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domingo - 15/08/2021 - 07:48h

Golpe preventivo e o papel das Forças Armadas

Por Odemirton Filho 

O chamado golpe preventivo foi consequência de uma profunda crise político-institucional que se abateu sobre o Brasil no segundo governo de Getúlio Vargas. A oposição a Vargas tinha se fortalecido desde o surgimento da União Democrática Nacional (UDN).

Com a morte de Getúlio, o país ficou profundamente comovido, fato que levou parcela significativa da população a ficar contra os opositores do ex-presidente. Getúlio foi sucedido por Café Filho, que era o vice-presidente à época.

Heneral Henrique Lott, um prestígio e força em defesa da legalidade (Foto: FGV)

Heneral Henrique Lott, um prestígio e força em defesa da legalidade (Foto: FGV)

Durante o governo de Café Filho houve a pretensão de se anular as eleições de 1955. Entretanto, Café afirmava que as eleições aconteceriam dentro da normalidade, como estava previsto, porém, há quem afirme que apoiava, discretamente, o golpe.

De todo modo, as eleições foram realizadas em outubro de 1955, na qual Juscelino Kubitschek obteve 36% dos votos contra 30% dos votos para Juarez Távora, 26% de Ademar de Barros e 8% de Plínio Salgado. A vitória de Juscelino enfureceu, ainda mais, os oposicionistas ligados à UDN.

Carlos Lacerda, então, fez um apelo para uma intervenção dos militares, tendo o apoio de outros grupos políticos, acusando Juscelino de ser comunista, entre outros argumentos, tudo para negar a posse de JK.

No dia primeiro de novembro daquele ano, o coronel Jurandir Mamede defendeu, abertamente, o golpe militar contra a posse de Juscelino Kubitschek e João Goulart.

Contudo, entrou em cena um ardoroso defensor da legalidade e, por consequência, da posse de Juscelino e seu vice. Trata-se do general Henrique Teixeira Lott. O general era Ministro da Guerra e tinha prestígio dentro das Forças Armadas. Segundo conta a história, Lott combatia tanto os chamados comunistas, como os radicais conservadores.

Lott exigiu do presidente Café Filho uma punição ao coronel Mamede por causa dos seus arroubos. Café, todavia, afastou-se da Presidência por motivo de saúde. Carlos Luz, presidente da Câmara dos Deputados, que o sucedeu, apoiava os rompantes golpistas e não atendeu aos apelos de Lott.

Em consequência, Lott pediu exoneração do Ministério da Guerra e iniciou o chamado golpe preventivo. Narra-se que “O general Lott mobilizou tropas militares no Rio de Janeiro e realizou um golpe militar fulminante. As tropas lideradas por Lott tomaram o controle de unidades militares e invadiram prédios governamentais, além de estações de rádio e jornais. Além disso, anunciou a deposição do presidente interino Carlos Luz”.

Os deputados federais, posteriormente, ratificaram a deposição de Carlos Luz, sendo a Presidência assumida por Nereu Ramos, presidente do Senado. Dessa forma, Lott assegurou a legalidade, confirmando a posse de JK para 1956. Dias depois, Café Filho tentou reassumir a presidência do Brasil, sem sucesso. Assim, o país ficou em Estado de Sítio até a posse de Juscelino, em 31 de janeiro de 1956.

Pois bem.

Os fatos descritos acima são apenas um fragmento de nossa história política. Concorde-se ou não com o ocorrido, o fato é que o general Lott garantiu a legalidade naquele momento de tensão político-institucional. Foi através de seu golpe preventivo, ou contragolpe, que Juscelino assumiu o Poder, já que fora legitimamente eleito.

Hoje, vivemos noutros tempos. Tempos nos quais deve existir o respeito ao Estado democrático de Direito e às instituições que formam a República Federativa do Brasil.

E qual o papel das Forças Armadas no atual contexto da sociedade brasileira?

De acordo com o artigo 142 da vigente Constituição Federal, “as Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem”.

Ou seja, devem agir em defesa da Pátria, garantindo os Poderes constitucionais (Executivo, Legislativo e Judiciário), visando a assegurar a independência e o respeito de suas funções. Além, é claro, de assegurar a legalidade e a ordem.

“Constituem, assim, elemento fundamental da organização coercitiva a serviço do Direito e da paz social. (…) são, portanto, os garantes materiais da subsistência do estado e da perfeita realização dos seus fins. Em função da consciência que tenham da sua missão está a tranquilidade interna pela estabilidade das instituições”, ensina o professor José Afonso da Silva.

É o que se espera das Forças Armadas.

Nem mais. Nem menos.

Odemirton Filho é bacharel em Direito e oficial de Justiça

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Categoria(s): Crônica

Comentários

  1. Inácio Augusto de Almeida diz:

    “Tranquilidade interna pela estabilidade das instituições.”
    Manter a tranquilidade interna quando os poderes se desrespeitam é o grande desafio do momento.
    O povo, na sua quase totalidade, mergulhado na miséria testemunha grupos de privilegiados cevando÷se na sua desgraça.
    Cada dia torna-se mais difícil manter a tranquilidade interna.
    Seu texto é fidelíssimo ao momento histórico do fim da era Vargas. Tão fiel que pode ser usado para consulta por estudantes da nossa história política contemporânea.
    Mais um belo trabalho do Odermiton Filho.
    Agora é esperar o próximo domingo.

  2. Amorim diz:

    Grande aula de história.
    Parabéns.
    Em tempo, alguem poderia me responder ou adinvinhar a pergunta de Lauro Jardim?
    Qual seria a posição da”coisa” caso um “dono” de um partido político fizesse as declarações que o Bog fez, mas as forças armadas?
    Um bom domingo.

  3. Marcos Ferreira diz:

    Caro Odemirton Filho,
    Excelente exposição de fatos e ideias. Ótima, também, a contextualização que você faz da história política do Brasil de antes com a sombria conjuntura de hoje. Concordo com o leitor Amorim. Você deu uma bela aula de história. Parabéns!
    Grande abraço,
    Marcos Ferreira.

  4. Rocha Neto diz:

    Caro Odemirton, estava necessitando ler um artigo que me remetesse às minhas aulas do curso ginasial, você conseguiu tamanha proeza através de sua inteligência impar, parece que a professora e diretora do Colégio Diocesano, Raimunda. Almeida (Mundinha) ou Dr. Olavo Maia (a época juiz de direito depois desembargador) e que foi professor de história no velho Colégio Estadual, solicitaram à você para ministrar tão bela aula inerente aos registros e leis do nosso Brasil. Pena que tudo era pra ser como você expõe no décimo sexto parágrafo do artigo em tela, infelizmente nos encontramos diante uma realidade negativa, onde instituições se desrespeitam de forma vil.

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