domingo - 16/11/2025 - 08:10h

Este é Pedrinho – Memórias de uma cobertura jornalística

Por Marcello Benevolo

Capa do Correio Braziliense (Reprodução do BCS)

Capa do Correio Braziliense (Reprodução do BCS)

Todo fim de ano eu entro em modo reflexivo. Revisito o passado, olho para o presente e arrisco alguns pensamentos sobre o futuro.

Nessa última viagem pela minha memória, parei no ano de 2002.

Naquele ano, eu estava mergulhado na cobertura jornalística do “caso Pedrinho” – o bebê roubado de uma maternidade de Brasília 16 anos antes e que teria inspirado a novela global “Senhora do Destino”, estrelada por Renata Sorrah.

Uma grande equipe do Correio Braziliense, onde trabalhava à época, seguiu para Goiás. Parte dos repórteres ficou em Goiânia. Eu, ao lado do genial fotógrafo Carlos Moura (in memorian), peguei a estrada rumo a Itaguari, uma pacata cidade de aproximadamente 5 mil habitantes, a cerca de duas horas da capital. Era ali que o adolescente costumava passar as férias escolares na casa do “avô” paterno.

Com o “vô Tonho”, fomos reconstruindo a infância desconhecida do então Osvaldo Martins Júnior, nome de batismo dado por Wilma, a sequestradora. Os amigos de infância ainda estavam atônitos com a revelação da história. A reportagem exclusiva do colega Renato Alves, publicada dias antes no Correio, tinha transformado o caso no principal assunto da pequena cidade.

Foi em Itaguari que, por meio de uma paquera de Pedrinho, conseguimos a primeira – e exclusiva – imagem do garoto. A essa altura, ele estava escondido em Goiânia pela mãe adotiva e sequestradora, fugindo da imprensa depois da descoberta do caso e da enorme repercussão nacional da história. Nem para a escola estava indo naqueles dias.

Vale lembrar: não existia iPhone naquela época. E em Itaguari não havia sequer uma lan house. Moura então fez a foto da foto (mas já se usava câmera digital!) e nós voltamos literalmente voando para um hotel em Goiânia, de onde transmitimos a imagem para a redação do jornal, em Brasília.

A foto finalmente impressa foi levada para os pais biológicos de Pedrinho, Jayro e Lia, na casa onde moravam no Lago Norte. Eles não tiveram dúvidas de que aquele adolescente de 16 anos era o filho roubado da maternidade do Hospital Regional da Asa Sul, em 1986. “Até a orelha tem os traços do pai”, teria dito um deles.

No domingo, 10/11/2002, a imagem exclusiva do menino estampou a capa do Correio Braziliense com a manchete: “Este é Pedrinho”, encerrando 16 anos de suspense. O resto virou história: dias, semanas, meses de intensa cobertura jornalística. Tempos depois, Wilma acabou presa e Pedrinho foi morar em Brasília com os pais biológicos.

Minha editora, a habilidosa Ana Dubeux, sempre dizia que um dia ainda “encontraria” Pedrinho. Seria a história da vida dela! E encontrou! Fica aqui o registro: parabéns pela cobertura épica do Correio Braziliense – e obrigado por ter me incluído nela.

Hoje, Pedrinho é advogado, casado, pai de dois filhos. Mora em Brasília com a família e recentemente voltou ao noticiário ao integrar a equipe de defesa do jogador Robinho.

A história completa está contada no livro do jornalista mineiro de Sete Lagoas, com quem tive o privilégio de trabalhar, Renato Alves, sob o título “O Caso Pedrinho” (Editora Geração), disponível em livrarias e marketplaces.

Marcello Benevolo é jornalista e advogado

Compartilhe:
Categoria(s): Crônica

Faça um Comentário

*


Current day month ye@r *

Home | Quem Somos | Regras | Opinião | Especial | Favoritos | Histórico | Fale Conosco
© Copyright 2011 - 2025. Todos os Direitos Reservados.