Por Antônio Cícero
Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.
Em cofre não se guarda coisa alguma.
Em cofre perde-se a coisa à vista.
Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por
admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.
Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por
ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela,
isto é, estar por ela ou ser por ela.
Por isso, melhor se guarda o vôo de um pássaro
Do que de um pássaro sem vôos.
Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica,
por isso se declara e declama um poema:
Para guardá-lo:
Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:
Guarde o que quer que guarda um poema:
Por isso o lance do poema:
Por guardar-se o que se quer guardar.
Antônio Cícero é poeta e escritor brasileiro
Carlos, amigo.
Pois lembrei-me de Serra Grande, na poesia bela de Antônio Cícero. Quando eu estava na faculdade, à medida em que o tempo passava, o número de livros foi-se avolumando e já não havia espaço para guardá-los. Então, coloquei os que não usava muito por trás dos que eram constantemente consultados. Certa vez, Serra Grande passou pela minha biblioteca, observou aquela “arrumação” , e disse: “Minha filha, você está sepultando os seus livros!” Dias depois providenciou um móvel mais espaçoso para mim. Desde então, aprendi ao vivo e em cores, a diferença entre guardar e sepultar.
Sabe, não é a primeira vez que vc me faz ouvir a voz de meu amado Serra Grande.
Um abraço, Naide.