Por Paulo Menezes
O cantor Nelson Ned tinha razão: o domingo é um dia triste.
Melhor é a sexta feira e mais gostoso ainda é o sábado. O dia em que o grande Vinicius de Moraes ( viveu intensamente 150 anos ) sempre reverenciou como sendo o dia do amor.
Pois bem. Após um dia de confraternização com amigos do meu bem querer, afastando um pouco o estresse desses dias de pandemia, regado a um bom e reconfortante vinho, estou no silêncio do meu quarto a meditar e relembrar fases da minha vida.
O filme passa e me vejo, no fulgor dos meus 19 anos, na Estação Ferroviária, hoje Estação das Artes Eliseu Ventania, mala pronta, feita com muito carinho, no embarque do trem para Sousa, vizinho estado da Paraíba, para assumir meu primeiro emprego, que seria o único, na condição de concursado do Banco do Nordeste do Brasil.
Tempo em que bancário “era gente”.
As maiores autoridades da cidade de então eram o prefeito, o padre, o juiz e o gerente do banco. Hoje, das autoridades de outrora, a meu juízo, só tem o padre. Parti, ao meio-dia. Cheguei às 20 horas.
Deixei em Mossoró, um namoro apaixonado que este ano completou 57 anos de um convívio harmonioso e feliz. Nesse tempo de vida em comum contabilizo no balanço de lucros e perdas um saldo positivo onde as receitas superaram as despesas.
O HD ainda perfeito, me lembra com cristalina imagem, a hora da chegada no hotel, a posse no banco com gravata, camisa “volta ao mundo” (ai novo!), a admissão na república dos bancários, onde fui muito bem acolhido.
A saudade de casa e da namorada distante, tempo de difícil comunicação, enfim, tudo era novidade para o começo de uma vida, pela primeira vez longe de meus familiares.
Na lembrança desse tempo distante, me interrogo numa dúvida existencial. Por ter perdido o contato com os colegas bancários, a pergunta que não quer calar: quantos e quais os que permanecem entre nós?
Pelo tempo decorrido, com certeza, alguns estão em outra dimensão. Outros, assim como eu, continuam na luta, a viver feliz e
intensamente, a sonhar, recordar como faço agora um passado distante e ditoso.
Afinal como dizia Carlos Drummond de Andrade “Ser feliz sem motivo é a forma mais autêntica de felicidade”.
Paulo Menezes é meliponicultor
Nota dez