Diz a sabedoria popular, “quem com muitas pedras mexe uma lhe cai na cabeça”… A situação em que se encontra atualmente a governadora do estado, em relação aos seus aliados petistas, corrobora esplendidamente o axioma popular corrente desde quando as pessoas sensatas ainda conseguiam extrair lições da experiência.
Refém do Partido dos Trabalhadores, sem o qual não pode governar, pela primeira vez em muitos anos Dona Wilma começa a colher o que plantou, enquanto – de crista caída — vai comendo o pão diabolicamente amassado por aliados e partidários vorazes, cada vez mais incontentáveis, dos quais os petistas são os mais notáveis.
A prensa que o presidente da Fundação José Augusto lhe deu, ao cobrar-lhe recursos e autonomia, prova-o sobejamente. A governadora, acostumada a pisar no pescoço de todo mundo, está agora, pela primeira vez, encurralada numa saia justa que se esgarça a cada nova investida oriunda dos mais diversos setores do conglomerado aliado.
Somando-se à pressão petista, o próprio desmoronamento do estado, especialmente na área da segurança pública, entregue a um secretário fraco e à falta de estrutura e de recursos para controlar o crime que avança como um tsunami sobre a sociedade norte-rio-grandense, que, exausta de tanta expectativa, começa a desesperar, ao perceber claramente o tamanho do descaso do governo do estado e da inércia do governo federal, despreparados para agir em benefício da tranqüilidade de todos.
Lendo este JH Primeira Edição, jornal que espelha com maior clareza a real situação da governadora, inteiramo-nos do tamanho da crise que ronda o governo, algo inaudito, se considerarmos que a governadora tem se mostrado perita, no curso dos anos, em calcar sob os seus pés o pescoço de lideranças tradicionais passadas na casca do alho, como Aluízio e seu irmão Agnelo Alves, senadores Garibaldi Alves e Agripino Maia, Geraldo Melo e o mal-sucedido costureiro Fernando Bezerra, apeado do sonho de vir-a-ser um novo cacique, quando mal começava a velejar na turbulência da política.
Todos esses, sem exceção, Dona Wilma levou na conversa, desfrutando do apoio e dos recursos materiais e políticos de cada um, até a rasteira final, na qual tem se mostrado uma habilidosa capoeirista. Agora, porém, a maré parece estar mudando e a prova disso está na paciência com que tem suportado as impertinências de uma ala do PT que apóia e dá guarida ao cordelista Crispiniano Neto, que a governadora está engolindo sem mastigar, de goela abaixo, sem nem mesmo o conforto de um gole dágua capaz de facilitar a deglutição de bocado tão amargo e cheio de asperezas que hão de fazer mal ao seu delicado estômago de primeira mandatária…
Quem acompanha a cena política se surpreende com o encurralamento da governadora Wilma de Faria, que, durante tantos anos, graças ao seu grande poder de maquinação, sempre pareceu aos mais bem-informados uma verdadeira discípula de Maquiavel.
Uma Maquiavel de saias que, por arrogância e orgulho desmedidos, parece ter caído finalmente, primeira vez, numa esparrela capaz de dificultar-lhe os planos futuros. Para sair dessa enrascada em que se meteu, vai ter que aprender a assoviar e chupar cana ao mesmo tempo…
Franklin Jorge é escritor e jornalista – franklinjorge@yahoo.com.br
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