Por Francisco Edilson Leite Pinto Junior
“Fica decretado que agora vale a verdade. Agora vale a vida, e de mãos dadas, Marcharemos todos pela vida verdadeira” (Estatuto do homem – Thiago de Mello)
Ontem. Dia dos pais. E que presente foi dado a um deles… Um ex-aluno meu, colega de especialidade cirúrgica e também professor de ofício de medicina, Dr. Irami Araújo, saiu de casa, operado de um dente, e foi dar plantão na versão atual e moderna do INFERNO DE DANTE: o Hospital Clóvis Sarinho (HCS).
Hoje. Dia 13 de agosto de 2012. São 16:00h. Acabo de receber um e-mail dele cujo relato, caro leitor, faço questão de colocá-lo na íntegra:
“Houve vários atendimentos de pacientes gravíssimos, que necessitaram de intubação orotraqueal ou cricotiroidostomia; metade das intubações foram realizadas às cegas ou quase, pois estávamos sem aspirador funcionando e sendo feitas no chão, devido a falta de macas altas; Oito/nove ambulâncias do SAMU retidas no pátio, sem condições de saírem, macas presas; e chegando mais; Só havia tubos traqueais 7 ou 9 Fr, ou seja, ou ficava muito frouxo ou muito apertado, dificultand o a intubação dos pacientes graves e a ventilação a posteriori; Não havia dreno de tórax, acreditem, dreno de tórax. Lastimável!!!! Devido ao esforço em intubar pacientes no chão, eis que começo a sangrar pela cirurgia dentária, então literalmente, senti o gosto de sangue, já que o odor do mesmo e de outros excrementos humanos já habitavam meu olfato, desde o início do plantão; Corredores lotados, aliás, não havia mais corredores, eram depósitos de pessoas, os chamados na atualidade de clientes do SUS, pela tão propagada política de humanização da saúde; Com certeza, não eram mais nem clientes ou pacientes, naquela situação, assumiam papel de qualquer ‘coisa’, menos de pessoas que necessitavam de cuidados; Nós, profissionais de saúde, também qualquer ‘coisa’ que vocês queiram imaginar, já estávamos perdendo a batalha, por falta de munição; Dreno de tórax??? Era o de menos… E assim fomos até o raiar do dia, gosto de sangue na boca, cansado, desiludido, sem esperança, abandonado, todos nós, eu, meus colegas e os pacientes… ou qualquer ‘coisa’ que os senhores queiram denominar”.
Meu Deus! Pensei comigo mesmo, após ler este email: “A sabedoria eclesiástica continua com a sua terrível verdade: NADA DE NOVO DEBAIXO DO SOL!”. E o que é pior, fica a sensação de que teremos que absolver Hitler, já que ele foi muito menos cruel.
Ele pelo menos tinha uma “desculpa”: purificar a humanidade… E qual será a nossa desculpa para mantermos este estado vergonhoso, que diminui, que apequena, que agride, que destrói e que mutila a dignidade da pessoa humana? Até quando manteremos viva a nossa porção Auschwitz-Birkenau? Até quando?
Meu Deus! Será que é tão difícil resolver esta situação? Será que é tão difícil resolver toda essa bagunça criminosa que foi feita ao longo de anos e anos na saúde deste estado? Quantas pessoas terão que morrer a mais, quantos profissionais da saúde terão que adoecer, para a gente pensar em mover-nos da nossa zona de conforto e dizer: BASTA!
Eu sei, caro leitor, que é triste ter que concordar com a célebre frase de Henry Ford: “A guerra dá lucro. Para os banqueiros internacionais, instigar guerras e enviar jovens para a morte é o melhor de todos os negócios”.
No entanto, é mais triste ainda ter que concordar com a lucidez do meu ex-aluno, médico regulador do SAMU Natal, Dr. Carlos Eduardo: “Professor, sabe quando esse caos na saúde do estado vai ser resolvido? Nunca! Pois ele dá dinheiro, professor. O caos dá dinheiro!”.
Não sei se foi a médica Zilda Arns que disse: corte o orçamento pela metade e tenha boas ideias. Mas, o que sei é que se fizéssemos isso – cortar o orçamento pela metade-, pelo menos resolveríamos grande parte de toda essa calamidade.
Primeiro, acabaríamos os escândalos na saúde, pois sem dinheiro sobrando não haveria gatos, nem ratos… Depois, bastaria utilizarmos a lei de Pareto, que diz: “80% das consequências advém de 20% das causas”. E aí 20% das causas se chamam PRIORIDADES: uma central de regulação única de leitos de todo estado, organizando o fluxo dos pacientes; três unidades hospitalares de média complexidade abastecidas e distribuídas no interior do estado para servirem de anteparo ao HCS; valorização dos funcionários que querem trabalhar e demissão dos que não querem… Isso, só isso, já resolveria e muito todo esse caos.
Pois bem, caro leitor! Diferentemente de Nelson Rodrigues que afirmava que em Brasília, éramos todos inocentes e éramos todos cúmplices; neste caos da saúde do RN, só há culpados e só há cúmplices.
De governadores anteriores ao atual, de gestores da saúde anteriores ao atual, toda a população, inclusive eu e você caro leitor, somos TODOS CULPADOS por isso, afinal O ESTADO SOMOS NÓS… e cabe a todos nós, pelo menos fazermos um pacto da mediocridade coletiva: enquanto este caos perdurar, ninguém tem o direito de rir no RN, pois vamos rir de que: da nossa própria miséria, da nossa própria incompetência, do nosso próprio descaso?…
Por último, vale a torcida para que a teoria de Allan Kardec esteja completamente errada, pois se tiver reencarnação, caro leitor, estamos fritos, literalmente fritos e que Deus tenha piedade de todos nós!
Francisco Edilson Leite Pinto Junior – Professor, médico e escritor (estou Coordenador Geral do SAMU Natal).
A que ponto de degradação chegamos.
Só nos resta comparar o quadro descrito com tintas fortes por este médico ao inferno de Dante.
E o que mais nos assusta é que para as autoridades tudo está nos seus devidos lugares.
Até quando este país irá suportar tanto descaso, tanta corrupção?
Até termos um novo 1964, quando então tudo começará de novo?
Será que nunca teremos uma mudança de verdade?
Perto do que estamos presenciando a Roma dos Césares é o paraíso.
Lá pelo menos tinha pão e circo.
Aqui nem isto mais temos.
Ou será que a nossa gente consegue ter pão com um salário de menos de 700 reais?
Circo, nem se fala.
Até quando, meu Deus?
Inácio também acho um absurdo a que ponto chegamos como civilização, mais é isto que nós brasileiros plantamos nos últimos 500 anos, agora estamos colhendo, enquanto nós brasileiros não mudarmos nosso modo de pensar e de agir não teremos perspectivas favoráveis a nosso futuro.
Quem transita pelo Centro Administrativo percebe que a coisa vai piorar, infelizmente. É um governo sem qualquer planejamento. O sec. de Planjemaneto não entende patavina nenhuma de orçamento, de gestão. A sua única qualificação é ser amigo do rei. Vimos ele criticar a administração anterior por fazer um orçamento irreal; no governo rosado, ele fez um pior. Não há projeto. Licitações desertas, porque o governo não paga aos fornecedores. O empresário-fornecedor precisa ficar implorando para receber do Estado o que lhe é devido. Falta de tudo nas secretarias.
Parabéns Dr. Edilson, o Sr e’ um grande exemplo de competência, espirito publico e humildade. E’ deplorável tudo o que estão fazendo acontecer.
Louvo esse médico e corroboro com ele. É assim mesmo, doutor, trabalhei na urgência muitos anos…
Parabenizo o blog por divulgar este artigo. Enviamos para vários blogs do estado e nenhum fez referencia. este artigo é a verdade do que vem ocorrendo rotineiramente nos corredores do HWG. Nós profissionais de saúde estamos arrasados com tanto descaso.
…E nós podemos dar um jeito nisso, temos eleições agora e em 2014. Acho que somos bastante crescidos para compreender quem faz política por querer ajudar no desenvolvimento e quem faz por emprego,por gostar e querer as benesses do poder. Aqui em Natal por exemplo, temos um legislativo municipal que poucos merecem retornar, pois COLABORARAM para a destruição da cidade apoiando e NÃO fiscalizando como deve ser, o poder executivo. Tem mais sou CONTRA A PERPETUAÇÃO NO PODER, DEVIAM ACABAR COM A REELEIÇÃO E MANDATO DE LEGISLATIVO NÃO MAIS QUE DOIS, POIS VIRA EMPREGO.
meu caro esperar até 2014 num vai dar não!!!!
Os interesses dos donos do poder, isso é o que ocorre no RN.Qual foi o desempenho da senora Rosalba como senadora?Quem a levou até lá?Quem era seu suplente? Quem deu apoio a ela pra chegar ao Governo?Quem assumiu a suplencia? Procurem essas respostas e tirem sua conclusões.