ferreira, como seria bom se todos tivessem a bondade no coração. Os animais precisam de nosso cuidado, pois também fazem parte da perfeita obra do Criador.
Sua crônica nos faz refletir sobre a nossa atitude perante os animais ditos irracionais.
Tenha uma semana abençoada, meu amigo.
Abração!
Querido Odemirton,
Digo, como você sabe, que me sinto muito feliz com sua amizade e carinho. Gente como você, com sua sensibilidade e bom coração, torna este mundo menos desigual e insensível. Uma ótima semana para você e sua família.
Forte abraço.
Admiro essa linda relação entre humanos e animais! Nunca tive esse encontro. Na minha vida corrida, já foi difícil estar presente na vida de duas filhas. O tempo sempre foi um fator que dificultou. Preciosa é um presente na sua vida, querido escritor! Você é um privilegiado! Aproveite a companhia dessa criaturinha tão fiel! Crônica linda! Parabéns!
Querida amiga Bernadete,
Boa tarde.
Suas palavras, como sempre, têm essa capacidade de nos fazer sentir mais conscientes e motivados. Alegra-me saber que você, mais uma vez, gostou desta minha escrita, trabalhos que o Carlos Santos publica e oferece essa visibilidade importante. Desejo uma ótima semana para você.
Beijo.
Bela página, Marcos Ferreira.
Boa tarde, amigo Claude.
Obrigado pela leitura e opinião. Estamos no mesmo barco das palavras e enfrentamos as mesmas ondas no rumo de mais aprimoramento e novas produções. Você já contribuiu e ainda tem muito a oferecer à literatura.
Abraços.
Eh exatamente como descrito!
Tenho 3. Todos resgatados do mundo!
Caro João Bosco,
Boa tarde.
Fico feliz por tomar conhecimento que você também resgata esses bichinhos da rua e lhes oferece um lar e amor. Sua atitude deve ser exemplo para muita gente. Que outros mais se sensibilizem. Uma ótima semana para você.
Abraços.
Boa tarde, querido Ferreira.
Já dissera o saudoso Tremendão, antes mal acompanhado do que só… És um iluminado. Tens companhia e guarida.
Caro amigo Marcos Ferreira, só quem ama esses felinos, sabem do bem que eles nos fazem a nossa saúde mental. Atualmente tenho aqui em casa 6 gatos, 2 orfãos e mais quatro. Definitivamente aqui virou uma ONG. Eles são guardiões espirituais. Abraços!
Lindo texto, na vida é assim, querendo salvar um bicho, eles salvam nossas vidas.
Preciosa sua companheira e Pitoco meu eterno AUmigo, mas ele se foi!
Eles nos protegem e os tentamos proteger, fazem bem demais a nossa mente!