Por Martha Medeiros
Entra geração, sai geração e os pais seguem dando os mesmos conselhos.
Mamãe para sua menina: “Filhinha, dê-se o valor. Não saia com qualquer um, esses garotos só querem se aproveitar de você”.
Papai para seu menino: “Filho, não se amarre tão cedo. Faça muita festa, namore todas, aproveite a vida”.
Moral da história: toda menina é carniça, todo homem é urubu.
Não olhe agora mas teias de aranha estão formando-se no teto. Estou pra ver papo mais obsoleto.
Mesmo que as mães estejam hoje menos caretas e já não destilem tanto preconceito, ainda assim paira no ar a idéia de que, quando um homem e uma mulher vão para os finalmentes sem haver um compromisso formal, ele está tirando uma lasquinha da pobre infeliz, que está ali sendo iludida, usada, consumida.
Tirem as crianças da sala!
O que ninguém contou para o urubu é que a carniça não está morta: ela também tem fome e sacia-se plenamente com essa refeição.
Pelo amor de Deus, as mulheres aproveitam também!
A diferença é que a gente não sai com um cara só para ter assunto com as amigas no dia seguinte: as mulheres é que são as verdadeiras comem-quietas.
Não acredito quando ouço uma garota dizer que fulano se aproveitou dela. Como assim, ela estava desmaiada?
Algumas mulheres ainda têm esse vício de achar que uma relação sexual que não evoluiu para o namoro sério ou para o casamento é uma espécie de estelionato: o cara furtou sua ilusão de amor.
Essa garota até pode ter caído numa cantada mal-intencionada, mas ainda assim, durante o bem-bom, ela não estava fazendo nenhum sacrifício: trocou carinho, sentiu prazer, ficou satisfeita.
Por que só o homem se aproveita? Aliás, por que esse “se” pejorativo, como se o ato sexual fosse praticado por um só?
Homens e mulheres apenas “se” aproveitam quando “se” masturbam, amando-se a si próprios. O resto é em proveito dos dois.
Ninguém deve se entregar para uma pessoa em troca de garantias. Uma relação sexual não é um passaporte para o altar, é apenas uma transa, que pode virar duas, três, trezentas, ou pode permanecer filha única.
Nenhuma mulher pode dizer que alguém se aproveitou da sua ingenuidade depois de ela ter consentido tirar a roupa. Se tirou, que aproveite também.
Quem acha que o prazer é um direito apenas dos homens precisa voltar para os anos 70 e recuperar as aulas perdidas.
Martha Medeiros é cronista, jornalista e escritora
Faça um Comentário