Por Honório de Medeiros
Gustavo Sobral é surpreendente.
Enquanto escritor, e ainda bastante jovem, em pouco tempo deixou relevante marca, em áreas distintas, na escrita norte-rio-grandense.
Ensaísta, é o autor de Rodolfo Garcia; Autores Locais; Oswaldo Lamartine, a Biografia de uma Obra; Berilo Wanderley, o Cronista da Cidade.
Historiador, lançou Governo do Rio Grande do Norte (1935-2018), em parceria com Honório de Medeiros e André F. P. Furtado e participação de vários escritores potiguares; História da Cidade do Natal; Memórias do Jornalismo no Rio Grande do Norte; As Memórias Alheias; Augusto Severo Neto, Obras Inéditas; e Arquitetura Moderna Potiguar.
Cronista, legou-nos Cenas Natalenses; Cinco Cronistas da Cidade (publicação, preparação dos originais, seleção, organização e posfácio); e Petrópolis. Na literatura infantil, escreveu e publicou, dentre vários outros, Luísa e a Flor em um Convite para o Chá; Naty e a Natureza; Eva e Bóris.
A par de tudo isso, editou, ilustrou, prefaciou, pesquisou e reuniu acervos históricos e literários quase desaparecidos, muito importantes. Para tanto, viajou, pesquisou e estudou. Recuperou, assim, do limbo, escritores e personagens da história submersos no pó do tempo. E, ainda, organizou revistas, catálogos e textos de ciclos de palestras.
Alguns dos livros exclusivamente seus são obras de referência, sempre consultados, como Oswaldo Lamartine, a Biografia de uma Obra; Rodolfo Garcia; e Memórias do Jornalismo no Rio Grande do Norte. Há diversos, claro.
Um outro, o Governo do Rio Grande do Norte (1935-2018), nele participou, também, com sua apresentação:
Em 1939, o historiador Luís da Câmara Cascudo apareceu com “Governo do Rio Grande do Norte”, reunindo a história e a trajetória dos governantes que andaram por aqui de 1597 até 1935. O tempo foi passando e ficou uma lacuna a ser preenchida com os que vieram depois.
Foi esta a deixa que levou André Felipe Pignataro, Gustavo Sobral e Honório de Medeiros, em 2018, a reunir uma plêiade de pesquisadores e escritores, dentre eles, historiadores, juristas, jornalistas, professores, e continuar até os dias de hoje.
O resultado vem a público em e-book, apresentando a trajetória dos governantes do Rio Grande do Norte de 1935 a 2018. O livro traz, a princípio, uma listagem organizada por ordem cronológica, contemplando cada um dos governos, a que se segue os perfis dos 25 governos que administraram o Estado neste período.
Autores: Adilson Gurgel de Castro; André Felipe Pignataro; Carlos Roberto de Miranda Gomes; David de Medeiros Leite; François Silvestre; Honório de Medeiros; Gustavo Sobral; Isaura Rosado; José Antônio Spinelli; Ludimilla Carvalho Serafim de Oliveira; Maria do Nascimento Bezerra; Ramon Ribeiro; Ricardo Sobral; Roberto Homem de Siqueira; Saul Estevam Fernandes; Sérgio Trindade; Tarcísio Gurgel; Thiago Freire Costa de Melo; Vicente Serejo; Walclei de Araújo Azevedo.
Como se percebe, um conjunto respeitável de escritores potiguares participou do livro.
Dono de um estilo peculiar, Sobral está em sua plenitude no Oswaldo Lamartine, um livro para quem gosta de ler, correr os olhos por um texto muito bem escrito, cuja forma é uma obra de arte e o conteúdo, muito relevante.
Logo no início do livro, dizendo a respeito da opção temática do seu biografado, observa que para a escrita do livro,
Oswaldo Lamartine de Faria tratou de pesquisar, erigir e revelar, série de estudos cujos olhos estão voltados para, dentre os sertões que há, o Seridó, cravado no Rio Grande do Norte por fazendas de gado e algodão, serras e açudes. Oswaldo tratou de construí-lo por mais de cinquenta anos, entalhando-o em suas pesquisas publicadas em jornais, revistas, plaquetes e livros. Proposta que o filia a tradição brasileira dos que se debruçaram sobre o tema1. A opção de Oswaldo se volta para explorar caça, criação de abelhas, construção de açudes, ferros, aspectos do criatório.
Em “Nota de Rodapé”, acrescenta:
Do primeiro romance temático escrito por José Alencar aos sertões de Euclides da Cunha, José Américo de Almeida, Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, Guimarães Rosa, Ariano Suassuna e tantos outros. Na literatura do Rio Grande do Norte, abarca o contista Afonso Bezerra, o poeta Othoniel Menezes e o romancista José Bezerra Gomes. A opção de Oswaldo filia-se a uma tradição de estudos sertanejos no Rio Grande do Norte aos escritos de Manoel Dantas, Eloy de Souza, Felipe Guerra, Juvenal Lamartine e José Augusto Bezerra de Medeiros, todos eles em que o embate é não ficcional, e sim revelado nas suas riquezas e agruras, denunciado como fez Euclides da Cunha. 12 Oswaldo assim se firma no papel de etnógrafo e pesquisador do que ele chamaria depois de “o sertão de nunca-mais”.
Outro exemplo notável é a qualidade do Memórias do Jornalismo no Rio Grande do Norte, assim como do pequeno ensaio Rodolfo Garcia, sem desdouro dos demais.
Não menos interessante, muito antes pelo contrário, é sua larga contribuição na literatura infantil, que vai além dos títulos citados neste texto.
Tudo isso, sem que se mencionasse, com detalhes, sua contribuição intelectual não somente em jornais, mas também em revistas como a “Galo” assim como as da Academia Norte-rio-grandense de Letras, e a do Instituto Histórico do Rio Grande do Norte, dentre várias.
Não por outra razão, aos poucos, mas com consistência de sua parte e respeito dos que o leem, seja como escritor, jornalista, historiador, ou editor, sem esquecer a qualidade dos desenhos de sua autoria com os quais ilustra seus textos, Gustavo Sobral firma seu nome dentre aqueles cuja produção intelectual, no Rio Grande do Norte, adquire significativa relevância.
Honório de Medeiros é professor, escritor e ex-secretário da Prefeitura do Natal e do Governo do RN
Tão jovem e com uma carreira sólida e cheia de contribuições relevantes. Aplausos