Por Paulo Menezes
Há um tempo já bem distante, eu fazia parte de uma turma alegre e divertida com a qual me reunia sempre em finais de semana, na residência de Tereza Leite, para jogarmos um carteado que varava a noite. Na verdade, quase sempre entrava pela madrugada.
Tereza, a anfitriã, sempre dizia que teria “uma boa morte” se ela acontecesse numa mesa de pif-paf. Que seja feita sua vontade. Amém! Foi num final de tarde desses que seu desejo foi atendido plenamente, como se obedecesse a um enredo teatral.
O jogo se desenvolvia normalmente, quando Tereza com as nove cartas na mão, se inclinou levemente sobre o pano verde e sem nenhum grito de dor deu o último suspiro, após o infarto fulminante.
Como em algumas tragédias, às vezes ocorre o lado cômico.
Auri Leite, que fazia parte da jogatina e era perdedora contumaz, logo perguntou aos participantes:
– E agora? Quem vai prestar contas? Quem vai me pagar as fichas?
– Mas amiga, num momento desse você vai pensar nisso? – questionou um dos presentes.
Sem pestanejar, Auri retrucou:
– Eu sou muito mole mesmo! No dia que eu estou ganhando uns trocados aí acontece isso.
Nessa ocasião, eu não estava presente e quando tomei conhecimento da perda de uma amiga tão querida, logo me dirigi ao velório. Ao chegar, a primeira pessoa que encontrei foi Lenilton Moreira Maia, companheiro sempre presente no jogo das pintadas e perguntei sobre o fatídico acontecimento:
– Como foi isso, Lenilton?
Encobrindo a boca com a mão em concha, ele encostou a cabeça em meu ombro com ar pesaroso e desfiou a narrativa para o campo da jogatina, o que verdadeiramente não era o foco de meu interesse:
– Tava armada num par de nove com um dez encostado, toda enramada…
Bem, não me contive o suficiente. Com enorme esforço administrei um riso travado titanicamente por lábios dobrados e presos entre os dentes.
Enfim, a mesma tragédia gerava outro quadro cômico.
Nossa amiga Tereza Leite há de entender e deve estar também dando boas gargalhadas.
Paulo Menezes é meliponicultor e cronista
Kkkkkkkkkkkkkk
Tô rindo, não pela morte da senhora Tereza Leite, mais pela narrativa.
Boa!