Era original, criativa, isso sem ser extravagante nem exibida. Um show de mulher, que quando entrava nos lugares era olhada por homens e mulheres, com admiração.
Eu, ainda garota, era amiga das duas; inicialmente da mais bonita, pois era com ela que saía à noite, ia às festas, aos lugares onde as coisas aconteciam.
A outra era casada; mal casada mas casada, e nos víamos eventualmente para almoçar. Ela era simpática, agradável, mas perto da irmã, desaparecia.
E a irmã tinha sempre muitas histórias boas para contar. Histórias dos bastidores da alta costura (tudo isso se passou em Paris), das pessoas famosas que ela conhecia, e sobretudo dos seus "dramas" amorosos. Ela nunca tinha um namorado só e, como nenhum morava em Paris, isso facilitava bem as coisas.
Ainda me lembro: naquela época – estou falando dos anos 50 – os telefones eram precários, e as comunicações aconteciam por telegrama. Um dos namorados era príncipe – havia tantos, sobretudo na Itália – , se chamava Galvano e morava na Sicília.
Volta e meia chegava um telegrama, marcando de encontrá-la em Palermo no fim de semana; e lá ia ela. O outro morava em Milão, e o encontro seria em Roma. Na época, nunca me ocorreu por que razão eles não iam nunca a Paris; era assim e pronto.
Ela sofria, e eles aprontavam, sumiam, namoravam outras, e assim foi indo a vida.
Um dia ela achou que estava na hora de sossegar e se casou com um belo italiano; não me parece que tenha sido um grande amor, mas foi um casamento que funcionou. Ela foi morar em Milão, trancou-se em casa, e sua única distração, digamos assim, era a moda.
Comprava tudo que aparecia de novo, até que um dia teve uma doença ruim e morreu. Enquanto isso a vida da irmã continuava: separou-se do primeiro marido -porque quis -, marido esse que passou anos fazendo tudo para que ela voltasse.
Se casou de novo, com um produtor de cinema, e o casamento, muito feliz, durou até que um dia ele teve um infarto fulminante e morreu. Ela sofreu, mas não deixou a peteca cair; tempos depois estava casada de novo, com o homem que mais amou, e que trabalhava no show business.
Foi um amor louco, absoluto; ele tinha uns 15 anos menos que ela, era lindo, e morreu aos 33 anos de cirrose. Como ela sofreu; parecia que nunca mais levantaria a cabeça.
É preciso aqui fazer uma pausa: desde que a irmã se casou, fomos ficando cada vez mais amigas. Fui percebendo o quanto ela era generosa, interessada pelas pessoas, pelo mundo em geral, sempre pronta a fazer agrados, carinhos, tolerante e paciente com todos que a rodeavam.
Um dia conheceu seu último marido, com o qual está casada há 30 anos. Um ótimo casamento, devo dizer. E fiquei pensando que os atributos físicos, tão valorizados, fazem com que as pessoas se esqueçam do principal, do que realmente importa, e que faz com que as pessoas se gostem, fiquem amigas, até se apaixonem.
Nunca nenhum homem largou essa minha amiga; já a bonita teve uma vida sentimental atrapalhada, eu diria mesmo infeliz, e não sei se por acaso ou por que, eu comecei amiga de uma, o tempo passou e fui ficando amiga da outra como nunca havia sido da primeira.
E ainda sou.
Danuza Leão é ex-modelo, jornalista, escritora e irmã da falecida cantora Nara Leão.
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