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domingo - 11/10/2015 - 06:12h

Há 30 anos família Rosado se dividia politicamente

Por Bruno Barreto (O Mossoroense)

“Vingt desliga-se do PDS e vai para o PMDB”. Com essa manchete do O Mossoroense, edição de 10 de outubro de 1985, era noticiado o fato histórico ocorrido no dia anterior: a principal liderança política da família Rosado estava encontrando um novo rumo político. Há 30 anos, um dos mais tradicionais agrupamentos políticos do Rio Grande do Norte se dividia.

Jornal documenta mudança do grupo de Vingt para o PMDB em 1985 (Foto: reprodução)

Nas manchetes das edições dos jornais nos dias seguintes se aborda a aceitação da nova conjuntura política dentro do PMDB, endosso de lideranças do partido na região ao novo aliado e o acompanhamento do então prefeito Dix-huit Rosado (então no segundo dos três mandatos à frente da cidade).

Mas, ao mesmo tempo em que os irmãos migravam para uma nova aliança política com Aluísio Alves, o sobrinho deles, Carlos Augusto Rosado, ficava no PDS. Ele tinha uma decisão a tomar: seguir os tios no novo agrupamento político ou manter-se ao lado do então governador José Agripino, à época ferrenho adversário de Aluísio Alves. Não era uma decisão simples. Para entender o que aconteceu naquele outubro de 1985, é preciso voltar no tempo.

Mas, por quê? É que a cisão política dos Rosados foi um processo longo. Não foi algo do dia para a noite. Foram dez anos com alguns acontecimentos marcantes.

Tudo começou numa noite de 1978, quando o agrupamento se reuniu para decidir que rumos tomar em relação ao novo governador que tomaria posse no ano seguinte. Ao longo do Regime Militar, os governadores eram nomeados pelo presidente. Dix-huit Rosado tinha batido na trave duas vezes. Em 1970 perdeu a disputa para Cortez Pereira.

Quatro anos depois, ele disputou com Osmundo Faria (pai do governador Robinson Faria) e tinha perdido na articulação. Quando estava tudo certo para o anúncio para a escolha de Osmundo, o general Dale Coutinho, que endossara a escolha, morreu de infarto fulminante. Dix-huit volta ao páreo, mas termina vendo Tarcísio Maia ser o escolhido.

Em 1978, tudo caminhava para Dix-huit ser o governador, mas Tarcísio fez força para que o primo dele, o médico Lavoisier Maia Sobrinho, fosse o escolhido. Pesou nessa história a garantia dada por “Lavô” de que o engenheiro José Agripino Maia seria nomeado prefeito biônico de Natal, o que de fato aconteceu em 1979.

Depois disso, a relação entre os irmãos Vingt e Dix-huit com Tarcísio nunca mais foi a mesma. Por isso, a reunião naquela noite de 1978. “Vingt reuniu todos os sobrinhos e cogitou romper com Tarcísio Maia e na hora todos foram contra. Vingt disse que todo mundo poderia ficar com Tarcísio, mas ele ia seguir com Dix-huit. Na hora todos recuaram e ficaram com os tios”, relata o ex-deputado federal Laíre Rosado.

Dix-huit insatisfação com não-escolha a Governo (Foto: reprodução)

O segundo ato do afastamento político, foi a eleição de 1982. Para os mossoroenses ela é marcada pelo “Voto Camarão”. Nesse ponto é preciso entender as regras daquele pleito atípico.

Foram realizadas eleições para vereador, prefeito, deputado estadual, deputado federal, senador e após 17 anos (o último pleito direto para governador tinha sido em 1965) disputa para governador. Prefeitos de capitais só voltaram a ser eleitos em 1985. Presidente da República só voltou a ter eleição direta em 1989.

Por conta do temor de uma vitória avassaladora das oposições foi instituído o voto vinculado. O eleitor era obrigado a votar apenas em candidatos da mesma chapa.

Naquela eleição a disputa pelo Governo do RN foi entre José Agripino (PDS) e Aluízio Alves (PMDB). Vingt não aceitou a escolha de Agripino. Ele integrou o grupo do “Pacto da Solidão”, alusão a Fazenda Solidão onde foram realizadas algumas reuniões em favor de Fernando Bezerra, que viria a ser senador na virada do século.

Diante do quadro do voto vinculado, Vingt pediu aos seus seguidores que praticassem o “voto camarão” cortando a cabeça (sufrágio para governador) e votando no resto. Naquele momento Carlos Augusto Rosado votou em Vingt para federal, mas não anulou voto para o Governo do Estado. Seguiu José Agripino.

“Fazia quase 20 anos que a gente não votava para governador. Vingt estava no voto camarão e a gente era muito jovem. Tivemos que tomar partido e ficamos com José Agripino”, explica o ex-deputado estadual Carlos Augusto Rosado.

As relações ficaram ainda mais distanciadas até 1985, quando Vingt decidiu ir para o PMDB no momento em que Carlos Augusto, então um coadjuvante da política mossoroense, organizava a fundação do Partido da Frente Liberal (PFL) na região Oeste do Estado.

Mas o processo de ruptura política só se concluiu nas eleições para prefeito ocorridas em 1988, quando o distanciamento político foi evidenciado com o embate entre Laíre Rosado (PMDB), então deputados estadual, e a médica Rosalba Ciarlini (PDT), esposa de Carlos Augusto.

Depois disso a política de Mossoró nunca mais foi a mesma.

Retorno do pluripartidarismo facilitou a divisão política

Impossível compreender o longo processo de ruptura dos Rosados sem enquadrá-lo no contexto nacional. No período em que as relações entre Vingt e Tarcísio Maia estavam estremecidas foi instaurado o pluripartidarismo.

O ano é 1980. O Regime Militar avançava na abertura política e temia a força da oposição aglutinada dentro do Movimento Democrático Brasileiro (MDB) que naquele ano ganharia a palavra “Partido” convertendo-se em PMDB.

Carlos Augusto, locutor Evaristo Nogueira, Rosalba e Luiz Pinto em agosto de 1988: a divisão de fato (Foto: reprodução)

Para dividir a oposição que estava reunida dentro de uma legenda que era uma torre de babel ideológica (as esquerdas misturadas com a oposição de direita ao regime) foi criado o pluripartidarismo. Aí surgem o PT, o PDT e o PP (Partido Popular que nada tem a ver com o atual Partido Progressista) que ficava no centro entre PDS (que substituía a Arena) e PMDB. O PTB é recriado e alvo de disputa entre Leonel Brizola e Ieda Vargas, filha de Getúlio, que leva a melhor.

Com o pluripartidarismo, essas legendas se articulam para as eleições de 1982 com o PP sendo incorporado pelo PMDB ao longo do processo.

Com o pluripartidarismo as alternativas se tornaram maiores para os políticos e ficava difícil manter um bloco político grande como o dos Rosados e Maias dentro da mesma agremiação.

Isso tornou viável o afastamento partidário concretizado em 1985, com a dissidência de Carlos Augusto que seguiu ao lado de José Agripino e Tarcísio Maia.

Especialistas analisam fato histórico

Enquanto acontecimento histórico, a opinião de especialistas em história e política divide opiniões sobre o que representou a cisão do agrupamento familiar.

Há uma tese de que os Rosados se dividiram para somar. Mas, aos poucos novas pesquisas surgem e mostram que a divisão foi provocada por uma conjuntura política e que a tal “soma” que dificultou o surgimento de novas forças foi uma consequência não planejada. “Quando você analisa o rompimento dos Rosados tem que observar a conjuntura nacional com a criação do pluripartidarismo e o fim do Regime Militar.

A saída de Vingt para o PMDB é justamente parte de um contexto político das brigas internas que o PDS vivia em nível nacional na escolha entre Sarney e Maluf para a eleição no Colégio Eleitoral. Quem apoiava Sarney saiu quando Maluf ganhou na disputa interna. Vingt votou em Tancredo e depois foi para o PMDB”, afirma o professor Marcílio Falcão do Departamento de História da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (Uern).

O professor Anchieta Alves, que atuava na política mossoroense naquela época, reforça o entendimento de que se tratou de um longo processo. “O rompimento da família Rosado para mim começou mesmo em 1982 com a eleição de José Agripino. Os problemas começaram antes, a partir de 1978, quando Lavoisier foi indicado por Tarcísio Maia para ser governo em vez de Dix-huit. Isso estava condicionado à indicação de José Agripino para prefeito de Natal, mas Dix-huit não deu certeza da nomeação. Lavô deu e foi escolhido.

Voltando a 1982, teve o episódio do voto camarão em que Vingt não votou em Agripino, mas Carlos Augusto não acompanhou os tios. Já em 1988 ficou bem claro para as pessoas quando Tarcísio lançou Rosalba contra Laíre”, relembra.

Para Lemuel Rodrigues, do Departamento de História da Uern, a divisão foi estratégica para evitar o surgimento de forças políticas fora da família. “A pretensa ruptura representou um marco na política da cidade. Pois, ao mesmo tempo que aparentou fragilidade e crise, dividiu o eleitor fragilizando os grupos opositores à família. No entanto, a divisão não conseguiu fortalecer o grupo na última década, mesmo tendo chegado ao Governo do Estado”, avaliou.

O jornalista Carlos Santos pensa diferente. Entende que o impedimento do surgimento de novas forças de fato foi provocado pela divisão, mas ele pondera que não foi algo planejado embora as relações sociais tenham se mantido e em alguns momentos os grupos tenham tratado de política.

“Há uma corrente de pensamento que aponta que eles se dividiram para somar. Não concordo. Mas tenho certeza e provas, que de lá para cá combinaram o jogo algumas vezes, para que nada forte pudesse ameaçá-los. Estarão juntos em algum momento lá na frente, por necessidade, mesmo que existam diferenças irreconciliáveis entre certos nomes”, prevê.

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Categoria(s): Política

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