domingo - 22/12/2024 - 13:24h

Enquanto o leite ferve

Por Bruno Ernesto

Foto ilustrativa feita pelo autor da crônica

Foto ilustrativa feita pelo autor da crônica

Se há uma lei, regra, norma jurídica, regra social, tipo penal, jurisprudência, verdade real, filosófica, exercício da ponderação, sopesamento, interpretação extensiva, restritiva, literal, história, sistemática e cuja a modulação dos efeitos jamais retirará a sua eficácia plena e imediata, é a lei do leite derramado.

Não, não me refiro àquela chance perdida, o termo que se operou, o fato que que se consumou, o ato comissivo ou omissivo, ou qualquer situação que nos ponha a refletir.

Nossa relação quanto a tais ou quais circunstâncias que, rotineiramente, nos foge ao controle, está mais para uma relação sinalagmática, nos mantemos distantes de certas realidades, e trocamos o caos por ideias e metas que, ainda que intangíveis, se mostram extremamente mais atraentes apenas pelo fato de ser uma mera possibilidade.

Há uma sentença, cuja autoria se atribui a Sigmund Freud, e que muito bem se adequa às questões que tentamos solucionar, quando, em verdade, restam insolúveis, e que devemos, por coerência, manter seu estado intocável: “Não vou deixar que nenhuma reflexão filosófica me tire o prazer das coisas simples da vida.”

Ninguém precisa solucionar tudo para que a vida faça algum sentido. Não por incapacidade nossa, mas, sim, por serem essencialmente insolúveis; ou seja, a lógica de sua existência é a sua própria insolubilidade, uma vez que o sentido da vida é algo individual. A sua lógica de vida não é igual ao do outro.

Nem tudo na vida há solução ou mesmo merece ser resolvido; notadamente questões de cunho pessoal, ainda que a reflexão acerca de questões básicas envolvam a lógica de que o sentido de tudo é a coerência entre pensamento, atos e ações, pois, rotineiramente, já não mais guarda qualquer sentido com o seu eventual proveito.

Se você observar bem, certas vontades, dúvidas, alegrias, tristezas ou certezas, duram uma fração de segundo. Quiçá, apenas o tempo suficiente para o leite ferver e sujar o fogão, ainda que observemos a tudo e a todos atentamente.

Bruno Ernesto é advogado, professor e escritor

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Categoria(s): Crônica

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