Por Inácio Augusto de Almeida
O camponês que chegou a governar uma das provÃncias do México, homem de confiança de Pancho Vila, lÃder nato, era dotado de uma coragem pessoal sem limites e possuidor de um caráter dificilmente encontrável entre os que se dedicam à coisa pública.
Emiliano, homem rude do campo, só conseguiu aprender a ler depois de adulto, liderou todos os movimentos campesinos na sua região. E entre as belas passagens que encontramos em sua vida, uma se sobressai.
Numa destas rebeliões de camponeses que aconteciam no México da ditadura PorfÃrio Diaz, Emiliano e vários companheiros foram presos.Levados à presença do então governador da provÃncia, mesmo sob ameaça de fuzilamento, Emiliano levanta a voz e protesta contra as injustiças cometidas pelos governantes. Entre surpreso e assustado com aquela reação de um homem simples, o governador pergunta qual o seu nome, ao que ele responde numa voz altiva: Emiliano Zapata.
O governador procura o nome de Emiliano na lista de presos e o grifa. Após mais uma rodada de ameaças, resolve soltar a todos, inclusive Emiliano, a quem lança um olhar ameaçador, recebendo como resposta um olhar desafiador.
O tempo passa, o México mergulha na mais sangrenta de todas as guerras civis e Pancho Vila triunfa. E, como desfrutava do respeito e da admiração de Pancho, Emiliano assume a provÃncia onde vivia.
Alguns meses no exercÃcio do cargo, como as injustiças permanecessem quase que as mesmas, os camponeses se rebelam. Presos, são levados até Emiliano.
Tentando convencer os homens do campo, Emiliano explica estar fazendo o possÃvel para melhorar-lhes a vida, que se mais não faz é por uma série de razões.
– Senhor, chega de conversa. Queremos terras, queremos trabalho. Queremos viver como homens. Conversa, conversa, disto estamos cheio.
Emiliano, com seu temperamento forte, de imediato levanta-se da cadeira e parte para cima do lavrador. Mas se contém. Sem que ninguém o segurasse, para. Lembra-se que é o governador, que está dentro do palácio. Volta a sentar-se e olhando o lavrador bem dentro dos olhos, pergunta-lhe:
– Como é o seu nome?
– Meu nome é Pablo Sanchez.
Emiliano pega a lista que estava sobre a mesa para grifar o nome de Pablo Sanchez. A caneta cai-lhe da mão. Fica com o olhar perdido. Um longo silêncio se faz.
– Vocês podem ir. Estão livres.
Pablo, da porta, vira-se e encara Emiliano. Os dois não trocam nenhuma palavra. Apenas se olham.
E tão logo os camponeses saem do palácio, Emiliano abandona o cargo. Percebeu que iria terminar se comportando como os que ele combaterá.
Pouco tempo após deixar o cargo, Emiliano Zapata é assassinado numa emboscada.
Por que contei esta história? Por ver que hoje não mais existe um Emiliano Zapata.
Hoje, os que conseguem chegar ao poder prometendo soluções mágicas, esquecem-se das promessas e passam a grifar os nomes dos que levantam a voz contra a ausência de providências.
Assistem ao crescimento do desemprego, da corrupção, da impunidade e justificam o arrocho salarial que antes tanto combatiam. Retiram direitos dos trabalhadores e falam em aumentar impostos com uma tranquilidade que chega a causar revolta a um frade de pedra.
Emiliano Zapata vive até hoje no coração dos mexicanos.
Já os bufões estão condenados ao esquecimento.
Inácio Augusto de Almeida é jornalista e escritor
Existem pessoas q vem ao mundo para marcar para eternidade outras simplesmente passar
Você está certÃssimo, Cláudio.
Basta ver Mandela, Gandhi, Teresa de Calcutá e Jesus Cristo.
Já os que se deixam seduzir pelos encantos da burguesia e mergulham na corrupção…
Isso é história, que torna o homem honrado em herói. Quanto aos traidores do povo só resta a porta dos fundo e o silêncio da mesma.
Certo!
Os homens honrados têm lugar na história.
Os que traem o povo são jogados na vala do esquecimento.
Que belo texto Inácio Almeida, parabéns, qualquer semelhança com os polÃticos brasileiros é mera coincidência.
Muito obrigado por ter gostado do meu texto.
Apenas aproveito para dizer que qualquer semelhança com os o polÃticos brasileiros é PROPOSITAL!
Como sempre os escritos do amigo são valorosos, da mais alta qualidade.
Forte abraço.
A história nos coloca diante de algumas reflexões necessárias. Primeiro, a necessária compreensão dos limites da ação do Estado, segundo e consequência direta dessa consciência, de que o gestor não pode tudo e que a ação do Estado é por natureza limitada a manter a agir até o limite de manter ordem, e jamais promoverá qualquer “revolução social”, quando invertem-se os papeis e, por exemplo sindicalistas e/ou opositores dos gestores outrem, conseguem chegar ao poder são engessados pelos os limites do Estado e seguem o baile riscando nomes das listas…
Haaa!!!, mas isso apenas reforça a necessidade de uma sociedade com coletivos fortes e organizados para disputar suas pautas e ter seus pleitos atendidos pelo Estado.