Da BBB Brasil (Por Néli Pereira)
Historiador e um dos palestrantes mais requisitados do país atualmente, Leandro Karnal diz que o discurso de ódio sempre existiu nas sociedades mas chama a atenção para a facilidade com que ele se propaga, hoje, graças à internet.
“Hoje é um clique e um site, com muitas imagens. Facilitamos muito para quem odeia. O ódio tem imenso poder retórico. Ele sempre existiu. Agora, existe este ódio prêt-à-porter, pronto, onde você se serve à la carte e pega seu prato preferido”, disse ele à BBC Brasil.
Mas apesar da maior facilidade, hoje, de propagação do discurso de intolerância, o professor de história da Universidade Estadual de Campinas diz que “os mais sólidos preconceitos e violências humanos são muito anteriores à globalização”.
Leia abaixo trechos da entrevista:
BBC Brasil – Uma das suas frases que mais viralizou e foi repetida em 2016 diz que “não existe país com governo corrupto e população honesta”. O sr. acha que a população não se enxerga como responsável também pelo processo de corrupção?
Leandro Karnal – Característica nossa e da humanidade: excluir da parte negativa da equação o pronome pessoal reto EU. Em nenhum momento quis dizer que todos nós, brasileiros, somos corruptos, mas que a corrupção é algo forte na política e que a política é uma das camadas constituidoras do todo social, como um mil-folhas.
A política não é descolada da sociedade, mas nasce e volta ao mundo que a gerou. Os políticos são eleitos por nós. Denúncias são feitas e o político é reeleito. Seria coisa de grotões?
De forma alguma, eu me refiro também aos grandes centros urbanos. A expressão rouba mas faz não nasceu no sertão mas na maior e mais rica cidade do país. Meu alunos costumavam assinar lista de presença por colegas e, depois, ir a uma passeata contra corrupção na política.
A mudança não pode ser somente numa etapa do processo. Se você usa – a metáfora é importante – um lava-jato para limpar seu carro e a estrada continua sendo de terra batida, você precisará de uma nova lavagem todos os dias.
BBC Brasil – Mas de certa forma, responsabilizar a população pela corrupção da classe política pode parecer culpar a sociedade pelos erros cometidos pela elite governista, não?
Karnal – O que eu desejo sempre afirmar é que não existe uma elite separada do todo. Um político ladrão deve ser preso e devolver o que roubou. A culpa é dele e só dele. Mas, se queremos um novo país, devemos discutir na base, na educação, na família, na fila do aeroporto e em todos os campos para uma sociedade mais ética.
BBC Brasil – Nesse sentido, é a desigualdade mesmo nosso maior problema?
Karnal – A desigualdade é a base do problema e colabora para a má formação escolar. Uma sociedade que seja desigual já é um problema, mas uma que não educa nega a chance de corrigir a desigualdade. Como sempre, educação escolar básica é a chave da transformação.
Mudar isto muda tudo, como vimos no Japão e na Coreia do Sul após a guerra. Educação é músculo e osso, limpeza ética do Senado é maquiagem, mesmo quando necessária, como toda maquiagem, passageira.
BBC Brasil – Tivemos nesse fim de ano o episódio do ambulante morto a pancadas após defender uma transexual, também tivemos uma chacina em Campinas na qual o autor deixou uma carta criticando o feminismo. O que explica essa intolerância – racial, de gênero, de classe -, e de que forma ela pode ser combatida?
Karnal – Sempre existiu este ódio que flui por todos os lados. Não é fácil existir e acumular fracassos, dores, solidão, questões sexuais, desafetos e uma sensação de que a vida é injusta conosco. O mais fácil é a transposição para terceiros.
Um homem fracassa no seu projeto amoroso. O que é mais fácil? Culpar o feminismo ou a si? A resposta é fácil. Tenho certeza absoluta de que o autor do crime não era um leitor de Simone de Beauvoir ou Betty Friedan. Era um leitor de jargões, de frases feitas, de pensamento plástico e curto que se adaptava a sua dor.
Esses slogans são eficazes: “toda feminista precisa de um macho”, “os gays estão dominando o mundo”, “sem terra é tudo vagabundo”. Curtos, cheios de bílis, carregados de dor, os slogans entram no raso córtex cerebral do que tem medo e serve como muleta eficaz.
No cérebro rarefeito a explicação surge como uma luz e dirige o ódio para fora. Se não houvesse feminismo, o assassino continuaria sendo o fracassado patético que sempre foi, mas agora ele sabe que seu fracasso nasceu das feministas e ele não tem culpa. Isto é o mais poderoso opiáceo já criado: o ódio.
BBC Brasil – De que forma as redes sociais acabaram potencializando essa intolerância e esse discurso de ódio. Eles são reflexo da nossa sociedade ou acabam estimulando os comportamentos mais intolerantes e polarizados?
Karnal – Antes era preciso ler livros para criar estes ódios. Mesmo para um homem médio da década de 1930, ele precisava comprar o Mein Kampf de Hitler e percorrer suas páginas mal redigidas. Ao final, seus vagos temores antissemitas era embasados numa nova literatura com exemplos e que fazia sentido no seu universo. Mesmo assim, havia um custo: um livro.
Hoje é um clique e um site, com muitas imagens. Facilitamos muito para quem odeia. O ódio tem imenso poder retórico. Ele sempre existiu. Agora, existe este ódio prêt-à-porter, pronto, onde você se serve à la carte e pega seu prato preferido.
Exemplo? Uma pessoa me disse: “Quem descumpre a lei deveria ser fuzilado! Bandido deveria ser executado”. Eu argumentei: “Pela sua lógica, descumprimento da lei merece pena capital. Como a lei brasileira proíbe a pena capital, você está defendo crime e incitação ao crime, na sua lógica, deveria ser punida com pena de morte.”
Era uma maneira socrática de argumentar a contradição do enunciado. O caro leitor pode supor que a resposta do indivíduo não foi socrática nem platônica.
BBC Brasil – Pensando num contexto geral, a globalização deu errado? Com esse discurso de fechar fronteiras, de medidas protecionistas…Estamos vivendo um retrocesso, um avanço ou uma estagnação?
Karnal – Não havia um mundo harmônico e feliz antes, e não existe agora. O que varia em história é como produzimos a dor. Nosso método atual mudou este método. Os mais sólidos preconceitos e violências humanos são muito anteriores à globalização.
BBC Brasil – Para muitos, 2016 foi um ano marcado pelo avanço de forças conservadoras. Em 2017, haverá eleições na França e na Alemanha, com os partidos de extrema-direita em ascensão. O que vem pela frente?
Karnal – Difícil falar de futuro para um historiador, profissional do passado. A tendência é de uma onda conservadora por alguns anos em quase todos os lugares. Provavelmente, seguindo o que houve antes, depois de experimentar candidatos conservadores que prometem o paraíso e não vão conseguir, os eleitores estarão de novo inclinados a candidatos de outro perfil que oferecerão o paraíso.
As coisas mudam, mas não mudam porque o presidente usa topete ou é conservador. Presidente democratas estavam no poder com Kennedy e Johnson e a violência racial chegou ao ponto máximo. No período Obama, muitos policiais mataram muitos negros, tendo um presidente negro no poder. Então, de novo, não estamos abandonando um paraíso e ingressando no inferno.
BBC Brasil – O dicionário Oxford escolheu “pós-verdade” como palavra do ano de 2016. A definição é “circunstâncias em que os fatos objetivos têm menos influência sobre a opinião pública do que apelos à emoção e a crenças pessoais”. O conceito é de que a verdade perdeu o valor, e acreditamos não nos fatos, mas no que queremos acreditar que é verdade. Qual sua avaliação sobre essa “nova era” e novo comportamento, que acaba reforçado pelas redes sociais?
Karnal – Sempre fomos estruturalmente mentirosos em todos os campos humanos. A mudança é que antes se mentia e se sabia a diferença entre mentira e verdade, hoje este campo foi esgarçado. O problema talvez seja de critério. Com a ascensão absoluta do indivíduo, o que ele considerar verdade será para ele.
Perdemos um pouco da sociologia da verdade, ou de um critério mais amplo de validação do verdadeiro. No século 18 era o Iluminismo: o método racional que tornava algo aceito como verdade. No 19, foi a ciência e o método empírico para distinguir falso de verdadeiro.
Hoje o critério é a vontade individual. “A água ferve a 100 graus centígrados ao nível do mar”. Verdade? A resposta seria diferente no (século) 19 e hoje.
Acompanhe o Blog Carlos Santos pelo Twitter clicando AQUI.
A emblemática entrevista concedida pelo filósofo Leandro Karnal, na qual o mesmo disseca de maneira magistral a probemática do uso ignorante, abusivo e invasivo das redes sociais, bem demonstra o longo e tortuoso caminho que ainda devemos e precisamos trilhar, sobretudo na democratização real e com controle social dos meios de comunicação de massa de oferta e concessão geridas pelo Estado brasileiro.
No meu modesto modo de pensar, aí está um dos maiores, se não o maior vetor de manipulação e direcionamento das informações de cunho político, econômico e cultural, através dos quais se dissemina e se aprofunda, no caso brasileiro em espécifico, o ódio à política e aos polticios de forma geral, generalizando situações e acontecimentos, com um único fim, qual seja, despolitizar ainda mais o sofrido, ignaro e alienado cidadão e eleitor brasileiro, levando este, crer piamente que a construção da democracia e as saídas das crises devem ser elaboradas e diligenciadas de forma autocrática e sob o sígno do autoritarismo, da manipulação de uns poucos e da violência.
Somos historicamente uma sociedade de excluídos não apenas do ponto de vista material, mas, sobretudo uma sociedade que exercita a cultura do conhecido e disseminado complexo de vira-latas diuturnamente. O fato, infelizmente internaliza “verdades” que calam fundo na cultura de exclusão, amalgamando nos corações e mentes a perversa cultura de criminalização da pobreza e dos pobres, levando estes, infelizmente, a acreditar que não existe saída democratica ao enunciado da disforme e desigual pirâmide social brasileira, assim como, ao conjunto de problemas que através da história os tranformaram em cidadão de segunda e terceira classe
Apesar de aparentemente muita gente usar e interagir através das redes ditas sociais e propriamnte da internet, as estatisticas estão a demonstrar, que, ainda hoje, a grande massa de informações sobre política, economia, costumes e cultura, supostamente verossimeis e que chegam ao eleitor e cidadão brasileiro, 37% (Trinta e sete) por cento chegam ao eleitor e cidadão pela internt e redes soaciais, já 63% (Sessenta e três) por cento, chegam aos olhos, ouvidos e coração do eleitor e cidadaão brasileiro, através do maior e mais concentrado oligopóio de comunicação de massa conhecido no mundo moderno, tendo à frente a porta banderia e o outdoor da autocracia do jornalismo chamada REDE GLOBO DE TELEVISÃO.
Nesse contexto, inclusive histórico, à meu ver não há saida a curto prazo, se não pari passu, a sociedade brasielria tomar consciência desse engodo e desse verdadeiro câncer a gerir e deturpar e manipular a informação e a comunicação social de massa em todos os rincões do nosso país, se não a gradativa democraticação desses memso meios de comunicação, a quebra de seus monopólios e a froma comohistoricamnte são objeto de concessão do estado Brasielrio junto à meia dúzia de assclas e de apadrinhados , verdaderios capitães hereditarios, dos quais, historicamente dependemos totlamente, a matiz, a intensidade e a forma do ver, do falar e ouvir sobre política, economia e cultura em terras tupiniquins, desde priscas eras.
O mais são basófias vivenciadas e determinadas pela ignorância, alienação e (ou) má-fé de uns poucos que teimam em não querer enxergar o óbvio a cinco milimetros do seu tucano nariz.
Um baraço
FRANSUÊLDO VIEIRA DE ARAÚJO.
OAB/RN. 7318.
Concordo em numero, gênero e grau com meu amigo ”Leandrinho”. É assim que ele gostar de ser chamado pelas pessoas mais próximas.
Com exemplo de ódio exagerado, cito os PTralha$ xiitas que, após o seu partido (PT) chegar ao fundo do poço de lama podre; após o pé na bunda da Janete; após perderem o poder e consequentemente as chaves do cofre e as tetas publicas, e com a iminente prisão do chefe da quadrilha se aproximando, passaram a destilar veneno no Xerife Moro (salve salve o Xerife), em todos os cidadãos honestos e não coniventes com a quadrilha, e até nas sombras deles mesmo.
É veneno que não acaba mais.
Esse ódio tem cura? A resposta é sim e não.
Sim, caso os PTralha$ voltem ao poder.
Não, porque os PTralha$ jamais retornarão ao poder. O povo está enojado.
Portanto, o veneno e ódio produzidos em larga escala na $eita PTralha é inesgotável, e só terá fim quando houver outro Big Bang.
Pensando bem, eu não sei o que será pior: o Big Bang, ou aturar a praga PTralha pelo resto da vida.
De uma forma ou de outra, salve-se quem puder.
Por falar em PTralha, a quadrilha juntou-se com as demais quadrilhas (DEM, PSDB, PP, PMDB e demais golpistas), e estão comendo no mesmo coxo, enquanto que o ”gado” confinado nos ”currais” de todo o país, sobretudo o ”gado” confinado em ”currais” mais pobres – leia-se ”curral nordestino”, continuam brigando e ameaçando pegar em armas para defender os …ladrões.
É muita esculhambação e falta de peia, né não?
Leandro Karnal aborda, no texto acima, a fácil disseminação do ódio nas redes sociais e não deixa de mencionar que a corrupção de políticos tem a participação do povo que os elegeu. Cita, inclusive, corruptos que são reeleitos pelo todo social,
inclusive EU e VOCÊ que está lendo o que escrevo agora. Compomos o mil-folhas. Tal quadro só pode ser modificado pela EDUCAÇÃO , pelo enlevo da noção de FAMÍLIA. ..
O ódio se espalha com facilidade por ser um sentimento ruim…parece que o mal tem mais trânsito que o bem. As pessoas, machucadas por vários motivos, vêem na explosão da raiva, a válvula de escape de suas próprias dores.
Aprecio Leandro Karnal…é da paz!
Sou da paz; mas quando vejo milhares de anônimos sendo assassinados em corredores de hospitais vitimas destes representantes do povo, políticos, que visam apenas seus trust, não mais contas bancárias, sinceramente não fico tão em paz!
Congresso Nacional; definição: Uma grande quadrilha dividida em facções, ondes as fações são os partidos políticos!
É muito triste falar isto.
É isso ai, Amorim.
Enquanto não fizer uma limpeza geral em todos os políticos que ai estão, enquanto não aposentar a atual constituição e surgir outra que mude essas leis medíocres, ridículas e imorais que foram elaboradas pelos mesmos corruptos que ai estão, o país não sairá do atoleiro.
O que a outra quadrilha que assumiu o poder está tentando fazer é um simples curativo em paciente terminal, é o mesmo que limpar o ( * ) com canjica. Por quê??? Ora, nenhum deles é do ramo.
O pirão está perdido e não há, hoje no país, alguém capaz de conserta-lo. Se alguém tem em mente um nome, por favor, escreva o nome dele(a) aqui.