Se antes era possível perceber manipulações escusas e difíceis de serem comprovadas, na prática essa manipulação se materializou há cerca de vinte dias, com a saída de seis associadas da referida associação.
Recapitulando, é importante ter em mente: a Acrevi é fruto do trabalho abnegado e persistente de Zefa Avelino, existe desde 1999, e que há cerca quatro anos a Prefeitura fechou uma parceira com a associação, limitando-se ao fornecimento de caminhões, combustível, motoristas e fardas (onde se pode ver em destaque a logomarca da prefeitura).
Que fique claro que a prefeitura não paga o salário dos catadores. Cabe lembrar também que esta parceria tem como pano de fundo a lei Nº 11.445, de 5 de janeiro de 2007 (Lei do Saneamento Básico), que em seu Art. 7o , incisos I e II, manda que o serviço público de limpeza urbana inclua a coleta e triagem para fins de reuso ou reciclagem.
Quanto à qualidade e ao planejamento da coleta seletiva na cidade, bem como à educação sócio-ambiental da população em relação à importância deste serviço, esta é uma discussão a qual voltarei em breve.
Mas, voltando ao foco deste texto, a saída das associadas configura uma situação complicada para a Acrevi, e se deu em circunstâncias no mínimo estranhas, para não dizer, suspeitas.
Em primeiro lugar, o desligamento destas mulheres prejudica um dos pressupostos para a liberação do financiamento, que exige um número mínimo de 100 cooperados para justificar o investimento do BNDES. Apesar dos esforços de unir os catadores em torno de uma cooperativa única, os associados da ASCAMAREN, por exemplo, não quiseram aderir à cooperativa da ACREVI, já criada por exigência do edital.
Devido a isso, Zefa procurou a adesão de cooperados catadores individuais e ainda assim conseguiu ampliar o número de cooperados de 20 para 85. Diante dessa dificuldade, estipulou-se a meta de se atingir de 100 cooperados. Mas, a saída recente destas seis cooperadas, abre um novo e lamentável capítulo nesta história.
Em segundo lugar, além deste fato ter acontecido logo após à premiação que Zefa e a Acrevi receberam do Sebrae estadual, há outros aspectos que merecem reflexão. Um deles é que as associadas que saíram por decisão própria, o fizeram porque foram questionadas em reunião registrada em ata, sobre o fato de estarem levando para casa e vendendo “por fora” diversos materiais recolhidos nos trajetos da coleta seletiva.
As mesmas foram advertidas na reunião que todo e qualquer material recolhido durante a coleta pertence à associação conforme regras do estatuto associativista que prevê a divisão dos lucros auferidos entre todos os associados. As mesmas justificaram que tinham “o apoio da Prefeitura” para tais atos, e inclusive teriam levaram os referidos materiais (geladeira e TVs doadas pela população) com o próprio caminhão cedido pela prefeitura para a coleta seletiva.
Ora, com que direito e com que objetivo a Prefeitura iria se ingerir nos negócios da Acrevi, uma entidade independente? É estranho também que as associadas que saíram tenham se queixado ao Secretário de Serviços Urbanos, Alex Moacir, que até o presente momento não tomou nenhuma atitude no sentido de promover uma reconciliação ou reaproximação.
“O Alex recebeu as mulheres, e não chamou a diretoria da Acrevi para esclarecer a situação. Nem sequer telefonou,” disse Ozelita Pereira da Silva, vice-presidente da ACREVI.
O que existe agora é o um “disse-me-disse”, a famosa fofoca que, assim como a fumaça, indica que há fogo em algum lugar, tornando o clima tenso na Acrevi.
Além de um dos três caminhões da coleta não ter aparecido por vários dias na associação, a história que se conta é que a prefeitura vai montar uma nova associação de catadores com essas seis integrantes (que, diga-se de passagem, foram recusadas na Ascamarem), e mais: que estas irão trabalhar nos mesmos trechos e bairros destinados para a Acrevi.
“Com a divisão, vai piorar a situação da gente, porque pelo que entendi, os mesmos bairros que a gente faz, elas vão fazer também. Eles (a prefeitura) dizem que a gente não esta fazendo a coleta direito, então vão passar para elas. Ora, se a gente depende de quantidade de material para ganhar o nosso sustento, e se a prefeitura não paga nosso salário, a gente tem todo o interesse em coletar o máximo possível. Então alguma coisa esta errada,”opinou Maria Antonia da Costa Silva, a Toinha, que é tesoureira da Acrevi.
Ela veio do lixão e esta na associação há seis anos.
Em terceiro lugar é de se estranhar a ausência de representantes da Prefeitura nas reuniões que vêm sendo realizadas no Banco do Brasil em Mossoró, lideradas pelo gerente geral da agencia Eugenio Pacelli, e com a presença de diversos empresários interessados na questão sócio-ambiental. Citamos Roneide Elias Dantas e Valderedo Roberto da Silva Júnior; professores e doutores que voluntariamente têm-se dedicado para a viabilização do projeto do Centro de Triagem de Resíduos Sólidos como Jacinta Malala, José Ivanaldo Xavier, Ramiro Camacho, e Joana D’Arc Davi de Carvalho Rodrigues da UERN, e de Everkley Magno, da UnP.
O projeto em questão integra o Plano de Desenvolvimento Regional Sustentável (DRS) do governo federal.
A pergunta que se faz é: a quem interessa a desunião dos catadores em Mossoró, se no Brasil inteiro estão se unindo, e o governo federal ao instituir a Política Nacional dos Resíduos Sólidos incluiu a coleta seletiva e os catadores entre os pilares da nova lei?
Larissa Newton é jornalista
Isso tudo é lamentável, pois como moradora de Mossoró e pessoa interessada e preocupada com o meio ambiente. Já venho tentando participar da coleta ha alguns anos sem muito sucesso !!!
Quando morava no Santo Antonio, ao ver as placas em algumas ruas indicando a rota da coleta seletiva, prontamente liguei pra prefeitura e ficaram de mandar um caminhão… Na primeira semana, foi ótimo, foram pontuais na coletas, porém a partir daí, eu ficava ligando “implorando” que o caminhão viesse buscar os materiais que eu havia separado do meu próprio lixo doméstico e muitas vezes recebido dos vizinhos, com os quais eu falei. Infelizmente, depois de muitas ligações e muitas promessas de busca sem resultado, cansei e lamentando, deixei pra lá.
Agora, morando no Abolição I, novamente, me deparei com um caminhão fazendo coleta, parei, conversei com o motorista que me deu o telefone do responsável, já não era mais da prefeitura, era de uma associação !!! Me animei achei que fosse poder de fato participar sem problemas… Porém, depois de algumas coletas, simplesmente pararam de vir, já liguei muitas vezes pro responsável, porém telefone fora de área de cobertura.
Estou com quase dois tambores cheios de material para coleta e nada de busca. Não quero simplesmente jogar fora no lixo todo o material que separei por mais de um mês… Não quero jogar na natureza aquilo que levará décadas pra ser consumido ou incentivar com mais materiais o trabalho dos catadores que vivem arriscadamente nos lixões.
Então resolvi procurar na net; foi quando li o artigo sobre esses problemas que estão acontecendo.
É vergonhoso ver como as pessoas do nosso país e estado são mal educadas e gananciosas. Como uma coisa que pode beneficiar á todos e principalmente á natureza, é tratado banalmente, sempre com muitos interesses em lucros e descaso dos líderes políticos.
Fica aqui parte do meu desabafo com as questões sérias que são banalizadas.
Alenilde Granja